Bruno Frazão, ensaiador do Independente e da Baixa (Lisboa): “As Marchas de Setúbal já atingiram um patamar de qualidade muito alto”

Bruno Frazão é o ensaiador das marchas populares do Independente, em Setúbal, e da Baixa, em Lisboa. Sem em relação a Lisboa, Bruno Frazão elogia o apoio financeiro do município da capital às Marchas Populares de Lisboa, transformando o evento num forte cartaz turístico, em Setúbal deixa algumas críticas. “É desesperante de ano para ano querer fazer mais e melhor e o orçamento da Câmara Municipal de Setúbal não aumentar nem um cêntimo”, lamenta o ensaiador. Homem da cultura, nas suas várias vertentes, e ensaiador há duas décadas, manifesta preocupação pela diminuição do número de coletividades participantes nos últimos anos no concurso de Setúbal. Este ano são oito. Aponta soluções como maior apoio financeiro da autarquia sadina às coletividades e os pagamentos serem feitos a tempo e horas. Até porque considera que as Marchas Populares de Setúbal já atingiram “um patamar de qualidade muito alto”.

Florindo Cardoso

Setúbal Mais – Este ano tem um novo desafio nas Marchas Populares de Lisboa. Como está a decorrer o trabalho de ensaiador com a marcha da Baixa?

Bruno Frazão – Este ano, recebi diversos convites para participar nas Marchas Populares de Lisboa. Confesso que não estava à espera que a marcha de São Domingos de Benfica não entrasse em 2024 porque na verdade uma das penalizações que sofremos em 2023 não tem justificação e tanto eu como a responsável da marcha de São Domingos, fomos apanhados de surpresa. Eu estava preparado para continuar a ensaiar a marcha de São Domingos de Benfica. Infelizmente, a EGEAC (Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural) não resolveu nenhuma das penalizações contestadas por nós e excluiu a marcha de São Domingos. Certo é que os responsáveis pelo certame ainda não entregaram as taças aos vencedores da edição de 2023. Em relação ao convite da Baixa teve a ver com o facto de em 2022 ter sido responsável pela coreografia da marcha. Gostaram do meu trabalho. Lembro que nesse ano, apenas coreografei a marcha e agora deram-me um voto de confiança para criar um projeto global de minha autoria. Sou responsável por tudo com exceção das músicas que são da autoria de Artur Jordão e uma das letras é da Ester Correia.

Setúbal Mais- O que pode revelar da marcha da Baixa para este ano?

Bruno Frazão – Posso revelar que é uma marcha com um tema muito ligado à baixa da cidade e conta um pouco da história daquele local e da sua evolução ao longo dos tempos. Os padrinhos são a Zulmira Ferreira e o Hugo Mendes ambos comentadores do Programa da SIC Caras “Passadeira Vermelha”.

Setúbal Mais – As Marchas Populares de Lisboa são um importante cartaz turístico. Como analisa esta forte aposta da Câmara de Lisboa nas marchas e todo o apoio dado ao vosso trabalho?

Bruno Frazão – As marchas de Lisboa estão cada vez mais fortes e há, cada vez mais, um maior apoio financeiro ao evento por parte da Câmara Municipal de Lisboa. Isto, significa que há uma grande vontade em fazer das marchas populares a maior festa de Lisboa. Aqui há sempre todos os anos muitas coletividades a manifestar interesse em participar. Este ano, foram 26. Dá gosto trabalhar assim! E este grande investimento da Câmara de Lisboa tem facilmente o seu retorno pois são milhares de pessoas que assistem às Marchas Populares de Lisboa.

Bruno Frazão – Tendo as duas experiências de Lisboa e Setúbal, o que considera que seria importante na mudança de apoio às marchas populares da cidade para ultrapassar as dificuldades das coletividades?

Bruno Frazão – O apoio financeiro é o ponto chave. É desesperante de ano para ano querer fazer mais e melhor e o orçamento da Câmara Municipal de Setúbal não aumentar nem um cêntimo. As coletividades endividam-se para conseguir apresentar uma marcha decente na rua. O apoio financeiro de 14.500 euros, a cada coletividade, não dá para fazer face aos gastos de uma marcha se quisermos manter a sua qualidade. Alerto que este este ano, a autarquia ainda põe em cima das coletividades a responsabilidade dos direitos de autor que ainda não percebi bem o que isso quererá dizer. Temo que seja mais um pagamento a cargo das coletividades. Há marchas com autores registados na SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) como é o caso do Independente e ainda não percebi muito bem o que quer dizer o ponto n.º 3 do novo regulamento das Marchas Populares de Setúbal. Penso que não serei o único.

Setúbal Mais – Há alguns anos que não se consegue chegar às 10 marchas em Setúbal como antigamente. Isso deve-se a que facto, na sua opinião?

Bruno Frazão – Não se deve certamente à falta de ensaiadores pois eles existem. Este ano, não são ensaiadores Idaliano Batista, Nuno Rocha e João Bravo a título de exemplo. Estes já chegariam para fazer pelos menos 11 marchas. Deve-se certamente à incapacidade de algumas associações adiantarem dinheiro para iniciar o trabalho de preparação da marcha. No meu caso, começo sempre em janeiro a preparar o trabalho e neste momento a Câmara de Setúbal ainda não pagou nenhuma tranche do apoio financeiro às marchas populares de 2024. É efetivamente um problema. A autarquia alega que não consegue resolver o problema porque não tem disponibilidade financeira antes. Não sou da área financeira nem sei como se poderia resolver esse problema, mas certamente que haverá alguma solução. Depois é a incapacidade de algumas coletividades investirem pois nenhuma quer apresentar uma marcha de má qualidade. Até porque as marchas de Setúbal já atingiram um patamar de qualidade muito alto.

Setúbal Mais – O que pode revelar sobre a marcha do Independente?

Bruno Frazão – Que este ano será o meu último ano de ensaiador/criativo do Independente e das Marchas Populares de Setúbal. O foco está em concentrar-se noutras áreas que precisam da minha total disponibilidade. Comecei já no início deste ano a sair dos órgãos sociais do Grupo Desportivo Independente. Quero que 2024 seja um ano para descontrair e apresentar uma marcha muito divertida, alegre, arrojada e completamente fora da caixa daquelas que se adora ou se odeia. Ao fim 20 anos de ensaiador/criativo já podemos ter estas loucuras saudáveis!

Setúbal Mais – Está ainda ligado a outras marchas…

Bruno Frazão – Revelo que com muito orgulho sou autor das letras da marcha do Grupo Desportivo Setubalense  “Os 13” em Setúbal, onde também assino o figurino, do PIA II em Almada e de uma outra marcha em Lisboa que por agora não posso revelar o nome.

Setúbal Mais- Está sempre ligado a projetos teatrais, o que pode revelar para este ano da programação da Companhia de Teatro de Setúbal?

Bruno Frazão – Por enquanto o projeto teatral irá manter-se até ser possível, mas perspetiva-se um novo rumo com a entrada de uma nova direção artística no final de 2024 ou início de 2025. A Companhia de Teatro de Setúbal este ano já estreou o espetáculo “Do Hospício para o Bordel” em parceria com o Grupo Desportivo Setubalense “Os 13” e o Independente. Apresentámos três candidaturas à DGARTES (Direção-Geral das Artes), e iremos apresentar uma candidatura ao INATEL e independentemente dos resultados esperamos finalmente estrear o espetáculo por diversas vezes adiado “Querida mudei a barraca”.