Clemente celebra 50 anos de carreira: “Levei o nome de Setúbal pelo mundo inteiro durante estes 50 anos”

Clemente celebra este ano meio século de carreira artística. Para assinalar a efeméride o popular cantor setubalense vai realizar um espectáculo no dia 25 de Outubro, pelas 18h00, no Fórum Municipal Luísa Todi, produzido pelo município sadino. Clemente é um verdadeiro embaixador da cidade levando o nome de Setúbal pelos quatro cantos do mundo. Foi distinguido com a Medalha de Honra da Cidade de Setúbal, na área da Cultura, recebeu uma saudação aprovada pela Assembleia da República e recentemente foi agraciado com a Grã Cruz Honorário da Real Ordem de São Miguel da Ala. Um ano que deveria ser de grande número de concertos pelo país e mundo, clemente viu a sua agenda de espectáculos cancelada devido à pandemia do Covid-19.

Florindo Cardoso

Setúbal Mais – Como vai ser o espectáculo de celebração dos 50 anos de carreira no Fórum Municipal Luísa Todi?

Clemente – Este espectáculo é um repositório de cinquenta anos de carreira com músicas desde o princípio até aos dias de hoje, apresentando alguns medleys de canções emblemáticas porque felizmente como tenho tantos sucessos não os poderia cantar todos. Cantarei algumas canções na íntegra, os clássicos, uma vez que o público sentir-se-ia defraudado. A linha mestra do espectáculo é esta. Somos nove pessoas em palco. Estamos a construir uma grande produção e neste momento estou muito feliz porque a primeira e segunda plateia estão praticamente esgotadas.

S.M. – Este espectáculo também é importante porque é na sua cidade?

Clemente – É um espectáculo especial promovido e produzido pela Câmara Municipal de Setúbal. Sou muito grato que nesta comemoração dos 50 anos de carreira, o município ter-se associado a este marco tão importante da minha vida artística.

S.M. – Gostaria de levar este espectáculo à Feira de Sant’Iago em 2021?

Clemente – Certamente que sim. Seria para um público mais alargado. Esperamos que a pandemia permita e seja possível no próximo Verão estarmos numa fase diferente. Seria para mim uma honra e prazer puder levar este espectáculo para o público em geral. Isso deixar-me-ia feliz.

S.M. – Este ano está ser de muito sucesso. Recebeu a Medalha da Cidade de Setúbal. O que sentiu quando recebeu esta distinção?

Clemente – Recebi a Medalha da Cidade pelos 50 anos de carreira. Quando recebi a medalha das mãos da presidente da câmara municipal, senti que deveria ter ali a presença dos meus pais, que certamente iriam ficar muito orgulhosos de ter sido reconhecido pela minha cidade com a Medalha de Honra na classe de Cultura. Pensei essencialmente nos meus pais que me amaram infinitamente e que ficariam muito felizes.

S.M. – Sentiu que foi um reconhecimento oficial da cidade à sua carreira?

Clemente – Sim. Foi o reconhecimento que faltava na minha carreira e do meu trabalho artístico. Da cidade que me viu nasceu e onde vivo. Levei o nome de Setúbal pelo mundo inteiro durante estes 50 anos, isso é incontestável. Fui um verdadeiro embaixador de Setúbal, cantei em inúmeros países e sempre fiz menção ao lugar onde nasci e ao meu país, nos meus espectáculos. Convidei sempre as pessoas a visitar Portugal. Até quando estava a cantar para portugueses promovi sempre a minha região. Dizia sempre que se forem a Portugal, a vossa região pode ser muito bonita e encantadora, mas convido a visitar a minha região, a serra da Arrábida, o estuário do Sado, a magnífica cidade de Setúbal. Isto foi sempre dito no palco ao longo de muitos anos e em milhares de actuações. Recordo que fiz um espectáculo na Aula Magna da Universidade de Toronto (Canadá) e falei de Setúbal, e no final, o jornalista João Lúcio (setubalense emigrado naquele país) e seu irmão, deram-me um abraço e disseram que lhes fiz chorar pela forma como falei de Setúbal. Fiz isto a vida inteira. Tenho muito orgulho do lugar onde nasci. Muitos dos meus amigos que conheci pelo mundo já vieram a Setúbal pela minha descrição e todos dizem que é um lugar paradisíaco. Temos umas praias fantásticas com o envolvimento da serra da Arrábida e do mar, Tróia com extenso areal, que embora não seja do concelho, está em frente à cidade e nós, setubalenses, sempre a consideramos como nossa. A minha envolvência com a cidade de Setúbal foi sempre muito grande e não fiz mais do que o meu dever de divulgar a minha por onde actuava.

Clemente homenageado:

“Tenho essa felicidade de ser reconhecido em vida e isso dá-me muita felicidade”

Clemente, além de receber a Medalha de Honra da Cidade de Setúbal foi ainda distinguido com uma saudação da Assembleia da República e agraciado com a com a Grã Cruz Honorário da Real Ordem de São Miguel da Ala. O artista espera que 2021 seja melhor com o retomar da agenda de espectáculos.

S.M. – Este ano também teve o reconhecimento oficial da Assembleia da República. Foi um marco importante?

