O cansaço de tantas campanhas

Nos últimos anos temos vindo a assistir à intensificação das campanhas solidárias, por tudo e por nada. O perigo desta situação é que começa-se a sentir um certo cansaço por parte dos portugueses perante tantos apelos e os números revelam essa tendência.

O maior exemplo do que falo foi a campanha do Banco Alimentar Contra a Fome que recolheu, nos dias 3 e 4 de Dezembro, 2.129 toneladas de alimentos, com o contributo de cerca de 42 mil voluntários um pouco por todo o continente e nos arquipélagos da Madeira e Açores, menos do que as 2.270 angariadas em igual campanha de 2015, ou seja angariou metade do previsto.

Apesar dos organizadores justificarem um resultado menos bom com o mau tempo que se fez sentir no passado fim-de-semana, não creio porque os centros comerciais estavam completamente cheios já com a febre das compras de Natal. Além disso, algumas declarações dos responsáveis, menos abonatórias, também contribuem para isso.

“Apesar das grandes dificuldades pelas quais passam ainda muitas famílias portuguesas, inúmeros são aqueles que não se conformam e estão disponíveis para partilhar e assim ajudar a minorar as dificuldades dos seus concidadãos”, afirmou Isabel Jonet, presidente da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome, adiantando que os alimentos vão agora ser distribuídos por um total de 2.700 instituições de solidariedade social, abrangendo mais de 426 mil pessoas “com carências alimentares comprovadas, sob a forma de cabazes ou de refeições confeccionadas”.

A campanha é prolongada online até ao dia 11 de Dezembro, sendo possível contribuir através da página www.alimentestaideia.pt.

Em Setúbal, ocorreram também dois eventos solidários, no passado fim-de-semana, onde participaram vários artistas setubalenses, entre os quais Jorge Nice, de forma gratuita, mas que contaram com pouco público.

“Caros amigos, venho por este meio fazer um desabafo relativamente ao ‘espírito solidário dos portugueses’ e neste caso específico, de uma grande maioria a população de Setúbal. Este fim-de-semana como não tive trabalho, participei gratuitamente em dois espectáculos de solidariedade a par de vários artistas da cidade e alguns ‘forasteiros’, sábado para a Refood (basicamente recolha de alimentos que sobram para doar a instituições carenciadas) e domingo para ajuda aos Bombeiros Voluntários de Setúbal”, refere Jorge Nice, na sua página do Facebook. Ora, adianta o artista “fiquei triste pelo facto de ambos os eventos não estarem mais do que 100 pessoas sendo que a maior parte delas seriam artistas e pessoal da organização”.

“Numa cidade com 200.000 habitantes é uma situação desoladora e desmotivante para quem organiza estes eventos. Como não me quero alongar muito neste desabafo queria só dizer que o mau tempo não é argumento porque os espectáculos foram realizados dentro de salas ‘minimamente confortáveis’ e a prova disso é a intempérie também passou pelo ‘Parque das Nações’ e esperemos que no futuro nenhum de nós não precise da ajuda do próximo”, desabafa Jorge Nice.

Fica o alerta. Os portugueses e os setubalenses são solidários mas terá de haver um critério na realização de eventos. É impossível ajudar todos no mesmo mês.