Pedro Marques, vice-presidente do Grupo dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu: “É um trabalho incessante, mas muito gratificante”

Pedro Marques, de 46 anos, natural do concelho do Montijo, distrito de Setúbal, foi eleito em maio de 2019 eurodeputado, como cabeça de lista do PS. Desempenha as funções de vice-presidente do Grupo dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu desde dezembro de 2020, tendo sido reeleito para as funções em dezembro de 2021. Os pelouros da sua responsabilidade incluem Assuntos Económicos Monetários e Externos. Pedro Marques, economista, foi vereador do município do Montijo, deputado, secretário de Estado da Segurança Social e ministro do Planeamento e das Infraestruturas. Em entrevista ao Setúbal Mais, faz um balanço positivo de quase quatro anos de mandato, da importância da União Europeia no combate ao covid-19 e no papel de apoio à Ucrânia. O eurodeputado deixa uma mensagem aos jovens para participarem ativamente na sociedade e aos portugueses quer dar um sinal de união porque “juntos somos mais fortes”.

Florindo Cardoso


Setúbal Mais – Como está a ser a sua experiência no Parlamento Europeu e o balanço que faz deste mandato que termina dentro de um ano?
Pedro Marques
– Quando fui eleito já tinha a percepção que Parlamento Europeu (PE) era um dos centros políticos da Europa. Confirmei essa ideia muito rapidamente, ao mesmo tempo que verifiquei que temos, em Portugal, uma ideia do PE ser uma estrutura política longínqua, que toma umas decisões que têm implicações remotas nos países da União Europeia. Não é assim, este mandato serviu para ter a noção que em Bruxelas, no PE, na Comissão Europeia e no Conselho, muito se decide em relação ao presente e ao futuro de todos nós. De qualquer forma, este mandato não seria como foi e como está a ser, se não tivéssemos tido uma pandemia de dimensões inimagináveis e, mais recentemente, uma guerra na fronteira mais próxima da Europa. Em síntese, estão a ser quatro anos de muitos acontecimentos de dimensão mundial. Pessoalmente, têm sido anos de muito trabalho, num contexto em que as minhas responsabilidades me obrigam a uma busca permanente de soluções e propostas políticas que juntem diferentes nacionalidades, sensibilidades e orientações políticas. É um trabalho incessante, mas muito gratificante.

Setúbal Mais – Qual a mensagem que dirige aos jovens portugueses neste momento tão conturbado?
Pedro Marques –
Aos jovens, a minha mensagem fundamental é que participem. Participem na vida política, na vida associativa, na vida da comunidade estudantil. Participem e intervenham. Penso que os jovens nos dão uma visão e uma forma de olhar para a realidade essencial para alicerçar as decisões e as propostas políticas. Especialmente, como diz, num momento tão conturbado como este que vivemos. Vou dar um exemplo concreto: ao contrário do que se possa pensar, a UE não tem estado, nem desatenta, nem imóvel em relação ao combate que temos de travar contra as alterações climáticas. Ora, aqui está um assunto que os jovens tomaram como seu. Vão saber o que é o Green Deal. Vejam quais são as propostas que estão “em cima da mesa” para fazer face à transição energética. Dêem opinião, discutam, concordem discordem.

Setúbal Mais – Passou um ano sobre a guerra na Ucrânia. Como vê o papel da União Europeia neste conflito?
Pedro Marques
– Além da pandemia, esta guerra absolutamente inexplicável, é o outro acontecimento de dimensão mundial que marca estes últimos anos. Julgo que a União Europeia (UE) teve um papel fundamental neste último ano. Primeiro porque, ao contrário do que julgava Putin, a Europa não vacilou na condenação à invasão da Ucrânia, não hesitou em rapidamente decretar sanções contra a Rússia e não esmoreceu quando percebeu que era fundamental agir em bloco para auxiliar, por um lado, o esforço de guerra ucraniano, por outro os europeus, que se viram confrontados com aumentos explosivos dos preços da energia e por uma inflação que ainda nos aflige. É certo que a UE podia e devia ter ido mais longe no apoio às pessoas que estão sufocadas, no limite ou para lá das suas capacidades de suportar este escalar dos preços. Mas, apesar dos apoios serem aquém do possível, é certo que a UE mostrou ter aprendido com os tremendos erros que foram cometidos na reação à crise das dívidas soberanas – falo da austeridade cega de então. Deu uma boa resposta na reação à pandemia, à guerra reagiu bem e a tempo. Resta-nos continuar este caminho.

Setúbal Mais – Visitou recentemente os Estados Unidos. Como decorreu essa viagem?
Pedro Marques
– Regressei dos Estados Unidos com uma sensação estranha, com sentimentos antagónicos, mas, por estranho que possa parecer, complementares. Por um lado, ouvi vários congressistas e a antiga Speaker do Congresso, Nancy Pelosi, comprometidos com uma luta sem tréguas contra o populismo que “tomou de assalto” o Partido Republicano, o que nos dá esperança de não vermos Trump, ou um qualquer sucedâneo, de regresso à Casa Branca; por outro lado, voltei preocupado com a visão que o Secretário-Geral das Nações Unidas tem sobre o desenrolar da guerra. António Guterres, recebeu-nos, simbolicamente, no dia 24 de fevereiro, ou seja, exatamente um ano depois da invasão da Ucrânia. E partilhou alguma “desesperança” em relação um desfecho rápido e sustentável para esta guerra. Não é uma boa sensação termos o SG da ONU com uma visão pouco otimista do futuro.

Setúbal Mais – A península de Setúbal viu reconhecida a criação da NUT II e III por Bruxelas, permitindo mais fundos comunitários para a região no próximo quadro comunitário. Como tem acompanhado este processo como eurodeputado?
Pedro Marques
– Sim, como sabem acompanho há anos o processo de criação da NUT II e III. Tenho de mostrar a minha satisfação pelo papel do Grupo Parlamentar do PS nesta decisão. E acompanho a expetativa dos Deputados do PS e do Governo, de podermos ter em conta a realidade da península de Setúbal já neste Quadro Comunitário.

Setúbal Mais – Qual a mensagem que deixa aos portugueses sobre a importância da União Europeia?
Pedro Marques
– Uma mensagem de esperança em relação à importância que a UE terá em relação ao que será o futuro da Europa. Quero recordar o seguinte: todos estamos recordados de como Mundo em geral, e a Europa em particular, combateram a pandemia. Em dado momento, quando tivemos garantias de vacinas fiáveis e viáveis, a UE comprou vacinas para todos os Estados-Membros. Dou sempre este exemplo: imaginemos a Alemanha, a França ou a Itália a lutarem, a competirem com Portugal na compra de vacinas. O que teria sucedido as populações dos países menos ricos da UE no acesso às vacinas contra o covid-19? Esta é a síntese da mensagem que quero deixar: com dificuldades, com debilidades e até com erros, a UE é, sem dúvida, importante, qualquer que seja o ângulo de análise. Porque há uma certeza: juntos somos mais fortes.