Manuel Véstias, presidente da Junta de Freguesia do Sado: “Sairei de consciência tranquila, de cabeça erguida, de que fiz o meu melhor e dei tudo de mim”

Manuel Véstias eleito em 2009 presidente da Junta de Freguesia do Sado, pela CDU, vai sair da autarquia em 2021 visto que não pode recandidatar-se em virtude de ter efectuado três mandatos consecutivos. Nesta entrevista, Manuel Véstias aborda o acompanhamento da junta de freguesia no combate à pandemia do Covid-19, as lutas ganhas juntamente com a população pela reabertura dos CTT e do balcão da Caixa Geral de Depósitos no Faralhão. Acusa o governo de não resolver o problema de acesso das Praias do Sado à EN 10-8 como tinha sido prometido pela Infraestruturas de Portugal em 2013, aquando da construção de um viaduto. O autarca está disponível para aceitar novos desafios colocados pelo partido (PCP) em 2021.

Florindo Cardoso

Setúbal Mais – Quais os principais problemas na freguesia?

Manuel Véstias – Temos algumas problema na freguesia que já são antigos como o acesso de Praias do Sado à Estrada Nacional 10-8, que ficou cortado devido à construção de um viaduto, (em 2013), altura em que a Infraestruturas de Portugal (IP) comprometeu-se com a população a encontrar uma alternativa mas até ao momento nada foi feito. Este é um problema do poder central em que a junta de freguesia e a Câmara Municipal de Setúbal, tem insistido junto do IP de construir aquele acesso. A população de Praias do Sado ficou amputada de um dos seus principais acessos e não estamos a ver que haja vontade política por parte do governo central em resolver este problema. A população reclama junto dos eleitos locais mas estamos impotentes para resolver este problema de acesso a Praias do Sado.

Estamos preocupados com problemas ambientais devido à deposição de lixo em zonas da freguesia, sendo um comportamento reprovável. Não aceitámos que haja empresas que fazem deposição de lixo, algum industrial como pneus e restos de material de oficinas e ramagens verdes, numa zona muito sensível, junto ao estuário do Sado. Deparámos ainda com muito lixo como plástico na zona costeira do rio Sado, que deveria estar acondicionado noutro local com o devido tratamento. Isto é um problema que não é exclusivamente da freguesia do Sado mas preocupa-nos bastante. Cada um dos nós tem de contribuir para salvar o planeta e combater a poluição.

Temos ainda da nossa parte de executar um conjunto de trabalhos em que a vontade de os resolver é grande mas falta tempo e dinheiro, nomeadamente a nível de asfaltamentos e construção de passeios porque a freguesia cresceu de uma forma não planeada sem um plano urbanístico ficando agora os problemas para resolver. Estamos a fazer o nosso melhor no sentido de resolver esses problemas.

Estamos muito preocupados com o nosso movimento associativo que está a sofrer os problemas da pandemia do Covid-19 e do confinamento que impediu o seu normal funcionamento e a realização de actividades.

Outra preocupação é a nossa comunidade sénior em que deixámos de fazer os eventos de convívio e não sei quando vamos conseguir novamente. Não podemos realizar o almoço anual no âmbito da pessoa idosa, em que juntávamos 300 reformados e pensionistas em convívio nesta altura do ano mas não será possível devido à pandemia.

Preocupa-nos também a abertura do ano escolar, os problemas de distanciamento e cumprimentos das normas de modo a que não haja nenhum surto com influência no normal funcionamento da nossa rede escolar.

Estamos preocupados também com o futuro dos nossos trabalhadores devido às novas áreas de descentralização que o governo que implementar.

S.M. – Está no último ano de mandato que termina em 2021. Foi uma experiência positiva?

