Presidente da República visita Centro de Nossa Senhora da Paz: “A saída da crise não é fácil e vai demorar anos”

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, elogiou a Cáritas pelo sua “incansável luta contra a pobreza e de afirmação da dignidade da pessoa humana, que é inseparável dos direitos económicos, sociais e culturais de todos, em especial dos mais fracos, dependentes e mais sacrificados e excluídos”, durante a visita, na passada segunda-feira, dia 5 de Setembro, ao Centro Social de Nossa Senhora da Paz, no bairro da Bela Vista. Momentos antes inaugurou uma residência temporária com capacidade para 4 para jovens grávidas e mães com os seus filhos, a funcionar em instalações cedidas pela Câmara Municipal de Setúbal, nas Manteigadas.

“O que se pede à Cáritas e na generalidade a todas as instituições particulares de solidariedade social, é o empenho acrescido ao serviço dos portugueses que mais sofrem” e “felizmente não têm sido esquecidas pelos poderes públicos”, salientou o chefe de Estado.

Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda que “a luta contra exclusão e risco de pobreza continua a ser uma urgência na nossa sociedade”, adiantando que “temos na sociedade portuguesa uma velha pobreza que está instalada radicalmente com números que andam à volta à de 2 milhões de pessoas”.

“A crise dos últimos anos juntou à velha pobreza, uma nova pobreza traduzida nas classes médias, que entraram em risco de pobreza” que “em muitos casos perderam as actividades profissionais”, disse.

“A saída da crise não é rápida nem fácil e vai demorar anos”, alertou o Presidente da República, considerando que “não é fácil por razões que têm a ver com Portugal, a Europa e o mundo”. “É uma ilusão a ideia de decretar um dia o fim da crise e no dia seguinte passamos todos a ter emprego e somos todos felizes”, afirmou.

Marcelo Rebelo de Sousa advertiu que é preciso sensatez: “Nem tomar todas as medidas sociais que seriam necessárias para o equilíbrio que prazo dará o crescimento e o emprego a mais gente, nem estar com temas teóricos que são ideais, a pensar no crescimento que vai haver daqui a 4 ou 5 anos, sem olhar às necessidades básicas de hoje das pessoas”.

O Presidente da República deixou um apelo “à mobilização para um combate social que não podemos deixar de travar para satisfazer as necessidades básicas das pessoas, ao mesmo tempo que devemos ter um rigor orçamental, equilíbrio da balança de pagamentos e o cumprimento dos compromissos com Bruxelas”.

O ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, frisou que “é com alguma emoção que vejo a primeira visita do Presidente da República ao bairro da Bela Vista, por uma causa tão generosa”, na abertura de uma casa para acolhimento de jovens mães, que “se vêm despejadas de tudo”.

“A Cáritas Portuguesa tem uma presença marcante naquilo que são os momentos difíceis da sociedade portuguesa, da região e desta cidade”, disse o ministro, salientando que “protegendo os mais pobres, albergar os esquecidos da sorte e de apoio aos refugiados”.

“O que nós temos aqui hoje em Setúbal é o resultado da mobilização daquilo que é o sentimento da sociedade civil, daqueles que têm reponsabilidade políticas locais e nacionais, a força das instituições desta região”, afirmou Eduardo Cabrita, lembrando que “nos últimos anos, aumentou a pobreza infantil, o risco de desigualdade, fruto da precariedade salarial, que afectou mais as mulheres do que os homens, o risco associado à perda de esperança daqueles com grandes qualificações que viram na emigração a sua única solução”. “Temos de criar riqueza, repor rendimentos, criar esperança, envolvendo a participação de todos”, disse.

Eduardo Cabrita disse ainda que a rede nacional de casas abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica integra já 40 instituições com 800 lugares, anunciando que o governo pretende abrir até ao final do ano a primeira casa abrigo para homens, vítimas de violência doméstica.

