Fundação Buehler-Brockhaus oferece escultura “Cautopates” a Setúbal

A Fundação Buehler-Brockhaus, constituída pelo casal alemão Hans-Peter e Marion Buehler-Brockhaus, doou ao município de Setúbal uma escultura romana do século III “Cautopates”, que poderá ser vista pelo público na reabertura do Convento de Jesus, marcada para 10 de Outubro.

A escultura em mármore, com altura de 47 cm, representa “Cautopates”, um dos dois guardas do deus Mitra, vai permanecer exposta na sala V dos claustros do convento, sendo a última oferta Fundação Buehler-Brockhaus que encerrou actividade no final de 2019.

Segundo Hans-Peter e Marion Buehler-Brockhaus “a escultura do Cautopates pertencia à colecção de arte antiga do Dr.Ludwig Beumer de Wiebaden, Alemanha”, adiantando que “a estátua esteve desde 1940 na posse dos seus avós paternos”.

“Durante o bombardeio da cidade, na Segunda Guerra Mundial, a casa incendiou-se quase completamente, atingindo a escultura e provocando as marcas de queimadura na superfície do mármore”, adianta o casal de mecenas.

Hans-Peter e Marion Buehler-Brockhaus explicam que em 2018 “tiveram a oportunidade de adquirir a escultura com a intenção de a doar à cidade de Setúbal por ocasião da inauguração do Convento de Jesus, agora restaurado, e por relações do Deus Mitra com a cidade e a região”, sublinhando que “foi a última doação da fundação, que extinguiu no final de 2019” e “no dia 5 de Agosto de 2020, os responsáveis ​​culturais José Luís Catalão e Maria João Cândido retiraram a escultura para a expor na sala V do claustro”.

Cautes e Cautopates pertencem ao culto de Mithras. São os dois torcheiros representados ladeando o deus Mithras nas imagens romanas antiguas mithraicas. Eles usam barretes frígios e geralmente são representados com as pernas cruzadas.

O culto de Mitra tem origem no século XIV antes Cristo, na Índia. Mais tarde, no Irão, transformou-se e Mitra converteu-se no representante divino das alianças masculinas. Desde o século I d.C., no Império Romano, Mitra foi considerado um deus salvador, ligado ao sol, adorado especialmente pelos legionários romanos.

Os templos do culto de Mitra começaram por ser em cavernas naturais, mais tarde construções escuras e sem janelas, que se espalharam desde o século II d.C. em todo o império romano e se arrastaram por toda a Europa até a Inglaterra.

Na parede dos fundos das mithraea, na exedra, ficava a imagem do culto, quase sempre em relevo. Os dois guardas de Mitra, Cautes e Cautopates, em trajes frígios, e com tochas nas mãos, flanqueavam o deus Mitra no momento em que subjuga um touro, prostrado a seus pés

Encontram-se também mitreis em Tróia, provavelmente sob a basílica paleocristã, e também provavelmente na margem norte do Rio Sado, na actual Mitrena (Setúbal), que servia de ancoradouro para os navios romanos.

Fundação Buehler-Brockhaus apoiou recuperação do Convento de Jesus

Recorde-se que a Fundação Buehler-Brockhaus já tinha doado o ano passado 120 mil euros para as obras de requalificação do Convento de Jesus, ao abrigo do mecenato, e em resposta ao pedido feito pela Câmara Municipal de Setúbal.

Como forma de agradecimento, o município sadino homenageia a fundação e os fundadores, Hans-Peter Buhler e Marion Buhler-Brockhaus, com a colocação de uma placa numa sala dos claustros do Convento de Jesus.

A Câmara Municipal de Setúbal reconhece, “uma vez mais, o papel fundamental da parceria activa com a Fundação Buehler-Brockhaus”, cujo apoio mecenático, aliado à comum preocupação de salvaguarda e preservação do património artístico, “tem contribuído notoriamente para o engrandecimento e a afirmação de Setúbal”.

O protocolo celebrado entre a Câmara Municipal de Setúbal e a Fundação Buehler-Brockhaus, vigente deste 16 de Março de 2011, já permitiu beneficiar a cidade com diversas obras de arte e proporcionou contributos financeiros importantes por parte da fundação para diversas obras de requalificação.

As esculturas evocativas de várias profissões instaladas no Mercado do Livramento e as peças escultóricas que embelezam as rotundas das Fontainhas, do Monte Belo e da principal entrada da cidade de Setúbal com a escultura dos golfinhos, são exemplos obras de arte comparticipadas ou doadas por aquela entidade. A fundação apoiou também, financeiramente, a recuperação e o restauro de painéis de azulejos do Mercado do Livramento e a requalificação urbanística da zona ribeirinha da cidade, na rua da Saúde, na frente urbana da Doca dos Pescadores.

Os mecenas efectuaram doações de peças antigas para o Museu da Cidade de Setúbal como o “Calvário”, do séc. XVII, em 2014, e a escultura romana “Cautopates”.

A fundação apoiou ainda várias actividades ligadas à música, teatro, dança, cinema e publicações da Liga de Amigos de Setúbal e Azeitão (LASA). Os apoios estenderam-se também a actividades sociais de instituições da cidade.

Hans Peter e Marion revelam que a fundação “está orgulhosa” pelos investimentos efectuados em Setúbal e por ter sido “uma parte activa no desenvolvimento” da cidade. “Ver Setúbal chegar ao nível de hoje é uma grande alegria”, concluem.