João Albuquerque, eurodeputado do PS, natural do Barreiro, promete “conjugação do trabalho político europeu com a defesa dos interesses da população do distrito de Setúbal”

João Albuquerque, de 35 anos, natural do Barreiro, distrito de Setúbal, é um dos mais jovens deputados europeus e quer usar o mandato para se focar nos desafios das gerações mais novas, nomeadamente as questões de emprego e habitação e ainda os desafios ambientais, os problemas das pescas, um setor importante para a nossa região. O número 11 da lista do PS às últimas eleições europeias, assumiu o cargo em meados de setembro, após a saída de Manuel Pizarro do Parlamento Europeu para assumir funções como ministro da Saúde. Licenciado em Ciência Políticas e Relações Internacionais, na Universidade Nova de Lisboa, e mestre em História, Defesa e Relações Internacionais, pelo ISCTE-IUL, João Albuquerque foi presidente da Juventude Socialista Europeia e nos últimos 15 anos, trabalhou nas mais diversas áreas, tendo mais recentemente sido adjunto do ministro da Administração Interna e assistente do vice-presidente do Parlamento Europeu. O novo eurodeputado faz parte da Comissão de Emprego e Assuntos Sociais.

Florindo Cardoso


Setúbal Mais – Como está a ser a sua experiência no Parlamento Europeu?
João Albuquerque –
Assumir o mandato de deputado ao Parlamento Europeu é um enorme privilégio e uma oportunidade a que procurarei corresponder com muito trabalho e empenho. As áreas de trabalho que assumi são muito variadas e vão desde as pescas, um tema muito importante para o distrito de Setúbal, ao emprego e direitos sociais, passando pelo ambiente e a cultura, onde sou o único deputado português. Felizmente, já tinha tido a oportunidade de conhecer o Parlamento Europeu de diferentes perspetivas e em outras funções, o que permitiu agilizar este período de transição. O foco agora é na conjugação do trabalho político europeu com os interesses e as prioridades e necessidades da população do distrito de Setúbal. Esse será sempre o meu compromisso ao longo deste mandato.

Setúbal Mais – Sendo um dos eurodeputados mais jovens, qual a mensagem que dirige aos jovens portugueses neste momento tão conturbado?
João Albuquerque
– O momento que vivemos é realmente muito difícil para todos. Os últimos anos foram marcados por diversas crises socioeconómicas, sendo a pandemia da covid-19 e a invasão da Ucrânia por parte da Rússia as mais marcantes. Mas, como sempre, estas crises afetam de forma mais significativa os mais jovens, que tendem a encontrar-se entre as camadas de população mais vulnerável.
Da perspetiva da população mais jovem, olhar para o mundo que nos rodeia pode ser um exercício angustiante. As incertezas que temos sobre os reais impactos da crise climática, a precariedade do mercado laboral e a elevada taxa de desemprego ou os níveis elevadíssimos de doenças mentais – com forte incidência entre os mais jovens – obriga-nos a procurar soluções que incidam sobre estas áreas. A principal preocupação que tenho neste momento é a de procurar garantir que a crise energética que vivemos, e que é de difícil resolução, não represente um retrocesso nos compromissos ambientais, assumidos pela União Europeia e pelas principais economias mundiais. Para além disso, temos de garantir que a transição energética vem acompanhada de instrumentos que permitam apoiar as pessoas mais vulneráveis e não agravem a sua já frágil situação económica. O mesmo para a criação de condições de trabalho dignas e de aumento das ofertas de trabalho para os mais jovens. E, por fim, continuar a trabalhar no sentido de garantir uma estratégia europeia direcionada para a saúde mental. Temos de reconhecer que os problemas do foro mental e psicológico precisam de tanta atenção do que aqueles que tradicionalmente reconhecemos na área da saúde.


Setúbal Mais – Aquando da sua tomada de posse focou o emprego e a justiça social como áreas prioritárias. O que pretende fazer?
João Albuquerque
– Fazendo parte da Comissão de Emprego e Assuntos Sociais, naturalmente que a preocupação com o acesso ao mercado de trabalho e a garantia de condições de trabalho dignas serão uma prioridade. Um exemplo muito concreto é a investigação que vinha realizando na área do trabalho remoto. Não podemos permitir que as oportunidades e flexibilidade que o trabalho remoto trazem sejam utilizadas pelo mercado para diminuir os direitos dos trabalhadores ou aumentar o controlo por parte dos empregadores do seu trabalho.
Para os mais jovens, o acesso ao mercado de trabalho dá-se, frequentemente, através da realização de um, ou mais do que um, estágio profissional. É inadmissível que se continue a permitir que os estágios não sejam remunerados e que os jovens se perpetuem num mercado de trabalho precário. O grupo socialista no Parlamento Europeu tem trabalhado incansavelmente para garantir a proibição de estágios não remunerados e, também, para a introdução de um mecanismo europeu de salário mínimo.
Mas, ao emprego juntam-se outras prioridades que passam pela Comissão de Emprego e Direitos Sociais. Um dos principais entraves à emancipação jovem hoje em dia é o acesso a habitação digna e a preços acessíveis. Não sendo esta uma área de competência da União, não deixa de ser importante, e também possível de implementar, a elaboração de orientações e recomendações para a regulação do mercado habitacional na Europa e para a criação de condições que permitam um acesso justo por parte dos mais jovens. Esta será uma área a que pretendo dedicar uma parte importante da minha ação política por sentir que é das que mais condiciona a independência dos jovens e, também, a oportunidade de constituírem família. Habitação digna, acessível e sustentável – serão as três reivindicações chave e que orientarão o meu trabalho no Parlamento Europeu nesta área.