Presidente da Junta de Freguesia de Azeitão: “Sebastião da Gama viverá sempre”

Se hoje, dedico estas palavras a Sebastião da Gama, é porque, ao contrário do que escreveu no Pequeno Poema “Quando eu nasci, ficou tudo como estava…”, não, não ficou tudo como estava.

Certa que quando escreveu estes e tantos outros versos não tinha, ainda, noção do impacto das suas palavras e acredito, que nem na morte tomou consciência da sua grandeza.
Confiou-nos muitos dos segredos sobre a felicidade, de como é fácil encontra-la nas coisas mais mundanas e banais que são afinal tão raras e únicas, como a perfeição da natureza, ou o amor.

“O Segredo é Amar”, uma lição tão profundamente simples nas palavras de Sebastião da Gama, que se eternizou pela sua obra e que deixa em todos nós Azeitonenses saudades de uma voz que se ouviu por apenas 27 anos, mas cujo eco perdura ainda hoje.

A palavra “apenas” talvez nunca tenha sido tão relativa porque o seu modo singular de ser, a dimensão humana, o olhar atento contemplando tudo e todos os que o rodeavam, a forma como fez uso da palavra e nos fez olhar em redor, faz com que Sebastião da Gama nos tenha oferecido um Mundo que, sem sabermos, já era nosso.
Fez da Serra a sua Mãe, consciente que foi esta quem o pariu enquanto poeta!

Percorreu o seu ventre, testemunhando o seu esplendor, sentiu os cheiros, ouviu o chilrear de diversos pássaros, conheceu mais de mil flores e elas conheceram-no também. A serra ofereceu-lhe as suas entranhas e o Poeta da Arrábida caminhou por elas até não mais as largar.

Foi poeta e professor. Duas condições, nele, indissociáveis visto que era também com poesia que exercia o seu papel de docente onde, com a sua sensibilidade, deixou reflexões tão profundas e didáticas que ainda hoje, 70 anos após a sua póstuma publicação, são uma lufada de ar fresco no que diz respeito ao ensino.

“É para nota?” (E havia medo na voz.) “Não. É para aprender” Pois sim senhor, para aprender é que é: para eu aprender, para o aluno aprender; para estarmos mais perto um do outro: para partirmos a aula ao meio: pataca a mim, pataca a ti.”

Consciente de que ensinava de um modo diferente, onde o aluno era em si a maior motivação, Sebastião da Gama não vivia na soberba de se achar maior que os demais. Aliás dizia que era dele “o bom propósito de ir melhorando e de chegar um dia (se o espírito se não acovardar com o tempo) em que serei quase um bom professor”. E assim: “É justamente nesse dia que eu morrerei: quando for quase um bom professor”.

Sabemos que morreu da doença, tuberculose, de que padecia desde a adolescência, mas perante o exposto direi sempre que Sebastião da Gama morreu porque já era um bom professor.

Descreve, na sua poesia, uma lúcida aprendizagem da morte, não como desistência e desalento, mas como confiança na vida, com a certeza que partiria cedo.
“Que a Morte, quando vier, não venha matar um morto. Quero morrer em pujança. Quero que todos lamentem, a ceifa de uma esperança.”

E assim foi! 70 anos depois continuamos a lamentar a sua morte tão precoce e a reconhecer a “ceifa de uma esperança.”, validada pelo bom Homem que mostrou ser e por pensarmos em tudo mais que nos poderia ter ensinado.
Incentivou-nos a sonhar. “Pelo sonho é que vamos” será sempre uma das frases, um dos poemas mais emblemáticas da sua obra.

Curiosamente publicada postumamente e por isso não posso deixar de fazer referência a Joana Luísa Gama. Amiga, companheira, sua mulher amada. Sem ela teria sido impossível perceber a dimensão da obra do Poeta. O amor foi mais uma vez o segredo e Joana Luísa, com inúmeras e diversas ações perpetuou Sebastião da Gama.

Sebastião da Gama continua vivo em Azeitão. Honramo-lo com uma estátua na Praça da República (Rossio) e mais recentemente podemos viajar na sua história e da sua amada visitando a Casa-Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama, onde podemos encontrar algum do seu espólio literário e pertences pessoais.

Diz-se que somos imortais enquanto alguém se recordar de nós e assim Sebastião da Gama viverá sempre.