Morreu figura carismática do Montijo: Dezenas de pessoas na despedida de Emídio Tobias

Emídio Augusto Tobias Júnior, que iniciou a sua carreira profissional como cabeleireiro, faleceu aos 92 anos. Era possuidor de um extenso currículo atingindo reconhecimento, a nível nacional e internacional, como decorador, manequim e estilista. Nunca esquecendo as suas raízes, foi criador artístico e impulsionador das festas e actividades de lazer na freguesia do Montijo. O seu funeral juntou várias dezenas de pessoas.

O popular Tobias, que morreu no passado dia 14 de Fevereiro aos 92 anos na cidade do Montijo, foi a enterrar no cemitério local, perante a presença de várias dezenas de familiares, amigos e autarcas. Desapareceu assim uma das figuras mais carismáticas da região pelo seu estilo de vida que marcou gerações, sobretudo nos anos 40, 50 e 60.

Iniciou a sua carreira profissional como cabeleireiro de senhoras, o primeiro do distrito de Setúbal e um dos quatro existentes em Lisboa naquela época. Um escândalo na altura tendo em conta que Montijo era uma terra de touros e toureiros e como tal não era apropriado para um homem ser cabeleireiro e modelo.

O seu salão estava situado no centro do Montijo (actualmente dirigido pela sua filha) e naquela altura até faziam fila à porta. Vinham senhoras do Montijo e dos arredores, incluindo de Setúbal.

A sua fama de cabeleireiro levou-o até Moçambique onde alcançou um enorme sucesso antes do 25 de Abril, penteando as senhoras da alta sociedade.

Autodidacta e possuidor de um extenso currículo, atingiu o reconhecimento nacional e internacional como decorador, manequim e estilista. Emídio Tobias faz parte da história da moda nacional e era o mais antigo modelo português. Desfilou nas  passerelles de Paris, Londres, Itália, Holanda e Portugal, com roupas de Yves Saint Laurent, Christian Dior e de outras grandes marcas. Chegou a ir a Paris duas vezes por ano, sendo a última já com a idade de 40 anos.

Destacou-se ainda na elaboração de vestidos com tecidos baratos, chegando a ganhar vários prémios nos concursos dos trapos, realizados no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. A modelo era a sua mulher, Natália já falecida, com quem casou aos 23 anos de idade, chegando esta a ser capa da revista do “Século Ilustrado”. Vestia ainda senhoras amigas e vizinhas nas grandes festas e no Carnaval.

Nos últimos anos, Emílio Tobias foi o “mestre” dos carros de Carnaval quando o Montijo apostava neste evento e mais tarde esteve também envolvido na criação dos carros carnavalescos de Pinhal Novo. Esteve ainda envolvido na decoração dos carros alegóricos da festa da flor do Montijo.

Emídio Tobias nasceu a 18 de Agosto de 1923, filho de um empresário da cortiça, numa família abastada. Aos 13 anos trabalhou numa empresa de camionagem. Viúvo, deixa uma filha. A sua casa é uma espécie de museu, com peças de arte de várias partes do mundo.

“Recordo (a vida), mas não é com saudade.  Devemos ter a consciência que os anos vão vindo, as faculdades vão faltando e eu tirei muito proveito do que vivi. Gostei e tive orgulho em tudo o que fiz”, disse numa entrevista em Setembro de 2015.

Nunca esquecendo as suas raízes, a Junta de Freguesia do Montijo atribuiu-lhe o prémio de prestígio “Barca Aldegalega”, em 2013, pela sua carreira de artística e ser impulsionador das festas e actividades de lazer na sua terra.

Para o presidente da União das Freguesias de Montijo e Afonsoeiro, Fernando Caria, Tobias foi “um homem generoso, amigo, dedicado e solidário” que “amava o seu Montijo e que era amado pelos montijenses”. “É com profundo pesar e com um sentimento de enorme tristeza que vemos partir o nosso Emídio Tobias”, refere o autarca, adiantando que “a ele, o Montijo muito deve. Desde as Festas de São Pedro ao Carnaval, Emídio Tobias foi um homem de grande amor e dedicação à sua terra e aos seus concidadãos”.

A Câmara Municipal do Montijo aprovou um voto de pesar. “O Montijo fica a dever-lhe a dedicação extraordinária às tradições da nossa terra. Nas Festas de São Pedro, no Natal, na organização do Baile da Chita, no Carnaval. (…) O contributo que deu foi notável, merecendo, por isso, de todos nós uma justa homenagem pelo talento, pela competência, pela generosidade, pela dedicação e pela entrega às tradições da sua terra”, afirmou o vice-presidente Francisco dos Santos.