O comandante Mário Fonte Domingues, capitão de fragata, assumiu o comando do Navio-Escola Sagres a 14 de setembro de 2021. Na sua deslocação a Setúbal, no âmbito da Semana do Mar e após o regresso do Brasil, onde marcou presença no bicentenário da independência daquele país, o comandante fala dessa viagem histórica de três meses, e do papel do NRP Sagres. O Sagres esteve em Setúbal de 21 a 23 de outubro. Recorde-se que o navio esteve pela última vez na cidade sadina em 2018, já que me 2019 não pode participar e nos dois anos seguintes o evento não se realizou devido à pandemia do covid-19.
Florindo Cardoso
Setúbal Mais – Como decorreu a viagem ao brasil?
Comandante Mário Domingues – Foi uma viagem de três meses. Saímos da Base Naval do Alfeite a 24 de julho, com cerca 50 cadetes embarcados, da escola naval e de marinhas estrangeiras. Por norma convidamos seis a oito cadetes de escolas navais estrangeiras para interagir com os nossos cadetes ao longo da viagem. O primeiro porto foi no Funchal, navegámos sempre à vela com vento muito favorável, seguindo-se Salvador (Brasil), também um porto emblemático da nossa história comum, e depois no Rio de Janeiro, para a comemoração do bicentenário do Brasil. A 7 de setembro, dia da independência, participámos num desfile naval ao longo das praias, durante a manhã, com mais 25 navios, a maior parte da marinha brasileira, e das marinhas estrangeiras sul e norte americanas, o “Cisne Branco” da marinha do Brasil e o “Libertad” da marinha argentina, foram os grandes veleiros que deram um colorido especial ao evento. No dia 10, participámos numa grande parada naval, em que os navios fundearam na baia de Guanabara e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, passou uma revista. Regressamos a partir do Rio de Janeiro pelo Mindelo, o porto estrangeiro mais visitado pelo Sagres, pela sua posição estratégica e pelas relações muito próximas existentes entre Portugal e Cabo Verde, seguindo-se Setúbal para a Semana do Mar.
Setúbal Mais – Como foi a receção no Brasil?
Comandante Mário Domingues – Foi muito boa. De referir que no dia 9 de setembro, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deu uma receção a bordo do Sagres, convidando as autoridades locais e a comunidade portuguesa, com fortes tradições no Rio de Janeiro, que correu lindamente a exemplo do que aconteceu aqui em Setúbal. O Brasil aprecia muito o fato da marinha portuguesa estar presente com o NRP Sagres. A marinha brasileira descende da marinha portuguesa e este navio tem um fato curioso, é que este navio já foi da marinha brasileira, com o nome de Guanabara. O Sagres foi construído em 1937, em Hamburgo, e este ano comemorou os 85 anos, a 30 de outubro e 60 anos ao serviço da marinha portuguesa. No final da 2.ª Guerra Mundial o navio foi capturado pelos norte-americanos, aquando da partilha dos despojos pelos vencedores, e seguiu de imediato para o Brasil como compensação do esforço de guerra. Portugal adquiriu o então Guanabara ao Brasil, em 1962, com vista a substituir a antiga Sagres, que também havia sido um navio alemão, arrastado nos Açores. Este navio teve um impacto especial nas comemorações do bicentenário.
Setúbal Mais – A Semana do Mar é já uma tradição em Setúbal. A presença da Sagres é importante para maior ligação à comunidade?
Comandante Mário Domingues – Sim. É muito importante porque ajuda-nos a promover o navio e a marinha portuguesa. Se visitarmos um porto, de forma isolada, sem uma grande organização por detrás a promover o evento, não temos o mesmo impacto. O navio pode estar lindamente apresentado, como é nosso apanágio, mas depois não temos o retorno das visitas na dimensão que temos aqui, na Semana do Mar. Tivemos a visita de muitas escolas e da comunidade e isso é fundamental para nós. Em Setúbal, o retorno é muito maior e isso é fantástico. Estamos com cerca centenas de visitas por dia e na Semana do Mar em Setúbal já registámos, em edições anteriores, 10 mil pessoas por dia. Tudo depende das condições meteorológicas.
Setúbal Mais – O balanço é positivo?
Comandante Mário Domingues – Certamente que sim. É sempre bom vir a Setúbal.