Francisco Macheta, presidente da ARCOLSA: “Palmela é o território de excelência do queijo de Azeitão”

Francisco Macheta, presidente da ARCOLSA – Associação Regional de Criadores de Ovinos Leiteiros da Serra da Arrábida espera a visita de 15 mil pessoas no Festival Queijo, Pão e Vinho que vai decorrer de 1 a 3 de abril, em S. Gonçalo, freguesia da Quinta do Anjo e concelho de Palmela. O responsável salienta que todo o queijo de Azeitão é já produzido em território de Palmela, em quatro queijarias. Este ano deverá entrar em funcionamento a quinta queijaria. Francisco Macheta revela que os aumentos da energia, combustíveis nas matérias primas causou um impacto de 30 por cento. Elogia a união e resiliência do setor na região que permitiu, face às dificuldades da pandemia, ultrapassar grande parte dos problemas e manter a produção.

Florindo Cardoso


Setúbal Mais – Qual a expetativa para esta edição do Festival Queijo, Pão e Vinho?
Francisco Macheta
– Apontamos sempre para o mesmo valor de anos anteriores, de 15 mil pessoas. O nosso principal “inimigo” é a chuva e mesmo nos anos de mau tempo, nunca tivemos menos de 15 mil visitantes. Essa é a nossa expetativa para este ano. Apercebemos que há um grande entusiasmo das pessoas para visitarem o festival, temos tido um ótimo feedback das pessoas bem como da parte dos produtores. A entrada mantém o preço de um euro, embora seja um valor simbólico, contribui para apoiar o aumento dos custos de 70 a 80 por cento com a organização, contribuindo assim para o equilíbrio do nosso orçamento.


Setúbal Mais – A participação de outros produtores de queijos em Portugal, pela primeira vez, vai enriquecer o festival?
Francisco Macheta
– Sim. Todos nós representamos Portugal. Esta presença vai dar a oportunidade, a quem nos visita, de provar e comprar esses queijos e isso será uma mais valia para nós e sobretudo para os visitantes. Temos um público muito específico que é conhecedor do que vem comprar e o facto de termos produtos com origem de denominação protegida vai criar maior grandeza para o festival. É importante apoiar os produtores, porque alguns deles, principalmente os que não trabalham com as grandes superfícies, passaram momentos muito difíceis durante o período de pandemia.

Setúbal Mais – Quais as principais dificuldades do setor?
Francisco Macheta
– Na altura da pandemia houve um confinamento muito prolongado e quem não tinha capacidade de colocar os queijos no mercado, sobretudo quem não trabalhava diretamente com as grandes superfícies, teve dificuldades de escoamento. Daí, no ano passado realizarmos o festival mais reduzido, em forma de mercado, em dois fins-de-semana, para estimular os produtores, até porque esteves tiveram de absorver a capacidade do leite. As queijarias continuaram a funcionar de modo a não estrangular a atividade dos produtores de leite que tinham gastos com alimentação das ovelhas. As queijarias tiveram de fazer os queijos, continuar a pagar o leite e com dificuldades de vendas.


Setúbal Mais – O aumento dos preços dos combustíveis, da energia e dos produtos alimentícios vai ter impacto no vosso setor?
Francisco Macheta
– Tem um impacto muito grande. Calculamos um aumento nos preços de produção na casa dos 30 por cento. Isto levou já a queijarias a rever os preços que pagam pelo leite, já o aumentaram duas vezes de forma a não sobrecarregar os produtores de leite e estes pudessem manter-se e refletiu-se também no produto final. Houve um ligeiro aumento do preço do queijo. Esta situação é transversal a todo o país. Temos de fazer uma gestão diária para alcançar o equilíbrio financeiro e rentabilidade da produção. Felizmente, temos aqui na nossa região algum entendimento entre todas as partes. É preciso perceber que não existem queijarias sem produtores de leite nem produtores de leite sem queijarias. No nosso território, o grande ex-líbris é o queijo de Azeitão, é reconhecido como denominação de origem por todos e acreditamos com o agregar de esforços entre todos, ao contrário de outras regiões que pararam de produzir, conseguimos tornar-nos líderes de mercado ou lá perto.


Setúbal Mais – Vai abrir mais uma queijaria, a quinta neste território?
Francisco Macheta
– Palmela é o território de excelência do queijo de Azeitão, com 100 por cento de produção de queijo e 95% de produção de leite. As quatro queijarias existentes e a próxima que já entrou num processo de legislação necessário, estão todas situadas no concelho de Palmela. Nos produtores de leite de ovelha, apenas um está fora do concelho, é nosso vizinho, mas está na freguesia de Azeitão, concelho de Setúbal. Tem sido essencial o apoio ao longo dos anos da Junta de Freguesia da Quinta do Anjo e da Câmara Municipal de Palmela, sobretudo a resolver questões burocráticas, constantemente colocadas pela União Europeia, cujas traduções da legislação é feita para os produtores locais com a ajuda destas autarquias introduzindo os novos enquadramentos legislativos. Em 2019 tivemos o nosso melhor ano de sempre com 240 toneladas. Em 2021 tivemos 220 toneladas e não foi melhor porque alguns produtores reduziram os seus efetivos para se financiarem devido aos problemas económicos causados pela pandemia e levou à quebra da produção de leite.