O Estado abandonou a cultura em Setúbal?

A Direcção-Geral das Artes acaba de rejeitar a candidatura do Teatro Estúdio Fontenova para apoiar a realização da XVII Festa do Teatro de Setúbal, no valor de 25 mil euros que poderá colocar em causa as futuras edições. A notícia caiu como uma bomba, em véspera de arranque de mais uma edição de certame que tem registado um crescimento enorme nos últimos anos merecendo amplo destaque na imprensa nacional e conta com a participação de companhias de diversas regiões do país e do estrangeiro.

Já este ano tinha sido rejeitada a candidatura do Festróia pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) que levou ao cancelamento deste evento, pela primeira vez, em trinta anos.

Em ambos os certames a Câmara Municipal de Setúbal garantiu o seu apoio financeiro como patrocinador, facto que no caso do Festróia não seria suficiente para arrancar com a edição uma vez que as verbas são muito elevadas pelo que o apoio do ICA era determinante. No caso da Festa do Teatro de Setúbal, apesar do apoio da autarquia sadina poderá estar em causa as próximas edições.

Perante estas duas situações, a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira exige explicações dos responsáveis pela Cultura, nomeadamente da secretaria de Estado e da Direcção-Geral das Artes. Isto porque estes dois eventos culturais dão uma projecção nacional e internacional de Setúbal e atraem milhares de pessoas, criando públicos no teatro e no cinema.

Maria das Dores Meira manifestou-se revoltada quando soube da decisão do chumbo da candidatura. “Já chega! Quando a Festa do Teatro ganha cada vez mais projeção, mais prestígio nacional e internacional, a Direcção-Geral das Artes resolve cortar um apoio que é mais do que merecido. Isto está a andar ao contrário!”, sublinhou a autarca no final da abertura oficial do certame de artes cénicas, realizada na passada semana, ao final da tarde, no Convento de Jesus.

Para a autarca é “um boicote deliberado à Cultura! É o Estado Central, não o Estado Local, como está bem explícito na Constituição, que deve apoiar as artes e as actividades culturais”, apontou Maria das Dores Meira, que, reforçou, a Câmara Municipal “financia este projecto cultural [Festival Internacional de Teatro de Setúbal] com uma fatia importante do seu orçamento destinado à promoção de eventos culturais”.

A presidente da Câmara Municipal salientou que este é “um dos maiores eventos culturais que se realizam regularmente em Setúbal e um dos mais conceituados festivais de teatro nacionais”, assumindo-se como um protagonista da estratégia cultural local, “numa ponte entre a excelência artística e a oportunidade de jovens mostrarem as suas criações”.

A autarca vai solicitar, com carácter urgente, uma reunião com o director-geral das Artes para que sejam explicados os motivos que levaram à não elegibilidade da candidatura do Teatro Estúdio Fontenova a um apoio de 25 mil euros para a organização do certame de cariz internacional. “O director vai ter de explicar porquê. Não quero pensar que sejam decisões políticas” disse.

A XVII Festa do Teatro, que decorre até 5 de Setembro, conta com a participação de companhias de vários locais do país, nomeadamente de Lisboa, Sintra, Amadora, Covilhã, Faro e Beja, mas também do estrangeiro, com representações do Brasil, da Espanha e Alemanha.

Com estas decisões por parte do Estado quem perde são as populações que deixam de ter acesso às diferentes formas culturais.

Florindo Cardoso