José Raposo, poeta: “A poesia é um rio de emoções”

José Raposo vai lançar o livro de poesia “Rio de Emoções”, no dia 24 de fevereiro, pelas 16h00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Setúbal. O livro, uma edição de autor, conta com 122 poemas. O poeta, com 76 anos, nascido em Santiago do Cacém, mas cedo veio para Setúbal, aos 25 anos, onde trabalhou durante quatro décadas na Farmácia Lisboa. Aos 50 anos descobre o gosto pela poesia e desde então já lançou dois livros, ganhou prémios em vários concursos literários e venceu ainda a letra da Grande Marcha de Setúbal em 2009, e ano no seguinte a Grande Marcha Lisboa e em 2012 em Almada. Ao todo, escreveu mais de meio milhar de poemas, muitos cantados por fadistas. Considera-se um poeta de rua, que abrange várias temáticas do quotidiano, apresentando uma simplicidade bela que fica no coração das pessoas.

Florindo Cardoso

Setúbal Mais – Como surgiu a ideia de lançar o livro de poemas “Rio de Emoções”?

José Raposo – Confesso que este livro não estava nos meus planos a exemplo do meu segundo livro “Pedaços de Mim”. Vou andando por aí, mas sempre escrevendo. Só que pensei na seguinte situação. Vou fazer 77 anos em maio, entrando na fase final da vida e se tenho aqui tantos poemas, decidi lançar este livro, dedicado às pessoas que me ouvem através dos fadistas, me rodeiam e gostam de mim. Sinto que as pessoas gostam de mim e este livro é um obrigado às pessoas. Este livro inclui 122 poemas, todos originais.

Setúbal Mais – Porquê este título?

José Raposo – Todos os meus livros têm títulos que estão relacionados com alguma coisa. O primeiro “Afectos e Cumplicidades”, porque foi feito de afetos com a cumplicidade de várias pessoas como a que pintou a capa. No segundo, pensei, e só poderia ser “Pedaços de Mim”, fazendo uma homenagem às pessoas que me cantam, constando o nome dos artistas que cantaram os meus poemas e quem os musicou, desde as marchas, às canções infantis e fados. Este “Rio de Emoções” é todo feito de emoções. A poesia é um rio de emoções e o nosso rio azul é também cheio de emoções. Tem tudo a ver, como um farol sobre o qual escrevo um poema (És o farol da minha vida/Tua luz nunca se apaga/O simples chamar por ti/aquece a minha alma. Por isso a ti poesia confesso/porque amar-te assim será pecado/Nem sei se porventura se te mereço/Pois se sou poeta, é por acaso). A capa do livro é uma aguarela de Lurdes Pólvora d’Cruz. O interior, o livro tem sete separadores, com vários, temas, em que cada um tem uma aguarela a preto e branco, da mesma pintora. Foi uma oferta de amigo. Foi tudo rodeado de emoções. Só poderia ser este título, a poesia é um rio com ondas, mais ou menos alteradas e histórias de amor. Eu escrevi muita poesia de rua. Quando morava no bairro Montalvão e ia a pé para a Farmácia Lisboa (baixa da cidade), e a inspiração ia nascendo como o sino de uma igreja na praça de Bocage. Chegado à farmácia escrevi o poema (Toca o sino da igreja/em dia de vendaval/É o vento que deseja/Ao passar deixar sinal/Sinal à moça bonita/por quem se prendeu de amores/Com o seu vestido de chita bordado/De lindas cores/Era a moça mais bela/Que na sua rua havia/E o vento ao passar por ela/Ao seu ouvido dizia/ Hás-de ser minha um dia/E ao seguires os meus passos/Sentirás que há magia/Na brisa dos meus abraços).

Setúbal Mais – Quem vai apresentar o livro?

José Raposo – Estou a pedir o apoio da Alexandrina Pereira (poeta e presidente da Casa da Poesia de Setúbal) para ajudar-me no alinhamento da apresentação do livro. Pretendo ter a presença do vereador da Cultura da Câmara de Setúbal, Pedro Pina, o João Completo que vai ler o prefácio, que é da sua autoria, e declamar dois poemas. Pretendo ainda ter o Júlio Correia, que declama poesia maravilhosamente e escreveu o posfácio. Quero ter a presença dos meus netos, que vão declamar poesia. O Carlos Bondoso também vai declamar um poema, o Jacob e a Lurdes d’Pólvora também. Haverá música com poemas meus, incluindo fados de Coimbra. Quero fazer uma festa agradável.

Setúbal Mais – Tem um percurso muito interessante nas marchas?

José Raposo – Sim. É uma história muito engraçada. Conheci o maestro Carlos Pinto no Café do Álvaro Félix (já não existe), numa altura em que escrevia poesia há pouco tempo. O maestro desafiou-me embora nunca tenha escrito até então uma marcha. Não sabia nada. Escrevi um poema e o maestro adorou. Foi uma coisa inata. Faço marchas com sentimento e não para ganhar dinheiro e prémios como algumas pessoas, e já deixei esse mundo. Ganhei a letra da Grande Marcha de Setúbal em 2009 com “Setúbal Cidade Bela” e no ano seguinte a Grande Marcha de Lisboa com “Lisboa Menina”. Foi o pioneiro, nunca ninguém de Setúbal tinha ganho. Em 2012, concorri à Grande Marcha de Almada com “Almada és Liberdade” e também ganhei. Continuei a fazer marchas, mas senti-me um pouco desiludido, porque tendo ganho três prémios importantes, como é que se percebe que nunca sido convidado para fazer a letra de uma marcha para uma coletividade de Setúbal.

Setúbal Mais – Como foi a sua entrada no mundo dos fados?

