Orgulho de ser português

Há muitos anos que não me recordo de ver o povo português tão feliz e a sentir na sua pátria. Somos aquela máxima: “Pátria, futebol e fado”, que o antigo regime gostava de pregoar, mas passadas quatro décadas, continua latente no sangue luso. E não tem mal nenhum!

Estes últimos cinco anos foram terríveis para o país, onde basta assistir aos telejornais ou ler os jornais para aperceber-se que o nosso mundo gira em torno da palavra austeridade e sobretudo do “fantasma” alemão, que paira sobre a Europa. Tantos sacrifícios, lutas, desemprego, pobreza, estigma social, tudo parece ter ficado esquecido no dia 10 de Julho (curiosamente um mês depois da comemoração do Dia de Portugal), quando vimos Cristiano Ronaldo erguer, em Paris, a taça de Campeões Europeus de Futebol. Vibrou-se de alegria, o povo gritou, cantou, dançou e esqueceu todas as tristezas recalcadas durante anos.

Uns gritaram às janelas, outros bateram em panelas, apitaram gaitas, buzinaram os automóveis, tudo foi permitido numa noite de sonho. “Somos campeões” foi a expressão mais usada, além de muito palavrões, que perante tanta felicidade, parece que não incomodaram ninguém. Tudo era permitido.

As ruas de Setúbal, a exemplo do resto do país, encheram-se de gente, com carros a desfilar, orgulhosamente, com as bandeiras nacionais. Quem não se lembra do então seleccionador Scolari, no Euro 2004, que perdemos na final contra a Grécia, a pedir para colocarem a bandeira nacional nas janelas. Até então nunca tinha acontecido e esse bom hábito, de ser patriota, que continuou até ao presente.

Em França fomos a equipa do Euro 2016 mais criticada pela imprensa francesa, não iluminaram a Torre Eiffel com as cores da bandeira do vencedor (Portugal) a seguir à final do campeonato, provocaram desacatos no final do jogo, não deram destaque à nossa vitória, com excepção do jornal L’Equipe, e os portugueses foram humilhados e tratados de “nojentos” (a famosa palavra, em francês,  dégueulasses ), mas apesar de tudo isso, soubemos manter a nossa postura. Com raiva e revolta, engolimos as duras palavras que todos os dias eram ditas sobre nós, fomos superiores ao ignorá-los e ganhámos a taça.

Foi também o encontro dos emigrantes portugueses em França com o seu país. Milhares de tugas a desfilar com a bandeira nacional nas ruas de Paris. Eles contribuíram também para o êxito da nossa selecção. Montaram um cordão humano em volta dos jogadores, sempre presentes na chegada e na partida, dando palavras de incentivo. Foi bonito ver os emigrantes de várias gerações a apoiar os jogadores.

“Obrigado, Campeões, Fernando Gomes e Fernando Santos”, disse o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Este elogiou a liderança “tão inteligente” de Fernando Santos, bem como a coragem dos jogadores, que “nunca tiveram medo”. “Não há acaso, nem sorte, nem é uma equipa banal. Eu disse há um mês que eram os melhores da Europa”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa. O chefe de Estado lembrou o orgulho que a selecção deu aos emigrantes, aqueles que há meio século partiram, sem nada, lutaram por uma vida melhor, vivendo em bairros de lata, com todas as dificuldades, e agora puderam erguer a bandeira nacional com orgulho. Portugal ganhou à França, e isso quase que funcionou como um balão de oxigénio para aqueles lusitanos que têm os patrões franceses, levaram para o seu trabalho o símbolo de Portugal.

A festa foi bonita. Agora voltámos à realidade: sanções e o pesadelo da austeridade. Regressámos ao estado natural das coisas mas aquela taça ninguém nos tira.

Na última semana, fomos brindados com uma série de títulos europeus em várias modalidades. Portugal vive um momento feliz. Somos Campeões Europeus em Hóquei em Patins, facto que não acontecia há 18 anos. Vários atletas de atletismo também ganharam várias medalhas de ouro.