Livro conta 140 anos das Conservas de Setúbal: Cidade contou com mais 400 fábricas

A cidade contou com mais de 400 fábricas de conservas de peixe, principalmente de sardinha, ao longo de 140 anos. O apogeu aconteceu em 1919 e o declínio em 1995, com o encerramento das duas últimas conserveiras. O livro de José Madureira Lopes e a Alberto Sousa Pereira acaba por ser um documento histórico que serve como base de estudo sobre esta indústria que dominou a economia local durante um século.

 O livro “A indústria das conservas de peixe em Setúbal”,  de José Madureira Lopes e a Alberto Sousa Pereira, foi lançado no passado sábado, dia 19 de Dezembro, nos Paços do Concelho, numa cerimónia que contou com várias dezenas de pessoas. O livro, o segundo desta dupla de autores, com 300 páginas, várias imagens e gráficos, é um importante documento histórico que servirá de apoio a estudos sobre esta indústria.

A obra conta história da ascenção e queda da indústria conserveira em Setúbal que teve uma duração de 140 anos, sendo a primeira instalada por um empresário francês em 1855, num terreno junto à doca da cidade, terminando em 1995 com o encerramento das fábricas “Regina” e “Vasco da Gama”. Durante várias décadas foi a principal base de susbistência económica para milhares de famílias e permanece na memória dos setubalenses. Existiram 420 fábricas em laboração o longo de 140 anos que comercializaram os seus produtos através de 613 marcas, pertencentes a 97 fabricantes. O auge foi em 1919 com 132 unidades em laboração.

Alberto Sousa Pereira disse que “o livro resume 140 anos de história da indústria de conservas de Setúbal, essencialmente da sardinha já que os outros peixes tinham pouco peso” e “procura responder a todas as questões que normalmente as pessoas fazem”. “Não é possível pensar Setúbal sem compreender o papel das indústrias de conservas na cidade, como a transformou a nível económico, social e cultural no século XX”, adiantou.

Já José Madureira Lopes salientou que “a indústria de conservas está na memória de todos nós porque temos famílias e nos círculos de amizade que trabalharam lá” e esta obra “resultou de muito trabalho de pesquisa”.

Por sua vez, o vereador da Cultura, Pedro Pina sublinhou que este livro é “provavelmente a mais importante obra sobre a cidade e os setubalenses editada nos últimos anos” que “relata a força e o motor da cidade de uma boa parte do século XX”.

Este livro afigura-se como documento importante para a crónica setubalense, sobretudo porque a identidade desta terra passa obrigatoriamente pelo sector das conservas, que eram saboreadas além fronteiras.

É conhecida a história passada com Sebastião da Gama, que, na sua deslocação a Paris, em 1948, aproveitou o último dia para entrar numa livraria e adquirir obras de autores franceses que admirava. No final, não tinha francos em quantidade suficiente para o pagamento. Pediu à senhora da livraria para os trazer fiados, que lhe enviaria o dinheiro logo que chegasse a Portugal. No decorrer da conversa, a livreira percebeu a origem geográfica do poeta e pediu-lhe: “Já que é de Setúbal, quando lá chegar, faça-me o pagamento não em dinheiro, mas enviando-me o equivalente em conservas de Setúbal”. Sebastião da Gama lá trouxe os livros e, chegado a Portugal, cumpriu a dívida e correspondeu ao pedido.