“Árvore da Liberdade” perpetua valores do 25 de Abril

O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, considera que a “Árvore da Liberdade” perpetua os valores da revolução de 25 de Abril, que hoje celebra 50 anos, na inauguração da escultura de Ricardo Crista, no Largo José Afonso.

“Passamos a ter em Setúbal, a partir de hoje, um marco de homenagem à revolução que pôs fim a 48 anos de ditadura fascista. Aqui, no aço moldado pela criatividade do escultor Ricardo Crista, perpetuamos, na forma de um cravo com uma pétala por cada ano passado desde a revolução, os valores de Abril”, disse o presidente do município sadino.

André Martins afirmou que a peça “simboliza o vigor da força popular e revolucionária que irrompeu em Abril de 1974 por todo o país” e que fez com que muitos “agarrassem com as próprias mãos o futuro que sabiam que queriam construir”, sugerindo que se olhe para a “Árvore da Liberdade” como “o símbolo do que foi feito e do que falta fazer, como a homenagem aos que permitiram estes 50 anos de democracia, mas também como forte incentivo para se fazer o que falta fazer”.

Numa homenagem a Odete Santos, “mulher que sempre lutou com todas as suas forças por uma vida mais justa para todos”, citou a antiga autarca e deputada comunista para afirmar que “não existe democracia política quando há milhares de trabalhadores sem trabalho, quando há dez mil crianças com fome, quando é a emigração a única via de fuga de um Portugal injustiçado”.

André Martins lembrou que muitos setubalenses “sofreram, resistiram ou lutaram com e contra a ditadura e pugnaram, participaram e ajudaram a construir a democracia portuguesa”.

O edil recordou José Afonso, “um artista que adotou Setúbal, onde viveu, antes e depois do 25 de Abril, e onde foi sepultado após a sua morte, a 23 de fevereiro de 1987”, e ao qual a Câmara Municipal de Setúbal prestou homenagem em janeiro, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, com a instalação de um memorial na Praia da Saúde.

André Martins explicou que a celebração do cinquentenário da Revolução em Setúbal está associada José Afonso, pois o projeto recebeu o título “Venham Mais Vinte e Cincos”, que glosa a sua canção ‘Venham Mais Cinco’, “escolha inicial do Movimento das Forças Armadas para servir de senha à revolução, mas que acabou por ser substituída pela ‘Grândola’ por a sua passagem estar proibida na Rádio Renascença, onde a senha tinha de ser transmitida”.

Com seis metros de altura e cerca de uma tonelada e meia de peso, a peça de arte urbana criada por Ricardo Crista simboliza os 50 anos da Liberdade. O tronco da “Árvore da Liberdade” é construído em aço corten e rematado com 50 pétalas em aço inox, prateado, que formam um cravo.

Ricardo Crista agradeceu à Câmara Municipal de Setúbal “pelo desafio e pela confiança” e afirmou que o seu trabalho representa “um diálogo entre a arte e a política”, no qual “ambos os conceitos se entrelaçam num manifesto pela liberdade”

O artista referiu que a peça representa simbolicamente “uma flor que enraizou em 50 anos e deu lugar a uma árvore”, cuja elevação celebra o orgulho do povo português, e foi colocada no meio de outras árvores “para não ficar isolada e para ter maior força em comunidade”.

A cerimónia de inauguração da obra, inserida nas comemorações em Setúbal dos 50 Anos do 25 de Abril, no âmbito do projeto municipal Venham Mais Vinte e Cincos, contou com a atuação do grupo coral Vozes da União.