Joana Luísa e Sebastião da Gama: Tributo a um grande amor

Tive o privilégio de ainda ter privado, num ou noutro momento, com a Dona Joana Luísa da Gama. Recordo-me bem do que senti a primeira vez em que a olhei de perto e lhe falei. Estava ali, à minha frente, a mulher que foi o grande amor do poeta Sebastião da Gama e isso concedia-me uma emoção verdadeiramente sentida.


Mais tarde, quis o destino que eu viesse a presidir à Associação Cultural Sebastião da Gama. Foi nessa altura que vivi uma maior proximidade com muito do passado de Joana Luísa. Passei horas “revisitando” as suas recordações, o seu espaço, os seus livros, as fotografias espalhadas pelos móveis (que mostravam o Sebastião com amigos que tanto marcaram a sua curta vida), pequenos pedaços de pedra da Arrábida que ambos tanto amaram, as cartas que trocaram durante oito anos, (727 no total) arquivadas com todo o cuidado, os manuscritos, os poemas escritos em pequenos pedaços de papel e tantas outras coisas que “falavam” do (demasiado) curto caminho que juntos percorreram.


Difícil de descrever a emoção que senti ao tocar na fita e em algumas flores secas que estiveram por cima do corpo do jovem Sebastião no derradeiro momento da sua partida para o eterno.


Como eu passei a admirar aquela Senhora que viveu um amor tão bonito! Para ser a eleita de um homem com um coração de eterna criança, com apreço pelas coisas simples, um ser humano pleno de fé e humildade, tinha decerto as mesmas características de bondade e humanismo.


Foi certamente o facto de ter vivido um amor puro e por tão pouco tempo e motivada pelo vazio que ficou na sua vida após a morte do seu amor, que a impulsionou a dedicar os restantes anos (felizmente muitos) da sua vida, à nobre missão e doce tarefa de divulgar tanto do que Sebastião da Gama tinha deixado.


Na introdução do livro “Cartas I” publicado em 1994 (Edições Ática), escreveu: “Quando o Sebastião partiu, senti nitidamente que tinha uma missão a cumprir…”, e com que dedicação o fez!
Devemos-lhe, todos nós, admiradores de Sebastião da Gama, o privilégio de termos em mãos mais dos que os três títulos publicados em vida do poeta.


Essa riqueza cultural, esse conhecimento que nos permitiu, através do seu trabalho de divulgação do que Sebastião da Gama deixou disperso, leva-nos a sentir uma gratidão infinita e é este sentimento que reveste as paredes da Casa-Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama: um tributo a um grande amor. Para todo o sempre, obrigado Joana Luísa.


Alexandrina Pereira, poetisa e presidente da Casa da Poesia de Setúbal