Henrique Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal: “Globalmente, o ano de 2020, não foi mau de todo”

A Comissão Vitivinícola da Região da Península de Setúbal (CVRPS) em parceria com o Dott (maior shopping online de Portugal) e os CTT (responsáveis pelo processo de logística e distribuição) está a realizar primeira Feira de Vinhos da Península de Setúbal online até 8 de Setembro. A feira conta com a participação de oito produtores: Adega Camolas, Casa de Atalaia, Comporta Wines, Filipe Palhoça Vinhos, Herdade de Espirra, Quinta do Brejinho da Costa, Quinta do Monte Alegre e SIVIPA. Apesar da crise pandémica e económica, os vinhos da península de Setúbal mantêm uma boa prestação no mercado nacional. Em 2020, registou-se um crescimento da quota de mercado em volume no mercado nacional, no total de 1,4%, mantendo a 3.ª posição em volume (19,3%) e a 4.ª em valor (13,5%), entre os vinhos certificados mais consumidos no nosso país. Só que os pequenos produtores da região sofreram quebras de vendas superiores a 30 por cento.

Florindo Cardoso

Setúbal Mais – Como surgiu a ideia de lançar a Feira de Vinhos online?
Henrique Soares – Na sequência da situação do estado de pandemia do covid-19 que vivemos, o comércio online incrementou-se imenso e fomos percebendo que houve produtores, que por si só foram construindo soluções, aderindo a plataformas de vendas. A Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal foi recebendo sucessivas ofertas de plataformas de comércio electrónico. Das propostas que recebemos esta parceria com o Dott (maior shopping online de Portugal) e os CTT (responsáveis pelo processo de logística e distribuição) foi a que nos pareceu a mais credível, que tinha custos mais acessíveis e que nos dava garantias de logística e distribuição em segurança. Daí fazermos uma proposta aos produtores que quisessem entrar nesta pequena aventura connosco, na expectativa de que mais uma série de produtores tivessem mais um canal de venda, neste caso online, e que pudessem permanecer nele, já que a plataforma já existia e continuará. Aliás, esta tendência do comércio à distância, online, que já vinha de trás, foi acelerada pela pandemia. Foi este o enquadramento que nos levou a avançar com esta iniciativa de apoio aos nossos produtores.

S.M. – Espera que mais adegas venham a integrar este projecto?
H.S. – Sim. A CVRPS está a servir como catalisador para as adegas que entraram nesta loja que está online durante seis meses e que depois terão a possibilidade de continuar. Algumas das grandes adegas da região já se encontravam nesta plataforma e daí não terem interesse nesta iniciativa. As que estão nesta plataforma, pela primeira vez, com o nosso enquadramento, que baixou o custo de adesão uma vez que a CVRPS suporta um pouco mais de metade do valor e o remanescente é repartido pelos que aderiram, ou seja quanto mais produtores entrarem mais baixo será o custo. Estes (Adega Camolas, Casa de Atalaia, Comporta Wines, Filipe Palhoça Vinhos, Herdade de Espirra, Quinta do Brejinho da Costa, Quinta do Monte Alegre e SIVIPA) foram o que aceitaram o desafio e entenderam aderir. A nossa perspectiva é que este projecto abra uma porta e uma solução para este e os próximos tempos, sendo mais um canal comercial de venda dos vinhos da região. No fundo, lançámos a semente.

S.M. – Como foi o ano de 2020 para os produtores da região?
H.S. – Globalmente, o ano de 2020, não foi mau de todo. O problema é que a média esconde a situação de alguns produtores. Os que estão mais enraizados nas superfícies comerciais, na moderna distribuição e na exportação, conseguiram continuar a vender, embora com perdas de valor, com a diminuição da gama de vendas, vendendo vinhos mais baratos e com margens mais reduzidas. Estes apesar de tudo, não foram muito afectados. Só que cerca de metade dos nossos produtores registaram quebras de vendas superiores a 30 por cento e alguns chegaram a 50 por cento. São aqueles que dependem mais da restauração, hotelaria, das lojas especializadas, das mercearias e do canal especializado de vendas. Temos de tudo na região. Globalmente para a região o ano de 2020 não foi bom porque a pandemia teve impacto, mas atendendo às circunstâncias, houve quem sofresse bastante mais que outras regiões produtoras de vinho do país. Isso, não nos deve levar a omitir a realidade de que houve umas largas dezenas de vitivinicultores da nossa região que registaram quebras de vendas superiores a 30 por cento.

S.M. – E as perspectivas para 2021?
H.S. – O último trimestre de 2020 não foi brilhante e este primeiro trimestre de 2021 também está aquém do habitual. Contudo, tem vindo a crescer, ou seja, o Fevereiro foi melhor que Janeiro e Março perpectiva-se melhor do que Fevereiro. A nossa expectativa é que o segundo trimestre deste ano possa manter-se neste registo e até melhorar para igualar os números de 2020. Este ano, vai ser ainda muito longe da tal retoma que se previa em 2020, tendo em conta a incerteza, a possibilidade de uma quarta vaga e a vacinação que nunca mais avança a um ritmo que permita voltar a um registo de vida mais próximo da normalidade, comercial e de exportações. Depois como está o mundo todo imerso nesta situação, nem sequer há soluções no mercado mundial como existiu na crise de há uma década, em que havia países que não sofreram a crise económica e como tal não afectou as nossas exportações para essas regiões. Agora é uma situação transversal.

S.M. – Em relação a concurso de vinhos que a CVRPS promove anualmente. Em 2020 foi online e este ano o que está previsto?
H.S. – Este ano, mantemos a intenção de realizar o concurso num modelo tradicional no último trimestre, embora com menos pessoas na cerimónia de entrega de prémios, com distanciamento e cumprindo as regras da Direcção Geral da Saúde. Se não for possível, resta-nos fazer como em 2020 com o modelo online.