Francisco Guerreiro, eurodeputado: “Trabalhar em prol de uma União Europeia mais equitativa, justa e ecologista é uma grande responsabilidade”

O eurodeputado português, Francisco Guerreiro, faz parte do grupo Verdes/Aliança Livre Europeia, de 38 anos, é natural de Santiago do Cacém, concelho do distrito de Setúbal. Eleito em 2019 pelo PAN, de onde saiu em junho de 2020, por divergência política com a direção, tendo ficado como independente no Parlamento Europeu, Francisco Guerreiro, tem se destacado pelo seu trabalho em prol do ambiente, deixa uma palavra de esperança aos jovens. Está nomeado para os prémios Tágides de 2022, que distinguem personalidades que se destaquem na prevenção e na luta contra a corrupção em Portugal, em várias áreas da sociedade.


Florindo Cardoso


Setúbal Mais – Como está a ser a sua experiência no Parlamento Europeu?
Francisco Guerreiro
– De grande aprendizagem e trabalho. A possibilidade de todos os dias trabalhar em prol de uma União Europeia (UE) mais equitativa, justa e ecologista é uma grande responsabilidade, mas serve sobretudo de motivação para fazer mais e melhor. Tenho cumprido o programa eleitoral que foi estabelecido nas eleições de 2019 e batalhado para ser o mais transparente possível na execução do mandato. Por tal é com grande agrado que vejo esse reconhecimento ao ser nomeado para os prémios Tágides de 2022.

Setúbal Mais – Sendo um dos eurodeputados mais jovens, qual a mensagem que dirige aos jovens portugueses neste momento tão conturbado?
Francisco Guerreiro
– De esperança. Infelizmente nestes últimos anos vivemos demasiadas crises com o BREXIT, a crise sanitária da covid-19, com a consequente quebra económica, a crise climática e a guerra na Ucrânia. Porém é no seio da UE, garantindo mais solidariedade e ação conjunta, que conseguimos dar passos para uma sociedade mais pacífica e estável. Um bom exemplo disso é a criação dos programas de recuperação económica através da mutualização da dívida, da compra conjunta de vacinas, da criação de mais legislação de proteção ambiental, na (corrente) revisão das normas de bem-estar animal, etc. Estes e tantos outros projetos Europeus ajudam os Estados membros a garantir uma saída mais rápida destas inúmeras crises o que garantirá um futuro com mais possibilidades para os jovens. Porém ainda há muito a fazer.

Setúbal Mais – Tem focado no seu mandato sobretudo na defesa das causas ambientais e dos animais. O que destaca de conquistas já conseguidas?
Francisco Guerreiro
– Convém enquadrar que os Verdes/Aliança Livre Europeia apenas têm cerca de 10% da composição do Parlamento Europeu ao que acrescente ainda as relações institucionais com a Comissão Europeia e com o Conselho. Porém, e mesmo tendo estas dificuldades, destaco a árdua vitória que tivemos em plenário com uma emenda que retirava os apoios do sector tauromáquico na Política Agrícola Comum (PAC). Porém esta proposta foi bloqueada na negociação final da PAC. A criação e conclusão da Comissão Especial de Inquérito para o Transporte de Animais Vivos foi também um marco neste mandato e levou a Comissão a rever a legislação nesta área. Numa componente mais social destaco a realização do documentário “RBI: um caminho de liberdade”. Esta produção audiovisual, que incide nos impactos da implementação de um rendimento básico incondicional na UE, pode ser visto gratuitamente no site www.rbidoc.com.
Atualmente, e abrangendo a crise económica e energética, tal como a contínua crise ecológica, estou a trabalhar na posição do Parlamento Europeu para o orçamento da UE para 2023. As negociações vão agora para conciliação com a Comissão e Conselho e esperamos ter até ao final do ano um Orçamento que responda de modo ainda mais eficaz à inflação, à crise energética, ao apoio aos refugiados, ao relançamento das economias e à estabilidade geopolítica regional e mundial.

Setúbal Mais – Outro assunto relevante é a crise energética na Europa. O que poderá ser feito, na sua opinião, para atenuar os problemas de dependência energética em relação à Rússia e ajudar as famílias mais vulneráveis?
Francisco Guerreiro
– Os ecologistas há décadas que alertaram para a ratoeira de dependermos de combustíveis fósseis sobretudo de governos ditatoriais. O caminho a trilhar seria de uma independência energética baseada em fontes limpas e renováveis, no seio de um mercado comum de energia, e garantindo uma economia descarbonizada. Porém as forças políticas tradicionais, socialistas, sociais democratas e liberais, cederam aos grandes lobbies industriais, empresariais e energéticos o que nos trouxe a tragédia anunciada dos dias de hoje. Agora, e urgentemente, o que importa implementar é uma rápida diminuição do consumo de bens energéticos, através de uma poupança generalizada, da multiplicação de fontes energéticas limpas e renováveis, de modo descentralizado e focando na auto produção e consumo, tal como garantir que o financiamento público se centra nesta transição para modelos mais ecológicos de produção, distribuição e consumo de bens e serviços.