Nuno Canta, presidente da Câmara Municipal do Montijo, sobre novo aeroporto: “Do meu ponto de vista, o Montijo continua a ser a melhor localização”

O presidente da Câmara Municipal do Montijo, Nuno Canta, continua a considerar que o novo aeroporto deve situar-se a sul do Tejo, defendendo a solução complementar na Base Aérea n.º 6. O autarca manifesta preocupação pelo adiamento da decisão definitiva sobre a localização do novo aeroporto e culpa as câmaras municipais da Moita e do Seixal, então lideradas pela CDU, pelo bloqueio do projeto no Montijo, já que manifestaram-se contra e emitiram parecer negativo, que tinha caráter obrigatório. Sobre os problemas existentes nos transportes públicos da Carris Metropolitana, Nuno Canta, exige rápida solução junto dos TML – Transportes Metropolitanos de Lisboa e da empresa concessionária Alsa Todi.

Florindo Cardoso

Setúbal Mais – Qual a sua posição sobre a decisão do governo sobre o novo aeroporto?
Nuno Canta
– A circunstância que se criou no país, com muita luta política, levou o governo a tomar esta posição. Quanto à questão do alargamento das opções à margem norte, não estamos de acordo porque consideramos que é necessário fazer este investimento aeroportuário a sul do Tejo. A Câmara Municipal e penso que os outros autarcas da região estão de acordo com o facto de termos necessidade de ter um investimento estruturante a sul do Tejo para que assimetria económica existente entre as margens sul e norte possa ser atenuada na Área Metropolitana de Lisboa e criar emprego mais próximo das populações. Isto claro, com a salvaguarda das questões ambientais. Uma infraestrutura da dimensão de um aeroporto, seja complementar ou definitiva, necessita sempre de uma avaliação de impacte ambiental.
Setúbal Mais – Como encara a solução de Santarém?
Nuno Canta –
Considerando as questões atrás mencionadas, encaro com alguma dificuldade a localização do novo aeroporto em Santarém. É preciso ter em conta que são terrenos privados e aqui, quer seja na Base Aérea do Montijo quer no Campo de Tiro de Alcochete são públicos. O Estado a sul do tejo não precisa de que comprar terrenos enquanto a norte tem, sendo mais um encargo adicional de custo, que o país não dispõe.


Setúbal Mais – O Montijo continua a ser opção como complementar e definita?
Nuno Canta –
Temos duas vezes o Montijo como opção o que nos deixa satisfeitos. Primeiro, sendo um aeroporto complementar de Lisboa, solução que estava consensualizada e só não avançou por oposição das câmaras do Seixal e da Moita, uma posição que é política e não técnica, mas que inviabilizou a localização do aeroporto na base aérea. Esta localização volta a estar em cima da mesa e penso que seja a mais adequada e rápida que permite reduzir assimetrias, criar emprego de proximidade e servir bem as populações de uma infraestrutura aeroportuária moderna. Depois aparece outra solução, que não somos tão favoráveis, e que a consideramos de menor interesse que é o aeroporto principal no Montijo, embora se for do interesse geral do país, temos de aceitar. Ao contrário do que referem o espaço não é pequeno, a base aérea tem mil hectares, superior à cidade do Montijo, sendo possível a existência de duas pistas paralelas.
A terceira opção no Campo de Tiro de Alcochete, que já era defendida pelo ministro das Infraestruturas quando apresentou aquele despacho que foi revogado pelo primeiro-ministro, não pode ser posta de parte. Esse aeroporto seria localizado no concelho de Benavente com entrada no concelho do Montijo, na freguesia de Canha. Este local terá de ficar sempre como uma reserva estratégica para o país caso a circulação aeroportuária assim o exija. Estamos a falar de um investimento, que não é de 2 mil milhões como seria na BA n.º 6 para a reconversão civil, mas de 14 mil milhões de euros, incluindo as infraestruturas. Uma verba impensável para o país.
Estas localizações na margem sul têm todas as condições de serem mais favoráveis. Do meu ponto de vista, o Montijo continua a ser a melhor localização e a mais interessante nível económico, social e ambiental, devido à proximidade a Lisboa, a redução de assimetrias, o menor desordenamento do território que provocará e a criação de emprego para as novas gerações.


