Sofia Moreira de Sousa, representante da CE em Portugal: “A Comissão Europeia quer estar perto dos cidadãos”

Sofia Moreira de Sousa é a representante da Comissão Europeia em Portugal. Recentemente participou no encontro nacional dos Europe Direct em Sesimbra. A responsável considera que os portugueses manifestam um “sentimento de pertença à União Europeia sempre foi valorizado pelos portugueses, de forma consistente, desde a adesão em 1986. Para Sofia Moreira de Sousa “Sesimbra acolheu mais de 60 jovens do país inteiro, que conheceram os Europe Direct das respetivas regiões e que trouxeram uma energia contagiante sobre como sensibilizar os cidadãos para o projeto europeu”.

Florindo Cardoso


Setúbal Mais – Qual a missão da representação da CE em Portugal?
Sofia Moreira de Sousa
– Divulgamos as iniciativas da Comissão e da União Europeia de uma forma relevante para a realidade portuguesa, que não é necessariamente igual à de outros países da União. À escala europeia, a Comissão tem Representações em todas as capitais da União Europeia e, no caso dos países mais populosos, existem igualmente algumas representações regionais com funções semelhantes. A existência das Representações da Comissão Europeia por toda a União é o reconhecimento da diversidade europeia. É o reconhecimento da necessidade de garantir que a comunicação com os cidadãos é feita de forma adequada a essas diferentes realidades. Mas a comunicação assenta no diálogo, e como tal tem de ser nos dois sentidos, pois o nosso papel é também o de informar as diferentes instâncias da Comissão na sede em Bruxelas sobre como é que as diferentes propostas e medidas são percebidas e recebidas ao nível nacional. Para isso é indispensável desenvolver formas de interação com os cidadãos, parceiros sociais e as autoridades nacionais contribuindo assim para informar o desenho das políticas europeias. Somos um dos elos de ligação na interação da Presidente da Comissão e de outros Comissários com Portugal, tentamos igualmente informar atempadamente os colegas que trabalham nas propostas políticas e legislativas sobre os desenvolvimentos políticos, económicos e sociais relevantes. A Representação da Comissão Europeia em Portugal tem como missão aproximar os cidadãos em Portugal às políticas da União Europeia e assistir a Comissão Europeia na interação com os diferentes interlocutores nacionais. Esta é a nossa missão tal como definida oficialmente. Na prossecução deste objetivo geral, eu vejo a Representação da Comissão como um intermediário, um dos elementos facilitadores do diálogo e da interação entre a Comissão Europeia e, no nosso caso, Portugal, os cidadãos e os residentes no país e os diferentes interlocutores nacionais, regionais e locais. procuramos chegar a todo o público. Em Portugal, este nosso trabalho é complementado pelos centros Europe Direct, uma rede de 15 centros espalhados por todo o país e que prestam informações e interagem com os cidadãos a nível regional e local.

Setúbal Mais – Quais os objetivos da Casa Europa, criada em 2008 e como tem sido a procura dos cidadãos por este serviço?
Sofia Moreira de Sousa
– A Casa Europa – assim designada desde janeiro de 2020 – é o serviço de informação e Comunicação da Representação da Comissão Europeia e também do Gabinete de Ligação do Parlamento Europeu em Portugal. Neste sentido, a Casa Europa constitui um dos principais canais de comunicação na divulgação das prioridades políticas da Comissão Europeia e da agenda política e legislativa do Parlamento Europeu para o público em geral. A Casa Europa está instalada em Lisboa, no mesmo edifício onde funciona a Representação da Comissão e o Gabinete do Parlamento Europeu. É um espaço aberto, que funciona como o primeiro ponto de contacto da União Europeia com os cidadãos e tem como objetivos satisfazer as necessidades de informação sobre a União, disseminar materiais informativos e reforçar o diálogo e o debate sobre a construção europeia através da realização de eventos, tanto a nível local como regional, tais como debates, sessões informativas, seminários e palestras, destinados a públicos mais específicos, envolvendo organizações parceiras e oradores externos. Durante o ano passado, por exemplo, a Casa Europa começou a recuperar o nível de atividade que tinha antes da pandemia abrangendo mais de sete mil pessoas, entre visitantes da Casa e cidadãos que procuram algum tipo de informação por mail ou telefone. Uma componente importante deste trabalho são as atividades com as escolas, em 2022 a Casa Europa recebeu 39 visitas escolares que envolveram quase mil estudantes e professores.

