Recordações do Festival da Canção

O Festival RTP da Canção está de volta com uma edição renovada, que aposta na diversidade e em sangue novo de compositores e intérpretes. Terá duas semifinais, a 19 e 26 de Fevereiro, e uma final, transmitida em directo pela RTP, no Coliseu dos Recreios, no dia 5 de Março. O vencedor representará Portugal na Eurovisão, em Maio, na Ucrânia.

Depois do hiato em 2016, o Festival RTP da Canção promete “edição inesquecível”, segundo Daniel Deusdado, director de programas da estação pública, adiantando que o evento também assinalará seis décadas da televisão portuguesa, na grande final.

Sou ainda do tempo em que Portugal parava para assistir ao Festival da Canção, com o nervosismo de saber quem concorria e ganhava. Grandes compositores e cantores desfilavam tornando-se num verdadeiro espectáculo de música ligeira. Quem não se lembra de Dora “Não sejas mau para mim”, em que o seu visual arrojado e as surpreendentes botas foram temas de acesa discussão nos meios de comunicação social e dos portugueses em geral. De Maria Guinot que foi autora e cantou uma das mais belas canções de sempre “Silêncio e tanta gente”. Trouxe um honroso lugar e ainda hoje essa canção é recordada pela sua melodia orquestral. O “Playback” de Carlos Paião, desaparecido precocemente vítima de um acidente de viação. Brilhante, criou um dos temas mais populares que pôs muita gente a cantar em playback.

O facto é que quem passava pelo Festival da Canção ficava com a carreira musical garantida durante anos, mesmo que não obtivesse uma boa classificação lá fora. Aliás, nunca ganhamos mas estivemos quase com Lúcia Moniz com “O meu coração não tem cor” ou com José Cid com “Um grande grande amor”. Isto para não falar os “imortais” como Simone de Oliveira, António Calvário, Madalena Iglésias ou Paulo de Carvalho.

Setúbal conseguiu levar alguns nomes como Piedade Fernandes, que fez um furor na época pela sua beleza e belíssima voz. “Renascer de um trovador” não ganhou a edição de 1993 mas conseguiu surpreender o público. Toda a gente falava da menina bonita de Setúbal.

Nos últimos anos foi o descalabro total. Ninguém se lembra de quem ganhou o Festival da Canção. Canções sem história, pouco atractivas, cantores desconhecidos, enfim um conjunto de factores que contribuiu para que no ano passado não fosse realizado o evento.

Este ano, a direcção da RTP está a postar fortemente no certame, convidando artistas conhecidos compositores, como, por exemplo, Rita Redshoes, Luísa Sobral, Noiserv, Nuno Gonçalves (The Gift) e Nuno Feist. Entre as vozes escolhidas estão Márcia, três vencedores do “The Voice” (Fernando Daniel, Deolinda Kinzimba e Rui Drumond), Lena D’Água ou Márcia.

A boa novidade é que vamos ter uma representante de Setúbal, Celina da Piedade. Esta artista, completa, será responsável pela composição do tema e ainda o interpretará. A cantora acabou de lançar em Dezembro o terceiro do disco “Sol” (ed. Sons Vadios 2016). Celina da Piedade usa o acordeão e já fez parte de várias equipas de concertos de artistas como Rodrigo Leão.

Júlio Isidro será o presidente do júri do certame que divide com o público o peso dos votos. Catarina Furtado e Sílvia Alberto conduzem a final em directo do Coliseu, e caberá às duplas Sónia Araújo e José Carlos Malato e Tânia Ribas de Oliveira e Jorge Gabriel apresentar, respectivamente, a primeira e segunda semifinais, nos estúdios da RTP.

Vamos esperar para ver se vale a pena ou não a assistir a este evento que marcou a estação pública.

A terminar convém não esquecer que Setúbal recebe anualmente o evento Eurovision Live Concert que recebe vencedores do Festival RTP da Canção que representaram o nosso país  no Festival da Eurovisão bem como diversos artistas estrangeiros que também participam no mesmo certame.