Entrevista com João Madeira, director-geral do troiaresort: “A ligação entre Tróia e Setúbal é completamente natural”

SONAE atinge 200 milhões de euros em vendas no imobiliário do resort em Tróia

 

O troiaresort que abriu há sete anos tem atraído cada vez mais turistas estrangeiros, alcançando uma média de 40 por cento. Em 2014, passaram por Tróia 160 mil pessoas e este ano perspectiva-se superar esses resultados. João Madeira, director-geral do troiaresort revela ao “Setúbal Mais” os desafios futuros deste empreendimento turístico.

Florindo Cardoso

 

Setúbal Mais – Como é que está a ser o ano a nível turístico em Tróia?

João Madeira – Tendo em conta os primeiros dados disponíveis perspectiva-se que 2015 seja melhor que o ano passado.

 

Setúbal Mais – Como é que define o perfil do turista que procura Tróia?

J.M. – Atingimos o ano passado um momento histórico. Tróia está inserida no litoral Alentejano e pela primeira vez na história dos dados estatísticos, suplantámos o número de clientes estrangeiros face ao que é a média da região do Alentejo. Conseguimos 40 por cento de clientes estrangeiros. Sendo nós um destino de sol e mar e Portugal um país condicionado pela questão das férias escolares, é sobretudo nessa altura que temos um peso muito grande de turistas nacionais. Apostamos no crescimento de turistas estrangeiros fora da época alta tradicional e na manutenção dos clientes portugueses.

 

Setúbal Mais – Ao nível do estrangeiro, há algum país que se destaque?

J.M. – Temos três grandes áreas geográficas que se distinguem como turistas em Tróia. O primeiro mercado é francês, que neste momento é o principal emissor. O segundo mercado é o escandinavo, nomeadamente a Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia. Os suecos vêm atraídos pela oferta do golfe, de Fevereiro a Maio e de Setembro a Outubro, que são as épocas altas deste desporto. O terceiro é o mercado espanhol, muito semelhante ao nacional, que procura praia, os valores naturais e a oferta da costa alentejana.

 

Setúbal Mais – A nível de animação o que troiaresort oferece ao turista?

J.M. – Desde 2013 que estendemos o programa de animação On Troia ao ano inteiro. Até ao momento já decorreram várias actividades como o Mercado Romano, um evento dedicado às crianças e a abertura do Beach Club. Durante o Verão haverá animação contínua com ginástica ao ar livre, um mercadinho, sunsets musicais e dj’s. Mantemos uma parceria com a Kidzania, focada na ocupação das crianças. Este ano, há um novo ponto de atracção que é a Aldeia Lounge, numa rua que foi fechada ao trânsito e ocupada por actividades para os mais jovens.

 

Setúbal Mais – Em termos de ocupação hoteleira qual é o ponto de situação?

J.M. – Temos fundamentalmente dois grandes indicadores em Tróia. O relevante para o resort é o número de pessoas que cá estão. O ano passado ultrapassámos as 160 mil pessoas e o que prevemos este ano é superar esse número. Estou a contabilizar os números que estão relacionados com as unidades da Tróia Turismo, sendo que há que acrescentar os da Amorim Turismo. Outro indicador é o tráfego dos ferries, sendo que regista-se um crescimento de cerca de 3 por cento. Estamos também a crescer ao nível do tráfego nos catamarans, o que revela que as pessoas na margem norte estão a apostar na praia de Tróia como destino de Verão.

 

Setúbal Mais – O transporte fluvial devido ao preço praticado não é uma condicionante para a pessoa que está na margem norte?

J.M. – Tudo na vida tem um custo. É importante referir que a Atlantic Ferries, apesar de ter vindo a progredir anualmente em termos de evolução do número de tráfego, tem uma operação altamente deficitária e um prejuízo acumulado, desde que começou a operação em 2008, de cerca de 10 milhões de euros. Consideramos que o tarifário está ajustado. Ao nível do tráfego de pessoas, se compararmos o nosso preço, tendo em conta a duração e a distância da viagem, com os outros transportes equivalentes que existem no país, estão alinhados. As embarcações são novas e confortáveis, com o serviço adequado para aquilo que as pessoas procuram. A única fonte de receitas é a da bilhética e não há qualquer apoio do Estado para este serviço público. Existem passes sociais com um desconto próximo dos 50 por cento, pelo que cumprimos a nossa função social.