Clemente – Foi um marco muito importante e ouvi palavras muito elogiosas. Aliás, houve um voto de unanimidade em relação à saudação da minha carreira. Ouvi palavras muito distintas e amigas de deputados de todos os quadrantes políticos, desde o PSD ao PS, do PCP, Bloco de Esquerda ao CDS. A proposta foi apresentada pelos deputados do PS eleitos pelo distrito mas aprovada por todos. Fiquei muito grato e comovido. Jamais pensei que estas coisas fossem acontecer porque fiz uma carreira por gostar da música. As pessoas não sabem que inicialmente abracei a música porque era a única forma de viajar pelo mundo, um sonho que tinha desde criança. É a música que me dá esse passaporte e esse prazer. Os prazeres da música e do palco estão sempre associados às viagens. Houve uma altura da minha carreira que fazia e desfazia malas ao mesmo tempo mas confesso que conheci cidades muito importantes como Sidney, Toronto, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Paris, Nova Iorque, Londres. Conheci o mundo a cantar. Este percurso foi incrível, nunca pensei que a minha carreira duraria 50 anos. Bem hajam por proporcionar a este rapaz que nasceu no bairro de Troino, filho da dona Elvira e do senhor Francisco, levar o nome de Setúbal e Portugal aos quatro cantos do mundo e concretizar este sonho de menino de conhecer o mundo.

S.M. – A última distinção foi da Ordem de s. Miguel de Alda também foi importante?

Clemente – Foi muito importante. É talvez a distinção mais importante das casas reais e foi emocionante para mim porque recebi a condecoração das mãos de D. Duarte, duque de Bragança, que tinha ao seu lado o arquiduque da Áustria e príncipe da Hungria e sua esposa. Ele é bisneto do imperador Francisco do império austro-húngaro e da célebre Sissi, aquela personagem que nos habituamos a ver nos filmes da minha geração através da actriz Romy Schneider. No dia anterior, as Fundações Oureana e Amália promoveram um espectáculo de celebração dos 100 anos do nascimento da Amália, chamado “Serenata a Amália” com o patrocínio da Câmara Municipal de Ourém e foi pedido a mim, entre outros artistas, para cantar dois fados mas optei pelo respeito pela Amália, dois temas mais ligeiros e cantei o “Fadinho Serrano”, um dos marcos que iniciava os espectáculos de Amália, da autoria de Arlindo Carvalho, um grande cantador do nosso folclore, e também autor e compositor, e “Tão longe daqui” que ela também cantou. Foi fantástico porque a baronesa de Nossa Senhora da Oliveira, no final do espectáculo, elogiou a minha actuação. Eu estava convidado para a missa solene por S. Miguel da Ala, celebrada no Mosteiro de Alcobaça, pelo bispo de S. Tomé e Príncipe, que foi pároco da Igreja de S. Sebastião, em Setúbal, D. Manuel António, que me conhecia. Não sabia que iria ser agraciado. Foi uma surpresa. No final da cerimónia fui chamado para ser agraciado. Outra surpresa foi o arquiduque ter-me convidado para actuar no baile real em Viana de Áustria em 2021, para fazer um espectáculo de música portuguesa. Foi fantástico e tenho de agradecer a Deus esta oportunidade e benesse. Sou muito grato por este percurso e ser reconhecido porque vivemos num país onde as pessoas nem sempre são reconhecidas em vida. Tenho essa felicidade de ser reconhecido em vida e isso dá-me muita felicidade.

S.M. – Este ano foi atípico. Como se está viver estes momentos tão difíceis para os artistas sem espectáculos devido à pandemia?

Clemente – Fui certamente prejudicado. Como este ano seria a celebração dos 50 anos teria espectáculos no mundo inteiro com os meus amigos, desde o Brasil, Austrália, Canadá aos Estados Unidos, Luxemburgo e França, entre outros. Em Portugal, iria cantar em muitos lugares. Seria o melhor ano de espectáculos de há vinte anos para cá. De repente fiquei sem nada. O último espectáculo foi a 20 de Janeiro. A partir daí começou a instalar-se a pandemia e começaram a cancelar os espectáculos. É uma tragédia. É uma comemoração de 50 anos de carreira, feliz por um lado, mas com tristeza por outro. Estou há muitos meses sem trabalhar. Não é só o palco que nos faz falta, os artistas são como as outras pessoas, têm as suas despesas e necessidades e vejo, nesta altura, o futuro com muita reserva. Disseram que iria haver ajudas do Ministério da Cultura mas nada chegou. Estou bastante apreensivo e espero que no próximo ano voltar à actividade.

S.M. – A nível de gravações, iria lançar um novo trabalho…

Clemente – Fiz o disco “Promessas de Amor” e tinha marcada uma tournée na Alemanha e mais temas para gravar. A editora Ovação vai editar duas canções, digitalmente, em Outubro para se associar ao espectáculo dos 50 anos. Depois não sei o que se vai passar. Tenho material gravado no estúdio de Ramon Galarza para acabar, com uma grande orquestra. Tenho outro trabalho no Canadá, também com uma grande orquestra para acabar porque aí sou o produtor e terei de pagar tudo e com esta situação será difícil. Peço saúde para continuar a cantar nos próximos anos.