Campanha de sensibilização aos mariscadores do lingueirão:  Voluntários recolheram 1500 embalagens de sal vazias

Após sucesso da campanha de sensibilização na sexta-feira Santa, em que foram recolhidas 1500 embalagens de sal vazias usadas pelos mariscadores e apanhadas na beira-mar, a Ocean Alive irá realizar uma nova campanha de sensibilização aos mariscadores do lingueirão no sábado dia 9 de Abril, dia em que haverá uma das maiores marés do ano, e por isso, maior afluência de mariscadores.

Trinta voluntários, oriundos de Setúbal, Lisboa, Almada, Azeitão e Mafra, estudantes, famílias com crianças, participaram na campanha de sensibilização junto dos 300 mariscadores do lingueirão realizada no dia 25 de Março, na sexta-feira santa, no estuário do Sado, na zona da Eurominas.

Os voluntários conseguiram recolher 1500 embalagens de sal fino vazias que serão recicladas em mobiliário urbano (mesas, cadeiras, bancos e floreiras) bem como efectuar a limpeza da zona circundante à beira-mar (estuário) e na zona do estacionamento, tendo sido retirados nessa manha (das 8 às 14h) 900kg de lixo (66 sacos). “Naquele local, a maré encheu o estuário não tinha embalagens a boiar, o que era tradição nos anos passados”, refere a Ocean Alive (www.ocean-alive.org), uma organização sem fins lucrativos para a educação marinha cujo programa de actividades tem o apoio institucional da Unesco, que promoveu esta iniciativa.

“Conseguimos sensibilizar os mariscadores  para acabar com a tradição de deixar as embalagens de sal vazias na beira-mar”, refere a organização, frisando que o objectivo era “evitar que centenas de embalagens de plástico de sal fossem incorporadas no mar”.

Esta acção que se enquadra na missão da Ocean Alive de transformar comportamentos para a protecção do Oceano, nomeadamente das pradarias marinhas do estuário, através da educação marinha e do envolvimento das comunidades costeiras locais, contou com a presença de dois vigilantes do ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) no sentido de sensibilizar os mariscadores para não deixar as embalagens vazias de sal na beira-mar, explicando os malefícios para o ecossistema marinho e para as pessoas quando as embalagens são deixadas no mar.

A campanha sensibilizou ainda os mariscadores para entregar as embalagens às equipas de voluntários explicando que estas serão recicladas em mobiliário urbano, e entregar um saco, tipo mochila, como sugestão para o transporte das embalagens vazias e recolher o lixo circundante à zona de mariscagem.

Os mariscadores eram sobretudo famílias, (pai mãe, filhos, parentes) e grupos de homens e de mulheres provenientes de Sesimbra, Pinhal Novo, Poceirão, Faias, Palmela, Setúbal. “Todas as pessoas que abordámos eram mariscadores oportunistas” afirma a associação, adiantando que “não encontrámos nenhum mariscador licenciado para a apanha do lingueirão”.

A opinião de mariscadores abordados pelos voluntários sobre a campanha foi positiva. “Há 15-20 anos que venho mariscar ali. Sempre vi muitas embalagens no chão”, disse um mariscador de Pinhal Novo, enquanto outro de Setúbal sublinhou que “a vossa presença é muito boa, se possível deveriam fazer todos os anos, já cá venho há 25 anos, é sempre uma vergonha”.

Recorde-se que mariscar na sexta-feira santa é uma tradição nas populações costeiras em Portugal. O lingueirão vive enterrado na vasa do estuário. A sua apanha decorre durante a maré baixa ao longo de todo o ano, por mariscadores credenciados. Para capturar este bivalve, o mariscador deita sal fino no buraco do animal. Este sai e assim é facilmente capturado. Uma parte dos mariscadores do lingueirão deixa as embalagens de plástico de sal vazias na beira-mar. Estima-se que cada mariscador utilize cerca de 10 embalagens por maré. Estas embalagens de plástico passarão a integrar o ecossistema marinho, sendo incorporados pelos peixes e mariscos que comemos e pelos golfinhos do Sado, ao longo de um processo de degradação que demora dezenas a centenas de anos. Neste longo processo, as embalagens tornam-se partículas de médias dimensões que poderão ferir, asfixiar, causar úlceras ou a morte de animais marinhos. Por outro lado, parte das embalagens vem dar às praias de Setúbal, Tróia e Arrábida, constituindo também um risco para a saúde pública.