M.V. – Sim. Não serei candidato a presidente da Junta de Freguesia do Sado porque concluo o terceiro mandato em 2021. Foi uma experiência muito positiva e enriquecedora. É daquelas experiências que nos fortalecem enquanto cidadão. Foi um processo de aprendizagem muito interessante e fico muito grato à população que soube apostar na minha pessoa e equipas que me acompanharam. O resultado está à vista. Sairei de consciência tranquila, de cabeça erguida, de que fiz o meu melhor, dei tudo de mim. Certamente que a população reconhece o trabalho que executamos nestes três mandatos. Estou disponível para dar mais de mim à comunidade, seja onde for. Há coisas que não resolvemos porque não dependem de nós, deixando um sentimento agridoce, travámos lutas que ganhámos juntamente com a população e saio com muita satisfação. Estou convicto de que as pessoas que a população escolher, espero que seja da minha linha política, deem continuidade a este projecto. A junta de freguesia deverá ser gerida por uma equipa que garanta o normal funcionamento. A Freguesia do Sado, embora seja das mais pequenas do concelho, cresceu e tem capacidade resolver os problemas. O Manuel Véstias estará sempre disponível para defender os direitos das populações para que sejam garantidos. Ninguém pagará o que foi feito ao longo destes anos.

O meu primeiro mandato como presidente de Junta de Freguesia do Sado foi em 2009. Estou na junta desde 1997, onde fiz um mandato com o presidente Eusébio Candeias e outro com o presidente Rui Higino, e no seguinte como presidente da assembleia de freguesia.

Freguesia do Sado

Manuel Véstias:

“Transmiti ao meu partido que estou disponível para aquilo que entender”

Manuel Véstias é uma figura carismática do sindicalismo português. Foi porta-voz da comissão de trabalhadores da antiga Renault e lutou juntamente com os colegas pelos direitos quando a fábrica saiu de Setúbal. Está à frente da Junta de Freguesia do Sado há 11 anos e agora está disponível para outras tarefas que o PCP entenda propor em 2021.

S.M. – Se o partido considerar que é útil para assumir outras funções está disponível?

M.V. – Sim. Transmiti ao meu partido (PCP), do qual faço parte, que estou disponível para aquilo que entender em termos das minhas tarefas. Acredito que não ficarei fora de nada, o partido irá certamente precisar deste quadro que se formou em várias frentes. Tenho uma longa experiência ligada aos trabalhadores, ainda hoje faço parte de uma comissão de trabalhadores. A minha experiência enquanto movimento associativo fui dirigente a Cooperativa de Habitação e Construção Económica “bem-Vinda Liberdade” e membro da assembleia-geral do Associação de Comércio e Serviços de Setúbal. Tenho experiência e continuo disponível para aprender. O meu lema é continuar disponível para aprender e para ajudar as populações de âmbito geral, seja onde for. Podem contar comigo sempre enquanto eu poder desenvolver aquilo que for necessário.

Junta de Freguesia do Sado no combate à pandemia:

“Temos apoiado as famílias que manifestam alguma deficiência económica”

A Junta de freguesia tem prestado apoio à população desde o início da pandemia do Covid-19 através da compra no comércio local de bens alimentares e entrega ao domicílio bem como de medicação nas farmácias.

Setúbal Mais – Como está a junta a acompanhar a situação da pandemia do Covid-19 na freguesia?

Manuel Véstias – A Junta de Freguesia do Sado, tal como as outras do concelho, está envolvida em acções coordenadas com a Protecção Civil de Setúbal. Temos apoiado as famílias que manifestam alguma deficiência económica, com a entrega de cabazes com alimentos, acompanhá-las. Fazemos a compra por solicitação de pessoas que estão com alguma dificuldade de mobilidade e entregamos no domicílio. Articulámos com as farmácias de Praias do Sado e a do Sado, em Santo Ovídio, para entrega de medicação, e com a Unidade Familiar de Saúde do Sado a divulgação de alguma informação necessária para as pessoas não convergirem todas ao mesmo tempo para o centro de saúde. No caso das pessoas confinadas, apoiamos ainda com a recolha do lixo programada. Entregámos as máscaras que a Câmara Municipal de Setúbal disponibilizou. Vamos dando apoio conforme os contactos das pessoas. Temos feito algumas desinfeções nos espaços públicos onde se concentra mais pessoas bem como nos estabelecimentos de ensino, antes do início do ano lectivo, colocando dispensadores de álcool gel que permitirá aos utilizadores fazerem a desinfeção das mãos à entrada das escolas.

