Jovens salvam Culsete

Desde meados de Setembro que o encerramento da carismática livraria Culsete em Setúbal, fundada pelo saudoso Manuel Medeiros, faz parte das conversas dos que se interessam pela literatura e sobretudo pelos livros em papel. Tudo parecia perdido, o fecho das portas daquele espaço situado na avenida 22 de Dezembro, junto ao parque do Bonfim, já estava dado como facto adquirido desde o final de Outubro.

Pois é, mas nem tudo são desgraças e eis que surgiu um grupo de jovens empreendedores de Setúbal para assumir a gerência da livraria. O anúncio foi feito pela nova gerência, no site da Culsete, no Facebook, impedindo assim o seu encerramento. “Depois do anunciado encerramento de uma das mais relevantes livrarias independentes do país, temos o prazer de informar que a Culsete não vai fechar”, anuncia o grupo de jovens, frisando que “resolvemos abraçar este projecto, numa lógica renovada, mas mantendo o mote que sempre orientou esta livraria, fruto do trabalho e dedicação do casal Manuel e Fátima Medeiros ao longo dos seus 43 anos: A Culsete para Setúbal, Setúbal com a Culsete”.

A livraria continuará aberta até ao Natal, dando assim hipótese aos setubalenses em fazer as suas compras neste local. Depois da época festiva vai encerrar por breves semanas para obras de remodelação. No início de Fevereiro, a Culsete reabrirá de “cara lavada”, com “novas iniciativas e valências, mantendo-se como espaço incontornável na divulgação da leitura e da cultura em Setúbal”, prometem os jovens.

Recorde-se que, aquando das comemorações do Dia de Bocage e do concelho de Setúbal, Fátima Ribeiro de Medeiros, proprietária do espaço, anunciou o encerramento do mesmo, por razões de saúde. Tal situação deixou muita gente triste em saber que um espaço cultural, uma referência da cidade, colocava fim a 43 anos de história. A Culsete, fundada pelas mãos de Manuel Medeiros, que faleceu há três anos, e da sua mulher, parecia ter chegado ao fim.

“Por razões que se prendem com a salvaguarda da minha saúde, vou dar por terminada, durante o próximo mês de Outubro, a actividade livreira da Culsete, cessando assim a intervenção de uma casa de leitura e para a leitura, cuja acção cultural teve uma dimensão local e nacional”, referia então, em comunicado, a viúva de Manuel Medeiros, um açoriano que se apaixonou por Setúbal, e fez desta cidade seu lar pessoal e literário.

Fátima e Manuel Medeiros realizaram quarenta e seis anos de mediação livreira, primeiro em nome da Culdex (três anos) e, desde 1973, em nome da Culsete. Fazem assim parte da história da cidade.

Haja que realçar a coragem deste grupo de jovens. Agora, caberá a todos os setubalenses a merecerem este voto de confiança e frequentarem esta livraria. Fazer daquele espaço cultural o local das suas compras, em detrimento das superfícies comerciais e do comodismo das novas tecnologias. Temos a obrigação moral, como cidadãos de Setúbal de apoiar estes jovens que não deixaram a Culsete fechar portas. Por isso, é favor de fazer as suas compras nesta mítica livraria. Fica aqui o apelo.