O Segredo é Amar

Joana Luísa da Gama, fez 100 anos no dia 28 de fevereiro. Assumo que os fez porque considero que estará viva até que a última pessoa a recorde.


Não tive o privilégio de a conhecer pessoalmente, assumo, em jeito de esperança, que nos possamos ter cruzado na Rua José Augusto Coelho, em Azeitão, eu menina, ela Mulher.


Hoje penso como teria sido interessante ouvir a sua história na primeira pessoa. Ouvir histórias de um tempo que não volta, ouvir uma história de amor que parece saída de um filme.


AMOR! Esta palavra que na pessoa de Joana Luísa da Gama assume uma força e em simultâneo uma serenidade extraordinária.


Em 1944 assume o namoro com Sebastião da Gama, disse-o em carta “Para mim é apenas aquele que eu sempre terei para companheiro da minha vida, é aquele que eu amo, nada mais, …”


Em jeito de proverbio popular assumo que se bem o disse, melhor o fez.


Dedicou a vida ao amor e manteve Sebastião da Gama como seu companheiro de vida.


Manteve-o vivo, na memória, no passado e na presença do futuro. Assegurou que as suas palavras viveriam mais do que a sua passagem terrena. Garantiu que o Homem e a sua obra vivessem além do seu tempo.


Será possível afirmar que viveu para que o poeta se mantivesse vivo? Para que fosse eternizado?
Não sei.


Imagino as horas de leitura dos rascunhos que Sebastião deixara. Imagino as horas que, num caminho sozinho, mas tão cheia de presença, lera as palavras do poeta amado com a certeza que lhes devia ser dado o direito e a liberdade de outras leituras.


Muitos podem considerar que foi um caminho solitário. Mas não me perguntem porquê, talvez por atentar que este amor parece saído de um filme, continuarei a acreditar que foi um caminho partilhado, de conversas a dois em que o amor se fez mensageiro.


Tinha 28 anos quando ficara viúva. 28 anos! Os tempos são diferentes, mas não consigo deixar de pensar no que fizera nos meus 28 anos. Nos sonhos, nos caminhos trilhados e nos inversos feitos nesse caminho.
Vivemos hoje numa sociedade em que ainda escutamos que atrás de um grande Homem está sempre uma grande Mulher. Discordando em absoluto de tal afirmação digo que, Joana Luísa da Gama é a prova, antes do tempo, que o caminho é feito lado a lado. Sem competição, sem ver quem vai atrás ou na frente. Joana Luísa viveu a dois, porque só assim se ama. Enalteceu o homem, a sua obra e não por consequência, mas por força motriz, enalteceu o amor.


E ainda que as palavras sejam de Sebastião acredito que muitas vezes, até em surdina terá afirmado “O resto conto depois; mas tão a sós, tão de manso que só escutemos os dois.”


Sónia Paulo, presidente da Junta de Freguesia de Azeitão