José Raposo – Foi na fase que abandonei as marchas e passei ter um relacionamento próximo com os fadistas como Maria Caetano, Carla Lança, Vítor Miranda e Inês Pereira, entre tantos outros. Tenho à volta de vinte fadistas a cantarem coisas minhas. São poemas simples que ficam no ouvido. Entre cantados e gravados tenho meia centena de fados e depois tenho a mesma quantidade de inéditos. Adoro o fado e esta gente toda. Lembro que há dois anos, no auditório Bocage, numa homenagem, treze fadistas cantaram 27 fados da minha autoria.

Setúbal Mais – No geral, quanto poemas tem escritos?

José Raposo – Entre 500 a 600 poemas.

Setúbal Mais – Começou a escrever poesia só aos 50 anos?

José Raposo – Tem uma história e não foi por acaso. Não sou homem da noite, só saia para assistir às atuações de fadistas. Havia o restaurante “Dona Galinha”, ao lado do Teatro do Bolso, do Teatro Animação de Setúbal, e fiquei seduzido pelo ambiente, com fadistas, tocadores e artistas, onde fiz amizade com os atores Álvaro Félix, Manuel Bola e Fernando Guerreiro. Este ajudou-me muito no sentido crítico. Na última noite de fados desse restaurante, antes escrevi umas quadras a mostrar o comportamento de cada um que frequentava o local, de forma divertida, e um poema de lamento à perda deste espaço, mais dramático, e as pessoas gostaram muito. Era para começar e acabar ali. Só que tive a sorte de ter pessoas amigas como Fernando Guerreiro e Alexandrina Pereira para incentivar-me a escrever poemas. Comecei a concorrer a concursos literários e ganhei muitos. Nunca me envaideci. As pessoas já reconhecem o meu trabalho. Eu escrevo o que as pessoas querem ouvir.

LIvo “Rio de Emoções”, com aguarela de Lurdes D’Pólvora

José Raposo

Alma poética descoberta aos 50 anos

José Alberto nasceu a 30 de maio de 1947, em Santiago do Cacém, onde passou a infância e a adolescência.

Em 1968 vai para Beja, onde inicia o serviço militar que o há-de levar a Coimbra, Lisboa e mais tarde a Angola.

A 3 de Janeiro de 1972 vem para Setúbal exercer a sua profissão de técnico na Farmácia Lisboa, onde durante quarenta anos desenvolveu uma relação próxima com as pessoas.

Casado, pais de dois filhos tem quatro netos a quem dedica grande parte do tempo.

Começou a escrever aos 50 anos, mais precisamente em fevereiro de 1998, quando a sua alma poética emergiu. Considera-se um poeta versátil e de rua, pois é nela que nascem a maior parte dos seus poemas.

Há na sua poesia um encontro de sentimentos diversos, onde a realidade e o sonho se confundem numa perfeita sintonia. Vê o colorido da vida nas coisas mais simples, intercalado com fragmentos de uma realidade que viveu e amou de forma intensa.

Muitos dos seus poemas denunciam a sua raiz popular com saudável ironia e humor quanto baste, tão do agrado dos poetas alentejanos. Construiu, no entanto, outros poemas recheados de cadência musical, fruto da livre fluência de sentimentos quando isenta da preocupação da rima. Em suma, José Raposo não fabrica versos, não produz poemas, antes liberta de si, em linguagem simples e objetivos sob forma de poemas percebíveis, a sua forma poética, a sua maneira de estar no mundo.

Os seus locais de existência no Alentejo e em Setúbal, são a referência geográfica, onde assenta sua sensibilidade.

Em maio de 2006 publica o seu primeiro livro de poesia “Afectos e Cumplicidades”.

Participa em vários concursos de poesia e é distinguido com vários prémios.

Publica em diversas antologias, participa regularmente em momentos de declamação poética para os quais é convidado.

Na rádio manteve durante 52 semanas a rubrica “A Voz do Poeta” sobre poesia e poetas.

Na RTP colaborou num programa transmitido semanalmente escrevendo texto poéticos para o seu amigo, o ator Álvaro Félix.

Autor de letras para o Hino do LATI em parceria com o Maestro Carlos Pinto, e da União Futebol Comércio e Indústria (no seu centenário), SANERJET. Ainda com o maestro Carlos Pinto formou uma parceria vencedora em vários Festivais da Canção Infanto-Juvenis.

Em 2009, e mantendo a parceria com Carlos Pinto, escreve para o concurso da Grande Marcha de Setúbal como o tema “Setúbal Cidade Bela” e foram vencedores, o mesmo acontecendo em 2010 quando escreveu para o concurso da Grande Marcha de Lisboa com o tema “Lisboa Menina” e em 2012 vencem a Grande Marcha de Almada com o tema “Almada és Liberdade”.

Tem um projeto musical a que deu o nome do seu livro “Afectos e Cumplicidades” e que consta de poesia de sua autoria dita e cantada ao qual juntou a voz da fadista Carla Lança, o piano de Carlos Pinto e o saxofone de Caló.

Em 2021 edita mais um livro de sua autoria com o título “Pedaços de Mim”, onde reúne temas de fado, marchas, canções, hinos, alguns já gravados e muitos inéditos.

Em 2022 é homenageado pela Junta de Freguesia de S. Sebastião no auditório Bocage onde 13 fadistas de Setúbal cantaram 27 fados com letra de sua autoria.

Foi condecorado com a Medalha de Honra da Cidade de Setúbal na vertente Cultura.

Faz parte da direção da Associação Casa da Poesia de Setúbal.

É associado do Núcleo de Poesia de Setúbal.

Está inscrito na Sociedade Portuguesa de Autores.