Projecto da Ocean Alive sobre golfinhos do Sado ganha prémio: Pescadoras de Setúbal são guardiãs do mar

O projecto propõe actividades educativas que geram alternativas ao desemprego das pescadoras e actividades de monitorização e protecção directa deste habitat, envolvendo a comunidade local de mulheres pescadoras.

 O projecto “Guardiãs do Mar – Salvar o ambiente, preservar empregos”, da cooperativa Ocean Alive, sobre a intervenção das pescadoras do estuário do Sado em iniciativas de sensibilização ambiental para salvar as pradarias marítimas que alimentam a comunidade de 27 golfinhos, venceu a primeira edição do “Faz – Ideias de origem portuguesas”, na área do empreendedorismo social, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian. As mentoras do projecto vencedor receberam, na passada semana, das mãos do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o prémio monetário de 25 mil euros que vai permitir o desenvolvimento deste projecto.

“Esta iniciativa pretende responder ao problema da degradação e destruição das pradarias marinhas e o seu impacto no declínio da população de golfinhos do Sado, mas também ao desemprego e à desvalorização social e cultural das mulheres pescadoras”, refere a cooperativa.

O projecto propõe actividades educativas que geram alternativas ao desemprego das pescadoras e actividades de monitorização e protecção directa deste habitat, envolvendo a comunidade local de mulheres pescadoras. A ideia deste projeto nasceu entre uma gestora portuguesa residente em Barcelona, Sofia Jorge, e a bióloga marinha Raquel Gaspar, que acompanha os golfinhos do Sado há mais de 20 anos, as quais se juntaram para formar a Ocean Alive. Para além das duas fundadoras, fazem parte da equipa Guardiãs do Mar, Cláudia Martins e Rosa Ferreira, mulheres pescadoras do estuário do Sado.

O concurso FAZ – Ideias de Origem Portuguesa 2016 é uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e da COTEC Portugal na área do empreendedorismo social que visa encontrar e promover projectos nas áreas do Ambiente e Sustentabilidade, Inclusão Social, Diálogo Cultural e Envelhecimento. Além disso, procura fomentar a ligação entre os Portugueses da diáspora e aqueles que residem no território nacional.

Parte do projeto Guardiãs do Mar já se encontra em marcha. A Ocean Alive implementou um piloto para a criação de tours de ecoturismo no mercado do peixe de Setúbal e no estuário do Sado e neste Verão lançará o Ocean Alive Camp dirigido a estudantes, nos quais as pescadoras são guias marinhas.

No que diz respeito à protecção direta, a Ocean Alive iniciou, em Março passado, uma campanha de sensibilização e limpeza de praia com o objectivo de acabar com o mau hábito dos mariscadores em deixar as embalagens vazias de sal vazias na maré, cujo conteúdo é usado na captura do lingueirão e do casulo. Esta campanha conta com 3 acções de sensibilização dos mariscadores e de limpeza de praia realizadas, nas quais foram recolhidas cerca de 6.500 embalagens vazias. Ontem decorreu mais uma, na Caldeira de Tróia, que envolveu 65 voluntários.

“A população de golfinhos (da espécie roaz) do estuário do Sado é uma das poucas populações residentes que vivem em estuários na Europa” e “as pradarias marinhas são autênticos refeitórios”, salientam as responsáveis que reforçam o facto das pradarias marítimas serem “habitats marinhos constituídos por plantas aquáticas rizomatosas (parecidas com o lírio) que vivem em águas costeiras (até a uma profundidade de 30 metros)”.

Na margem Norte do estuário, no concelho de Setúbal, restam apenas 10 mulheres pescadoras em idade activa. Apenas uma continua a pescar. Na margem Sul, em Tróia, na Carrasqueira e na Comporta, são cerca de 35, as mulheres pescadoras activas. “O património cultural e sabedoria destas pescadoras, de mulheres, encontra-se em perigo de se perder, por não haver seguidoras”, sublinham.