Setúbal Mais – Não teme com esta decisão, ser mais um adiamento da localização do futuro aeroporto?
Nuno Canta
– Essa é a grande preocupação que temos. Já estamos há mais de 50 anos para definir um aeroporto em Lisboa. Já esteve definido para o Rio Frio (concelho de Palmela), depois passou para a Ota, Alcochete e agora a Base Aérea do Montijo. Considero que atingimos um ponto de saturação da opinião pública e um impasse que o país para o seu futuro desenvolvimento. Penso que o primeiro-ministro está sensível a esta questão, mas urge resolver. A nossa preocupação não é o estudo de avaliação estratégica porque isso sempre exigimos, desde o tempo do governo de Passos Coelho, tendo em conta os valores ambientais e a valorização dos recursos naturais. É mais um ano de atraso com todas as consequências que terá para a economia do país, não só imediatas como futuras. É preciso não esquecer que este impasse gerou-se com os pareceres negativos das câmara municipais da Moita e Seixal, impedindo o governo de avançar porque incumpria a lei. Tínhamos tudo para avançar para faltava o consenso político para realizar a obra. O primeiro-ministro teve de encontrar um consenso.



Transportes públicos da Carris Metropolitana:
“Não aceitamos a justificação da empresa da falta de motoristas”

Nuno Canta exige uma rápida solução para os problemas da Carris Metropolitana no concelho e nas ligações intermunicipais. O autarca garante que tem feito pressão juntos dos Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) e da concessionária Alsa Todi. Nuno Cahta considera que tem havido aproveitamento político da situação.


Setúbal Mais – Como está a acompanhar a situação das queixas dos utentes em relação à Carris Metropolitana?
Nuno Canta
– Temos acompanhado a situação desde o início da operacionalidade da empresa Alsa Todi. A concessão começou com problemas, a empresa tentou regularizar algumas coisas por insistência do município. Pedimos urgência às questões das carreiras intermunicipais para Lisboa. Pedimos também responsabilidades a quem gere os transportes públicos rodoviários de passageiros na Área Metropolitana de Lisboa e ao seu secretariado e à empresa que criamos para gerir tudo isto, que é a TML – Transportes Metropolitanos de Lisboa, que detém a marca Carris Metropolitana e em reuniões com a concessionária, a Alsa Todi. Têm sido corrigidos horários e outras situações, mas a verdade é que continuamos a ter supressão de carreiras, instabilidade no cumprimento de horários e muitas as vezes, autocarros sobrelotados que deixam passageiros nas paragens. O problema agravou-se com o início das carreiras dos transportes escolares. Não aceitamos a justificação da empresa da falta de motoristas ao fim de três meses de concessão porque isso cabe diretamente à empresa resolver. Supostamente, a empresa concorre porque tem as condições de operacionalidade garantidas.


Setúbal Mais – Tem havido manifestações de protesto?
Nuno Canta
– Percebemos que há aproveitamento político no sentido de colocar toda a responsabilidade sobre a câmara municipal, mas é preciso clarificar que delegamos competências na Autoridade Metropolitana de Transportes, mas apenas as carreiras urbanas, que circulam dentro do concelho. As carreiras intermunicipais, que circulam entre concelhos, nunca foram responsabilidade direta da câmara pela lei, mas das autoridades metropolitanas. Isto é importante esclarecer porque os grandes problemas que temos é das pessoas deslocarem-se para Lisboa ou outros municípios como Alcochete e Moita para trabalhar, ou seja nas carreiras intermunicipais. Isso tem sido a nossa luta. Não é possível colocar essa competência, sem a lei prever, na câmara municipal. É um artifício, que algumas pessoas, orientadas politicamente, querem fazer.
Este sistema não pode ser colocado em causa e aliás, enquanto político voltaria a fazer o mesmo. Temos um grande orgulho no sistema criado. Os problemas não estão na criação do sistema, mas na sua operacionalidade. As pessoas queixam-se da supressão de carreiras, dos horários, dos autocarros estarem sobrelotados. Tudo isto, não é possível resolver diretamente pelos municípios, podemos pressionar e é o que estamos a fazer, mas isso é uma competência dos TML e da Alsa Todi.
O sistema de transportes na AML foi construído na base de um grande consenso político entre o PS, PSD e a CDU. Isto é, os três partidos têm iguais responsabilidades em preservar este modelo de transportes metropolitanos que permitiu passes baratos para todos, autocarros novos com conforto para os passageiros, que deveria habilitar uma periodicidade e frequência de carreiras, capazes de servir as pessoas. Todos temos essa responsabilidade de trabalhar em conjunto para que este sistema não seja parado e encontrar soluções para servir as pessoas.
A Câmara do Montijo tem feito as reivindicações todas de melhoria do sistema, apoiada em várias reclamações e sugestões de vários cidadãos, e obviamente defendendo o interesse dos passageiros do Montijo.