Albano Almeida distinguido com Medalha da Cidade de Setúbal: “A música proporciona-me momentos muito felizes ao longo da minha vida”

Albano Almeida, de 61 anos de idade, residente em Setúbal desde criança, recebeu a Medalha da Cidade, na classe de Atividades Culturais, em cerimónia realizada a 15 de setembro, Dia de Bocage, pelo reconhecimento do seu trabalho em prol da música e da cultura. Desde sempre ligado à música, participou em vários projetos como a mítica “Banda do Andarilho”, tem uma coleção de instrumentos musicais que já foi exposta no Museu do Trabalho, onde é funcionário, e acompanha vários artistas, nomeadamente fadistas, em espetáculos na região.


Florindo Cardoso


Setúbal Mais – como se sentiu ao saber que ia receber a Medalha de Honra da Cidade, na classe de Atividades Culturais?

Albano Almeida – Foi muito especial para mim esta distinção por vários motivos. Primeiro, por conhecer bem o município de Setúbal, pelo facto de ter sido nesta autarquia a minha entrada no mundo do trabalho. Segundo porque desde que me conheço estive sempre ligado à cultura e às artes na nossa cidade, tendo crescido como homem ligado às referências mais importantes da arte e cultura setubalenses. Também pelo facto desta homenagem acontecer no 15 de setembro, Dia de Bocage e feriado municipal na cidade de Setúbal, e ser um dia especial para quem trabalha ligado à cultura na autarquia.


Setúbal Mais – Sente que é o reconhecimento do seu trabalho?
Albano Almeida
– É sempre gratificante receber um reconhecimento público pelas nossas atividades e trabalho em prol da comunidade. Ao longo dos anos cruzei-me com gente enorme como poetas, pintores, artistas do teatro e da música que me ensinaram a valorizar a cidade e as pessoas. Com eles participei nas mais diversas áreas, tais como o associativismo, a música ou o teatro, junto da comunidade e tentando que a cultura de um modo geral chegasse a todos.


Setúbal Mais – O Albano é um apaixonado pela música e tem acompanhado muitos fadistas ao longo dos anos. Como tem sido essa carreira e como vê o aparecimento de novas vozes?
Albano Almeida
– Comecei na música numa área diferente, mas não muito distante daquilo que pode ser o fado, a música tradicional portuguesa, onde participei em inúmeros projetos e tive a sorte de me cruzar com artistas enormes, sendo que o fado aparece um mais tarde, dando-me a possibilidade de descobrir grandes vozes, poetas de excelência e músicos consagrados com quem partilhei e aprendi saberes. Sobre as novas vozes no fado, elas representam o futuro do fado e o seu aparecimento é sinal que ainda haverá muita cultura portuguesa por mais anos, existem novas vozes, tanto em Lisboa como em Setúbal que dão continuidade com qualidade ao fado. A música proporciona-me momentos muito felizes ao longo da minha vida.


Setúbal Mais – Tem uma coleção de instrumentos musicais. Como tem sido a reação dos visitantes?
Albano Almeida
– Ao longo dos meus anos de vivência com a música e com artistas fui “juntando” instrumentos musicais tradicionais portugueses. Quando dei por mim tinha entre sessenta a setenta instrumentos musicais entre bombos, braguesas, bandolins, guitarras, violas e cavaquinhos. Fui convidado a realizar mostras e exposições dos mesmos, tendo realizado a última exposição no Museu do Trabalho Michel Giacometti, em Setúbal, entre 9 de julho e 25 de setembro. A exposição foi muito bem recebida e houve enorme fluxo de visitantes. Os instrumentos musicais expostos num museu, onde são visitados por centenas de visitantes são ótimos para os dar a conhecer e o público descobrir qual a sua sonoridade, a sua origem e como estão inseridos na comunidade.


Ligado desde sempre à música
Albano Almeida é um homem da cultura

Albano Almeida recebeu medalha da cidade de Setúbal


Albano Soares de Almeida, nasceu em Lisboa a 27 de setembro de 1961. Com quatro anos de idade, devido à profissão de seu pai, cozinheiro, radica-se com a família em Setúbal, na rua Arronches Junqueiro (antiga rua de S. Sebastião), onde viveu até 1997, frequentando a escola primária e a escola de formação musical da Sociedade Musical Capricho Setubalense e mais tarde a Academia de Música e Belas Artes Luísa Todi.

Na adolescência, por volta dos 15 anos de idade e em contacto com Dimas Soares, que a par da sua atividade profissional é um brilhante músico de acordeão, desperta nele o gosto pela música e começa a participar em formações de musicais, tendo participado na fundação de projetos como Grupo “Cantares”, “Banda do Andarilho” e “D’Traz da Guarda”; participa em diversos espetáculos por todo o país e no estrangeiro, bem como em programas televisivos.Ao longo destes anos colaborou na área musical com a “Ronda dos Quatro Caminhos”, Conjunto típico “Os Galés”, Titina, José Mário Branco e João Afonso. É também autor de músicas para teatro, destacando-se a colaboração com o TAS – Teatro Animação de Setúbal e com os grupos de Teatro Estúdio Fontenova e Teia. Desenvolve atualmente atividade musical na área do fado, participando no início de 2002 no relançamento do Concurso de Fado de Setúbal. É elemento fundador do grupo de guitarras e canção de Coimbra “Cetóbrigas Guitarras”. Ao longo dos anos coleciona instrumentos musicais tradicionais portugueses, sendo a coleção constituída por mais de sessenta instrumentos musicais.Desde 1997 tem colabora com o Rancho Folclórico de Praias do Sado, como executante na sua Tocata e dando aulas de instrumentos tradicionais, participando ainda em ações de divulgação dos instrumentos musicais tradicionais portugueses em escolas do concelho de Setúbal, fez parte do Conselho Técnico do Folclore Português para a Região da Estremadura. Entre 2007 e 2014 realiza diversas exposições sobre Instrumentos tradicionais portugueses no Concelho e Distrito de Setúbal. Desenvolve profissionalmente atividade como assistente técnico no Museu do Trabalho Michel Giacometti, em Setúbal.


Com o ator Carlos Rodrigues, realiza ações pedagógicas para a divulgação da poesia e da música portuguesa nas escolas do ensino secundário – Projeto à altura considerado de interesse cultural e pedagógico pelo Ministério da Cultura. Também em parceria com Carlos Rodrigues é autor de música para teatro, música infantil, música ligeira e marchas populares, tendo esta parceria resultado na Grande Marcha de Setúbal 2002.


Em março de 2013 é-lhe atribuída a Medalha de Mérito Cultural por ocasião dos 460 anos da Junta de Freguesia de S. Sebastião e a 15 de setembro de 2022 é agraciado com a Medalha de Honra da Cidade de Setúbal na classe de Atividades Culturais. A convite da Uniseti – Universidade Sénior de Setúbal dirige desde 2016 uma aula sobre “História do Fado”, onde são abordadas diversas temáticas, os fados tradicionais, as suas origens, as fórmulas e seus géneros poéticos, seus autores e artistas.