S.M. – Com o agravamento da situação socioeconómica devido ao desemprego e lay off têm chegado mais pedidos de ajuda?

M.V. – Não disparou os pedidos de ajuda. É verdade que algumas situações são tratadas directamente pela Segurança Social, não passando pela junta de freguesia, mas pelos dados que recebemos nas reuniões ds Protecção Civil, não têm aparecido grande afluência de pedidos. A situação está controlada e tem havido resposta às necessidades. Admito que haja situações de famílias e cidadãos que por desconhecimento ou vergonha da pobreza não manifestam interesse de acompanhamento. A junta de freguesia tem divulgado as formas e os apoios existentes. Temos um grupo de voluntários, constituído por eleitos da assembleia de freguesia ligados aos movimento associativo, e outros elementos, que se disponibilizaram para fazer parte de uma bolsa de voluntários que fazem chegar bens de primeira necessidade às pessoas necessitadas. Até ao momento, foram poucas as vezes que foram necessários porque os próprios meios da autarquia e o próprio executivo têm conseguido responder a estas necessidades da população. Mantemos o anonimato daqueles que solicitam ajuda, e fazemos tudo com o maior sigilo possível de modo a que as pessoas não sejam expostas perante aa sociedade.

S.M. – Uma das grandes lutas da junta e da população foi a reabertura de uma loja dos CTT no Faralhão. Como está a decorrer esse serviço?

M.V. – Foi uma luta de todos, não exclusiva da junta de freguesia, embora sejamos o elo de ligação com as entidades responsáveis. Os CTT são uma entidade privada e fizemos essa articulação com o responsável da empresa da zona sul, José Brito, e demonstramos essa necessidade e foi sensível às nossas preocupações de estar no mercado e prestar um serviço público à comunidade. Recordo que esta situação resultou do falecimento de uma funcionária que assegurava os serviços nas instalações da Cooperativa de Habitação e Construção Económica “Bem-Vinda a Liberdade” e a partir desse momento os CTT acabaram por ter aqui uma deficiência de funcionalidade. Houve uma tentativa de aproximação da cooperativa com os CTT para efectuar um novo protocolo com outro funcionário mas as coisas não resultaram com o surgimento da pandemia do Covid-19 a colectividade encerrou as portas ao público. Foi necessário encontrar outro parceiro e isso foi conseguido com uma empresa que está ligada também aos seguros e contabilidade, e nos contacto que tenho feito com os gerentes, sei que as coisas estão a correr bem, sem problemas de maior. É necessário dar a conhecer a população que os CTT estão ali a funcionar em velocidade de cruzeiro, numa nova centralidade, no Alto do Faralhão, junto à agência da Caixa Geral de Depósitos, com a uma qualidade dos serviços prestados. Estamos satisfeitos com esta solução porque a comunidade necessita destes serviços. Já somos uma comunidade grande, a freguesia do Sado tem seis mil habitantes. É necessário ter aqui os serviços essenciais para poder descentralizar, e neste momento de pandemia é essencial que estejam os mais dispersos possíveis de modo a que não haja ajuntamentos de pessoas, com o devido distanciamento evitando o contágio deste vírus que nos assola.

S.M . – Outra luta foi a manutenção do balcão da Caixa Geral de Depósitos no Faralhão?

M.V. – Foi uma luta conseguida com a população. Nestes processos é necessário estarmos sempre muito atentos. A população juntou-se, aderiu e defendeu e felizmente os gerentes da Caixa Geral de Depósitos, de âmbito regional e nacional, perceberam que o volume de negócios, tal como dizíamos, tinha capacidade para se expandir e os lucos obtidos eram suficientes para puderem continuar. As coisas estão a correr bem. Há aqui um problema, a exemplo de outros serviços públicos, que é a limitação de pessoas no acesso ao espaço interior, em que esperam na rua, sem condições, ao sol e chuva, o que nos deixa preocupados porque poderá trazer outros problema de saúde como as gripes e constipações, em virtude do distanciamento a qual estamos todos obrigados. Contudo, até agora aquilo que tenho recebido da população é uma satisfação, embora com esta preocupação da espera demorada na rua pelo atendimento.