Henrique Soares, presidente da CVRPS: “Nos últimos anos, os mercados externos da Rússia e da Ucrânia vinham a tornar-se cada vez mais relevantes”

Com a recente invasão da Ucrânia pela Rússia, provocando uma guerra e sanções económicas impostas pela União Europeia ao país de Vladimir Putin, as exportações dos vinhos para aqueles dois países vão ser afetadas. Em termos de península de Setúbal representam 5 por cento. Henrique Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS) manifesta preocupação, recordando que o mercado russo era uma das apostas nos últimos dois anos. A alternativa poderá passar pelos Estados Unidos da América, Reino Unido e Europa.

Florindo Cardoso


Setúbal Mais – Qual o impacto que a guerra na Ucrânia e as sanções económicas impostas à Rússia pode ter no mercado externo dos vinhos da península de Setúbal?
Henrique Soares
– Nos últimos anos, os mercados da Rússia e da Ucrânia vinham a tornar-se cada vez mais relevantes para os vinhos da península de Setúbal, embora no contexto global, a nível das nossas exportações representem ainda pouco, cerca de 5 por cento. É de fato um problema. São dois mercados que, de repente, se perdem, com a agravante de ser no setor do vinho que tem as suas particularidades. É um conjunto de exportações e vendas que vinham a evoluir muito bem nos últimos anos e para os quais é preciso encontrar alternativas.


Setúbal Mais – Essas alternativas podem passar pelo mercado dos Estado Unidos da América?
Henrique Soares – A ViniPortugal aponta como primeira alternativa os Estados Unidos da América porque é um dos mercados mais relevantes a nível de exportações para todos os vinhos portugueses como são o Brasil e Canadá. Estes três mercados são as mais imediatas e óbvias pela sua dimensão e visibilidade que os vinhos portugueses já têm nos mesmos. Há ainda uma série de mercados, nomeadamente dentro da União Europeia como a Alemanha, os Países Baixos, Luxemburgo, Bélgica e Polónia, para além do Reino Unido, que têm vindo a evoluir muito bem para os vinhos portugueses. Em relação à Polónia vamos ver como se comporta o mercado, embora o país seja atingido apenas do ponto de vista dos refugiados, mas mesmo assim poderá ter algum impacto na sua economia. Será na procura dentro dos mercados onde já estamos presentes e temos notoriedade, entre os quais os vinhos da península de Setúbal, que vamos procurar alternativas.


Setúbal Mais – Estava prevista para este mês de março a visita de uma comitiva de empresários russos a várias regiões vinícolas do país, entre as quais a península de Setúbal, segundo a ViniPortugal, que deverá ser cancelada. Tem conhecimento?
Henrique Soares
– Ainda não temos conhecimento dessa visita, mas possivelmente a península de Setúbal estaria incluída. Nos dois últimos dois anos, atingidos pela pandemia do covid-19, começámos a incluir a Rússia como um dos mercados para as nossas ações externas. Em 2020 e 2021 não foi possível realizar ações presenciais e para este ano já estaria prevista uma primeira deslocação. Temos feito ações à distância com base nos nossos parceiros locais. Todo esse trabalho e investimento na promoção pode acabar agora com esta situação. São danos colaterais destes acontecimentos. Lembro que a última deslocação foi à ProdExpo 2022, uma feira agroalimentar com um componente forte de vinhos, onde participaram várias empresas da região e onde a Adega de Pegões ganhou mais uma vez o melhor vinho tinto do concurso, demonstrando uma grade dinâmica e onde estava a decorrer tudo bem até ao início da guerra.


Setúbal Mais – Já chegou alguma preocupação junto da CVRPS de produtores da região?
Henrique Soares –
Sim, embora de forma informal. Ainda é tudo muito recente. Cada produtor vai ter de agora lidar com a situação, embora haja alguma expectativa de alguns apoios. De referir que há empresas que têm dinheiro a receber das encomendas enviadas nos últimos meses. Ainda está para esclarecer se haverá algum apoio público ou não.


Setúbal Mais – Sempre falou que o objetivo do país seria chegar aos mil milhões de exportações em vinhos. Em 2021 chegou-se muito perto, aos 925 milhões de euros…
Henrique Soares
– Sim. Apesar de tudo, a relevância dos mercados da Rússia e da Ucrânia no contexto global das exportações, não vai alterar o fato dos vinhos portugueses atingir essa meta.


Setúbal Mais – Como foram os primeiros meses deste ano das vendas dos vinhos da península de Setúbal?
Henrique Soares
– Janeiro e fevereiro foram meses muito bons. Crescemos em termos homólogos e estamos acima dos valores de 2021, na ordem dos 15%.


Setúbal Mais – Qual é o mercado principal de exportações dos vinhos da península de Setúbal?
Henrique Soares – É o Brasil. Logo a seguir ao nosso mercado nacional.


Guerra na Ucrânia tem impacto nas exportações dos vinhos: Viniportugal altera campanha de promoção internacional

Viniportugal estava a diversificar as exportações de vinhos portugueses com a aposta nos últimos anos nos mercados da Rússia e a Ucrânia. Ora, com o início da guerra naquele país europeu, a estratégia de internacionalização do sector, com 8,3 milhões de euros destinados à promoção internacional em 20 países, em 2022, está, agora, “a ser reprogramada” para os Estados Unidos da América, onde o objetivo é reforçar a aposta neste mercado e também no Canadá e Brasil, revela ao Expresso, Frederico Falcão, presidente da Viniportugal.


“Estes países são a nossa grande aposta para ações de impacto imediato que possam compensar quebras nas vendas para a Rússia e a Ucrânia. Estamos agora a escolher as ações alternativas para entrarmos”, adianta ao jornal
As verbas de 120 mil euros, era dividida entre a Rússia e a Ucrânia de forma desigual, uma vez que o mercado russo devia absorver o dobro do valor do país que invadiu. Era um investimento “crucial para fomentar a penetração dos vinhos portugueses nos dois mercados”, salienta Frederico Falcão, adiantando que a Rússia, apesar de ser o 17.º cliente de Portugal, com compras de 10 milhões de euros em 2021, “estava a crescer” e tinha já no país o seu sexto fornecedor. Já a Ucrânia, a ViniPortugal investiu pela primeira vez neste mercado em 2021, a entrar com um preço médio por litro de 3,18 euros, acima da média nacional (2,82 euros/litro).


De referir que a visita de empresários russos às regiões vinícolas da península de Setúbal, Lisboa, Região dos Vinhos Verdes, Douro e Alentejo, agendada para março, ficou adiada, tal como outros eventos previstos para os dois países.


Como alternativa, a Viniportugal aposta, agora, em ações de aproximação aos consumidores de “três mercados prioritários”, para onde tem canalizado uma fatia substancial do investimento na promoção dos vinhos portugueses e que, este ano, iriam já receber cerca de 3 milhões de euros, distribuídos entre os EUA (1,33 milhões de euros), Canadá (900 mil euros) e Brasil (865 mil).


Em 2021, um ano recorde para as exportações dos vinhos portugueses, com crescimento de 8,11%, para os 925 milhões de euros, os Estados Unidos consolidaram a sua posição como segundo maior mercado, atrás da França, com compras de 104,3 milhões de euros (+13,1%) e um preço médio por litro de 3,79 euros. O Brasil ocupou o oitavo lugar no ranking dos maiores clientes de Portugal, com compras de 73,7 milhões de euros (+8,65%) e um preço médio por litro de 2,26 euros, e o Canadá ficou em oitavo lugar, com 50,4 milhões de euros (+1,36%) e um preço médio por litro de 3,84 euros.