Poemas em tempo de guerra

A minha amiga Aliette Martins é uma cidadã do mundo. Particularmente do de língua oficial portuguesa.

Tocada pela aprendizagem da concepção universalista dos povos quer a falam, cultivou a nossa fala pelo exercício da profissão de jornalista que abraçou. Daí à paixão pela literatura foi um passo. Um passo que se completou com a artista plástica que é.

Não estranhei, por isso, o telefonema que me fez dando-me conta da intenção de uma amiga, Filomena Afonso, em publicar um livro de poemas, adiantando-me logo o título “Poemas em tempo de guerra”.

A amizade entre ambas assenta em raízes com um tronco comum – a ligação a África e particularmente a Angola, de onde a Filomena é natural.

Este facto não me poderia ser indiferente. Desde que me conheço que invoco a minha própria dupla pertença, a angolana e a portuguesa. E porque ninguém pode renegar a mãe, como muitas vezes invoco, assumo-me luso-angolano.

Daí não ter hesitado em responder positivamente ao convite para prefaciar o livro “Poemas em tempo de guerra”. Só posteriormente, pela autora, tive acesso a estes, confirmando o que a amiga Aliette me havia transmitido. Sente-se terem sido escritos na idade da adolescência da autora, reflectindo as interrogações próprias dessa idade. Escritas quando essas interrogações se confrontavam com a guerra colonial, em Angola, há neles a incompreensão da realidade, como no poema “Todos dos dias”, ou mesmo o cansaço dela resultante, como exprime num outro poema “Cansaço”.

Depois há o desabrochar da amizade em versos que a têm por título num outro, até ao desalento e desânimo do rumo próprio. A Filomena deu a este poema e, apropriadamente, o título “Sem rumo”.

Claro que o desabrochar dos sentimentos que, nessa idade, explodem têm tradução em vários poemas como o “Gostar de ti”, sentimentos esses que não escapam ao próprio título do livro.

Mas é também de sentimentos, de outra natureza, que a Filomena escreve no poema “Mãe”, testemunho dos alicerces que tem seguramente, no reconhecimento da importância da maternidade.

O livro conduz-nos para a memória afectiva da nossa própria adolescência, o que não é questão menor neste período hedonista e de valorização dos mercados, que marginaliza princípios e valores. É útil e positivo revermo-nos nas interrogações desse tempo e, sobretudo, quando essa revisão se suporta em poemas escritos numa linguagem direta e simples. Que é o mais difícil de fazer.

Vítor Ramalho, secretário-geral da UCCLA (União das Cidade Capitais de Língua Portuguesa)


UCCLA recebeu lançamento “Poemas em Tempo de Guerra”

Teve lugar no passado dia 3 de fevereiro, pelas 17 horas, o lançamento do livro “Poemas em Tempo de Guerra” da autoria de Filomena Afonso, no auditório da UCCLA, em Lisboa. O livro tem prefácio do secretário-geral da UCCLA, Vítor Ramalho, e foi apresentado pela jornalista Aliette Martins.

Filomena Afonso, de 64 anos, nasceu em Angola, é fisioterapeuta e empresária, tendo a seu cargo a direcção da clínica que gere.

Aliette Martins abriu a sessão de apresentação do livro da sua amiga, lembrando  à vasta plateia que os acontecimentos protagonizados por Filomena Afonso, a partir do momento em que se conheceram em Setúbal,  num anoitecer chuvoso de Maio de 2012 para, feito esse enquadramento, lembrar Angola, onde também esteve em jovem,  para passar ao presente, caracterizando os bastidores vividos relativos à obra.

Já Vítor Ramalho, recordou Angola, tocando a sensibilidade de todos.