Sebastião Fortuna, uma pessoa que sonha e planta

Na região de Setúbal quem não conhecerá o Sebastião Fortuna? Entre o muito que realizou, sobretudo, em prol do desenvolvimento económico e cultural do concelho de Palmela, duas das suas artes estenderam-se à Região de Setúbal e até para além dela.

Refiro-me à azualegeria e a peças em barro artesanais que passaram a ser, não sou um lugar de aquisição de objetos confecionados em barro, como um destino cultural para muitos alunos e cidadãos portugueses e de outras nacionalidades. Com um impacto menor, mas também com o mesmo objetivo, contribuiu para o crescimento e difusão da saborosa fabricação de queijo, boa parte deste produto conhecido como “Queijo de Azeitão”, mas cujas ovelhas e cabras – boa parte delas – pastam por terras da Quinta do Anjo. Com estas atividades criou postos de trabalho, gerou riqueza monetária, gastronómica e cultural, mas não enriqueceu em termos financeiros.

Muito do que fez, começou por serem sonhos com olhos abertos, mas com muitos a classificá-los de vãs ilusões e, até mesmo, de tontarias. Soube de alguns projetos que não chegou a realizar por não estarem dentro dos parâmetros determinados por um sistema que prefere acomodar-se às seguranças que detêm, a correr riscos que a criatividade sempre transporta consigo. Até o seu modo de falar, facilitado pelo sotaque quintanjense, é tão convicto e direto que não favorece o acolhimento por parte de quem se sente mais confortável com o designado “politicamente correto”.


Conheci Sebastião Fortuna no contexto da Igreja Católica. Nunca tivemos um relacionamento muito próximo. Contudo, impressionavam-me sempre as suas intervenções. Apesar das limitações que as contingências da Natureza lhe impõem, continua a direcionar o que diz para o reconhecimento das suas fragilidades humanas e cristãs, batendo primeiro com a mão no seu próprio peito (nem sempre é assim com muita outra gente), mas reclamando maior coerência para si e para os demais, entre os valores humanos e cristãos, que se apregoam facilmente, mas que se torna mais difícil conciliá-los com os modos de proceder quotidianos. No mínimo, pedia aos católicos que nunca omitissem a sua fé fossem nos lugares mais hostis ou com as pessoas o mais adversas possíveis à crença em Deus ou, apenas, ferozes adversárias da Igreja. Assim continua a ser. Assume o seu lugar de militante com determinação não permitindo que lhe seja posta em causa o seu direito de participar. Mesmo que o tenha de fazer fora de estruturas eclesiais. É interessante, para não dizer, quase sobrenatural, como contínua com as mesmas preocupações, o mesmo fulgor, apesar das menores capacidades de discernimento que o avançar da idade traz e as agruras da vida estejam a pesar mais.


Entendi partilhar este meu sentir sobre um cidadão, cujo modo de ser, não se encontra com vulgaridade, a propósito de ter participado na apresentação de um livro da autoria da amiga e grandiosa poetisa Alexandrina Pereira. O livro tem fotos de Quadros pintados por Sebastião Fortuna cada um acompanhado de um poema da autora. Tratava-se de uma homenagem e de um momento solidário. Esperava maior participação. Desconheço a extensão dos convites, mas identifiquei apenas três pessoas pertencentes à Igreja diocesana.


Sebastião Fortuna, ao longo da sua vida, experimentou o que Fernando Pessoa afirmou: O Homem sonha, Deus quer e a Obra nasce. Viva Sebastião Fortuna!

Por Eugénio Fonseca

Presidente da Confederação Portuguesa do Voluntariado