 

Setúbal Mais – Existe a ideia de que Tróia neste momento é para estrangeiros ou para a classe média/alta. O troiaresort defende esta ideia ou pelo contrário, quer que seja abrangente a todas as classes e pessoas?

 

J.M. – Considero que, com o tempo, essa ideia tem sido esbatida. No início, houve uma desconfiança por parte dos residentes de Setúbal e havia até um sentimento de que lhes estavam a tirar algo mas não temos essa visão. Tróia é de todos os clientes e a divisão territorial só existe nos mapas administrativos. Apesar de Tróia fazer parte do concelho de Grândola, temos as melhores relações com a Câmara de Setúbal. Fazemos parte da direcção da Associação da Baía, temos procurado formas de colaborar no âmbito de Setúbal Cidade Europeia do Desporto em 2016, a própria passagem de ano, além de que o melhor sítio para comer peixe está do outro lado do rio. A ligação entre Tróia e Setúbal é completamente natural. Queremos que todos venham a Tróia.

 

Setúbal Mais – Em relação à questão do imobiliário, qual é o quadro actual do troiaresort?

J.M. – Se considerar o início de vendas em 2006, posso dizer que 2014 foi o segundo melhor ano de sempre. Tendo em conta que foi extremamente bom, as perspectivas para 2015 são de alguma cautela, face à redução da procura em termos de mercado internacional. Continuamos a acreditar que 2015 vai ser um ano interessante e bom a nível de imobiliário.

 

Setúbal Mais – Fizeram uma forte campanha em mercados como a Rússia, Brasil ou França. Já conseguiram resultados desse trabalho?

J.M. – Iniciámos a campanha ao nível da promoção internacional entre 2011 e 2012. Nessa altura, tínhamos cerca de 70 por cento de proprietários portugueses, com uma fatia bastante importante de Setúbal e da zona de Lisboa. Neste momento, cerca de 50 por cento de clientes são portugueses sendo a outra metade internacionais, o que resultou também do trabalho de promoção. Considero que os resultados estão a ser muito positivos.

 

S.M. – Os vistos gold tiveram impactos no troiaresort?

 

J.M. – Houve duas medidas tomadas pelos governos que contribuíram para esta retoma do imobiliário, sendo que uma delas foi precisamente aquela que é conhecida como vistos gold. Tróia também beneficiou com isto. Considero que são medidas muito importantes em termos de captação de investimento internacional e é importante que as pessoas entendam que quando vendemos uma casa a um estrangeiro, o que estamos a fazer é exportar.

 

Setúbal Mais – A capacidade de crescimento ao nível do imobiliário ainda é significativa?

J.M. – Sim. Ainda temos mais de cem unidades para vender e depois existem outros projectos, que vão para além daquilo que está construído. A nossa estratégia é continuar a consolidar o que já temos e repensar o que foram os projectos de 2008.

 

Setúbal Mais – Qual o ponto de situação do ecoresort que estava previsto junto à Caldeira de Tróia?

J.M. – Esse projecto tem um plano de pormenor que foi aprovado em 2012. Em termos de construção, o projecto não vai ser próximo da Caldeira de Tróia mas mais afastado, com base no ecossistema ambiental que existe, sendo que uma das medidas previstas é que as construções sejam feitas em cima de estacas de modo a preservar toda a vegetação. Estamos a olhar para esse projecto em termos de um futuro próximo.

 

Setúbal Mais – As ruínas romanas de Tróia são uma atracção para os turistas…

J.M. – Desde que assumimos a gestão daquele espaço, que é monumento nacional há mais de 100 anos, que percebemos que o seu estado não era o mais adequado. Trata-se de um sítio com valor histórico enorme. Pensamos atingir este ano mais de 15 mil visitantes, o que é muito interessante para um sítio arqueológico.

 

Setúbal Mais – Estão a aproximar-se as Festas de Tróia. Como o troiaresort encara esta tradição?

J.M. – A festa é algo que é boa para Tróia mas penso que teremos de trabalhar em conjunto com a comissão que a promove, para permitir que o espaço esteja mais organizado e disciplinado de forma a permitir que tudo corra bem e que a festa seja feita para os pescadores e para os clientes que aqui estão. É preciso continuar a trabalhar para que aquele espaço esteja em condições e garantir a preservação e segurança, abrindo-se a novos visitantes.