Por sua vez, a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, sublinhou que este protocolo, é “mais um exemplo da preocupação constante com outros, destes homens e mulheres que trabalham na Cáritas, um trabalho árduo, complexo e sem tréguas, e conforta-nos saber que a Cáritas está sempre presente quando é necessária”.

Maria das Dores Meira deixou um convite ao Presidente da República para que volte a visitar Setúbal, tendo em vista “conhecer melhor uma cidade orgulhosa do seu passado de permanente procura de mais justiça e de uma vida melhor para todos, mas, acima de tudo, orgulhosa do futuro que sabe ter”.

 

Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Diocesana de Setúbal:

“Nunca fechamos as portas a alguém que nos peça ajuda”

 

O presidente da Cáritas Diocesana de Setúbal e da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, afirma que “nunca fechamos as portas a alguém que nos peça ajuda” e “nunca viramos as costas a quem precisa de apoio”, frisando que “procuramos estar na medida das nossas possibilidades que sempre são menores que as necessidades, na linha da frente da mobilização dos portugueses sempre que se exige um gesto maior de solidariedade”.

Tais afirmações foram feitas durante a visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao Centro Social de Nossa Senhora da Paz, no bairro da Bela Vista, na passada segunda-feira, dia 5 de Setembro, onde foi celebrado um protocolo entre a Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade e a Cáritas Diocesana de Setúbal, com vista ao funcionamento, até ao fim deste ano, do Centro de Acolhimento de Nossa Senhora da Misericórdia, que se destina a receber, temporariamente, mulheres vítimas de violência e mães adolescentes e jovens grávidas em situação de risco. A casa foi cedida pela Câmara Municipal de Setúbal, ao abrigo de um contrato de comodato. A partir do próximo ano o funcionamento será assegurado pelo Ministério do Trabalho Solidariedade e Segurança Social.

Eugénio Fonseca lembra que a Cáritas é “a casa de centenas e centenas de portugueses aflitos”, salientando que “as portas da Cáritas estão sempre abertas a todos os concidadãos que, por alguma razão, passam necessidades, vivem atormentados pelo dia-adia e sofrem com a crise económica, com os baixos rendimentos, com o desemprego, com a exclusão, com  pobreza”.

“A Cáritas, sendo, de alguma forma, a casa dos excluídos da nossa sociedade, é também o espaço, como muitas, infelizmente, outras instituições desta região e deste país, onde melhor se manifesta a solidariedade dos portugueses, os que se oferecem gratuitamente, os que dão o seu tempo, os que dão o melhor que têm e sabem, em favor dos mais desfavorecidos”, disse o responsável, acrescentando que “os mais pobres, os que passam mais dificuldades, os que batem às portas das Cáritas e de outras instituições são portugueses como nós, pessoas com rosto, com nome, com uma história, são pessoas que precisam de ajuda”.

“Conhecemos as lágrimas das mulheres e homens desempregados que não sabem como alimentar os  seus filhos; os rostos e as palavras de desalento de milhares de famílias para quem a vida se tornou num tormento por nunca se libertarem do espectro da pobreza; a humilhação de quem tem de pedir para comer, para se vestir, para poder sobreviver no dia-a-dia”, sublinhou o presidente da Cáritas.

Dando eco aos problemas das famílias que passam por dificuldades financeiras, Eugénio Fonseca convidou um casal, ambos desempregados para relatar, perante o Presidente da República, a sua história, pedindo para não serem identificados. Uma história, de duas pessoas da classe média, que foram vítimas do desemprego e que neste momento só contam com a ajuda dos pais já que as ajudas da Segurança Social não chegaram. Pedem apenas trabalho para recuperar a situação financeira da família, referindo que, apesar de serem optimistas, por vezes o desalento é mais forte.

Eugénio Fonseca deixou uma palavra ao chefe de Estado:  “Não sei se é politicamente correcto ou não dizer isto, mas julgo que interpreto bem o sentir da esmagadora maioria dos povo português ao dizer que, graças a Deus, que o senhor é o nosso Presidente da República”.