“Instante”: Livro, guardiã da palavra

 “(…) não se sabe quantos séculos os afastou. Mas pouco importa porque se o Tempo existisse voltaria sempre ao mesmo ponto de partida como o círculo perfeito”.

Aliette Martins

Instante” é o título do primeiro Livro de Daniela Martins publicado com a chancela da “Chiado Editora”, dando resposta a um desejo desta jovem barreirense que manifestou desde muito nova o seu gosto pela literatura.

Sobre o tema ficcionado, destaque-se o comentário de António Chaínho, um particular amigo, com responsabilidade no universo das Letras, e que, como é do conhecimento público – com a sensibilidade que o caracteriza – dotou o panorama nacional com a verdade que o Livro oferece, aliás, “A Pensão Avenida”, a sua última obra publicada, espelha a força do seu carácter e talento. Nesse quadro de clareza com que António Chaínho nos convida a mergulhar nos temas que aborda, ninguém melhor do que o escritor nos daria uma primeira abordagem sobre o conteúdo do livro com a assinatura da Daniela que aqui está em foco, destacado também com a palavra escrita de Aliette Martins.

António Chaínho refere que “trata-se de um texto extremamente ficcionado, de uma densidade descritiva marcante, onde as personagens viajam abruptamente no tempo, por vezes, aparentemente sem nexo. Contudo, a capacidade criativa da autora leva ao leitor um profundo desassossego, devido à interacção por ela criada. De facto, ligar Henrique VIII (séc. XVI) a Maria Antonieta (séc. XVIII) a Antero ou a Pessoa, exige da parte de quem lê uma particular elasticidade intelectual, não acessível a todos. É como que de um jogo se tratasse. O texto é, por si só, uma metáfora que reflecte profundo conhecimento mitológico, filosófico, histórico e literário da autora”.

Daniela Martins nasceu no Barreiro em 20 de Janeiro de 1995. Iniciou os seus estudos no Externato Diocesano Sebastião da Gama, em Setúbal, terminando o quarto ano. Concluiu o secundário e terceiro ciclos, na sua cidade natal e, presentemente frequenta a Faculdade de Direito de Lisboa. Desde cedo manifesta a sua paixão pela pintura e pela literatura, ramos do saber a que dedica parte do seu tempo a par das Ciências Jurídicas.

No livro pode ler-se: “(…) deixe de pensar tormentas. O mundo é o momento”; o nosso momento”. Antes do sonho, a reflexão: “não olhando para trás, para o Nevoeiro” porque “as brumas encurtavam o horizonte, deixe de pensar tormentas. O mundo é o momento; o nosso momento”. “Se o Tempo existisse voltaria sempre ao mesmo ponto de partida, como o círculo perfeito que os gregos adoravam”.

A autora convida o leitor a uma reflexão primeira sobre “(…) O Tempo… essa fórmula mágica que os homens inventaram para contar a vinda de cada luar” e, no plano físico, o “Livro, guardiã da Palavra” soltando amarras  da “Nau” principal em que “Navega” no idealizado Tempo (sem tempo), construindo uma história que se cumpre na libertação consciente de personagens que continuam a viver para além do limite da Vida através do Sonho, essa dimensão de luz em que mergulhamos quando fechamos “os olhos e a luz que via já não era a mesma. Será sim multiplicidade”.

Subscreveu a autora, de Henri Bergason: “Reconheço que é no tempo espacializado que nos instalamos normalmente. Não temos nenhum interesse em escutar o rumarejo ininterrupto da vida profunda. E, no entanto, a duração real está aí.”

No Reino sem Reino do imaginário humano, o Tempo é a âncora que poderá deter a perfeição do “Instante” de cada um dos personagens, quando um sentimento profundo os une no mesmo propósito.

É no espaço invisível do “Instante” que se cumpre – num tempo ficcionado – a promessa da descoberta capaz de iluminar a existência do Ser.

Estas são, a meu ver, as mensagens do Livro “Instante” de Daniela Martins, prefaciado por Pedro Manuel Arrifano – Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Mestre em Filosofia pela Faculdade de Filosofia de Ciências Sociais e Humanas.