Setúbal Mais – Devido ao combate à covid-19 e à guerra na Ucrânia, pensa que os portugueses, aperceberam-se da importância de pertencer à UE?
Sofia Moreira das Sousa
– O sentimento de pertença à União Europeia sempre foi valorizado pelos portugueses, de forma consistente, desde a adesão em 1986. Isso tem sido demonstrado através de sucessivos estudos de opinião e pelo apoio maioritário a partidos pró-europeus. A pandemia teve um impacte social e económico brutal do qual estávamos a tentar sair quando a guerra voltou à Europa, na sequência da agressão da Rússia contra a Ucrânia. Penso que, embora de natureza muito diferente, ambos os acontecimentos mostraram que, unidos e concertados, os países da União Europeia podem ser muito mais do que a simples soma das diferentes partes. Sabemos que as consequências teriam sido muito mais duras se tivéssemos agido individualmente. A solidariedade europeia traduziu-se de uma forma muito concreta e tangível na forma como os países se organizaram para financiar a investigação e o desenvolvimento de vacinas num tempo recorde e, posteriormente, como se organizaram para adquirir e distribuir essas vacinas de forma proporcional. Tinha tudo para correr muito mal. Evitou-se o recurso à lei do mais forte. E além de providenciar o apoio necessários aos cidadãos europeus, a Europa ainda forneceu vacinas a outros países e apoiou muitos deles a desenvolverem capacidade de produção própria e capacidade de distribuição á população. Reforçamos de imediato a nossa contribuição à Organização Mundial de Saúde, para que esta agência das Nações Unidas pudesse continuar as ações de apoio a países mais vulneráveis na área da saúde. E consciente do impacto sanitário e socioeconómico da pandemia, lançamos com uma rapidez sem precedentes o Next Generation EU, o mecanismo de apoio financeiro que em Portugal se traduz no Plano de Recuperação e Resiliência – PRR. Da mesma forma, em relação à situação na Ucrânia, agimos de forma coesa e unida para apoiar a Ucrânia a defender-se, a acolher pessoas que fugiram da guerra e para pressionar a Rússia para que ponha termo à agressão ignóbil. E, na linha do que foi feito em relação à pandemia, reforçámos o apoio aos países da União para fazer face ao impacto da guerra, nomeadamente no plano social e energético. De acordo com o mais recente estudo de opinião conduzido pela Comissão Europeia, o Eurobarómetro, 61 por cento dos portugueses têm uma imagem positiva da União Europeia, o segundo valor mais alto entre os países da União, e três em cada quatro portugueses rejeitam a ideia de que Portugal poderia enfrentar o futuro melhor fora da UE. Ao mesmo tempo, 88 por cento dos portugueses consideram que a invasão da Ucrânia pela Rússia constitui uma ameaça à segurança da UE, e 79 por cento exprimem satisfação com a resposta da União, o valor é o mais elevado entre todos os países da União.

Secretário de Estado marcou presença no Encontro Nacional de Europe Direct em Sesimbra





Sesimbra recebeu encontro nacional dos Europe Direct:

“Foi um encontro motivador e energizante”


Sofia Moreira de Sousa faz um balanço positivo do encontro nacional dos Europe Direct que decorreu recentemente em Sesimbra. A responsável realça a importância destes organismos para a proximidade da União Europeia aos cidadãos.

Setúbal Mais – Esteve recentemente em Sesimbra no encontro dos Europe Direct. Qual o balanço que faz deste encontro?

Sofia Moreira de Sousa
– Foi um encontro motivador e energizante. Realizamos estes encontros de toda a rede uma ou duas vezes por ano e tentamos fazê-los de uma forma descentralizada. Desta vez foram os colegas do Europe Direct da Área Metropolitana de Lisboa os anfitriões e resolveram levar o grupo até Sesimbra. Discutimos as diferentes atividades que estamos a realizar, trocamos experiências, procuramos forma de criar sinergias naquilo que fazemos. No curto prazo estamos todos mobilizados para as celebrações do Dia da Europa, a 9 de maio. A Representação da Comissão, por exemplo, vai organizar um dia de eventos e atividades em Leiria. E já estamos todos de olhos postos nas eleições europeias do próximo ano, um grande momento de mobilização e discussão dos temas europeus. Desta vez o nosso encontro contou com a presença do secretário de estado dos assuntos europeus, Tiago Antunes, pois que temos objetivos comuns e faz parte da nossa missão estabelecer estas pontes e mobilizar diferentes atores nacionais em torno desses mesmos objetivos. A reunião de Sesimbra teve uma particularidade importante. Foi realizada de mão dada com a primeira reunião de alumni – antigos participantes – das cinco edições do #SummerCEmp, a escola de verão sobre assuntos europeus que a Representação organiza desde 2017. Sesimbra acolheu mais de 60 jovens do país inteiro, que conheceram os Europe Direct das respetivas regiões e que trouxeram uma energia contagiante sobre como sensibilizar os cidadãos para o projeto europeu. É também nestas coisas que se vê que juntos somos mais fortes. Esta foi também uma ocasião para a equipa da Representação, e também para o resto da rede Europe Direct, de conhecer um pouco melhor a realidade desta região, nas interações que mantivemos com a autarquia, na visita ao Museu Marítimo de Sesimbra e à Artesanal Pesca, um excelente exemplo da utilização dos fundos europeus, e na apresentação que tivemos do projeto Inovar Autismo.

Setúbal Mais – Qual a importância dos Europe Direct espalhados pelo país?
Sofia Moreira de Sousa
– A Comissão Europeia quer estar tão perto quanto possível dos cidadãos. A Representação está sediada em Lisboa, mas representa a Comissão em todo Portugal, daí o nosso objetivo de descentralizar as nossas ações tanto quanto possível, tal como acabamos de fazer em Sesimbra. A rede de centros Europe Direct complementa a missão da Representação ao assegurar uma presença espalhada por todo o país, de Norte a Sul e também nas ilhas. Além disso, os centros estão instalados nas chamadas entidades de acolhimento, que em alguns casos são comunidades intermunicipais, ou institutos politécnicos. No caso da Área Metropolitana de Lisboa, o Europe Direct funciona na Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal, a ADREPES. Ou seja, são entidades que têm um conhecimento único da realidade local e regional em que operam, com uma proximidade com os habitantes da região e a respetiva sociedade civil que são uma preciosa mais valia neste esforço conjunto de aproximar a Europa dos cidadãos. A presença do secretário de estados dos assuntos europeus no encontro de Sesimbra e a vontade do governo em estreitar laços com esta rede atesta bem a relevância da mesma.