Henrique Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional de Setúbal: “Estamos apreensivos mas não acredito que vai haver uma quebra abrupta de vendas em 2023”

O presidente da Comissão Vitivinícola Regional de Setúbal, Henrique Soares, manifesta-se apreensivo com 2023 devido aos efeitos da guerra na Ucrânia, que causou o aumento dos custos de produção e sobretudo da inflação, mas nos últimos 10 a 12 anos tem corrido de tal forma bem, em que as empresas estão capitalizadas e com robustez, e não acredita que vai haver uma quebra abrupta das vendas. A região produz 4% do vinho do país, mas tem 12% em valor, ou seja, o triplo em vendas. O Brasil continua a ser o principal mercado de exportações.


Florindo Cardoso


Setúbal Mais – Este ano foi o regresso do concurso de vinhos à normalidade?
Henrique Soare
s – Sim. Este ano foi o regresso à normalidade com muito entusiasmo por parte das empresas. Tivemos 175 vinhos de 23 produtores, estamos com os números habituais antes da pandemia do covid-19 e o expetável para a realidade economia da região de Setúbal, tendo em conta o número de empresas que temos e o volume de vinhos que produzimos. O número de medalhas é sempre limitado em função número de vinhos a concurso, e este ano são 53 medalhas, 16 de prata e 37 de ouro e os prémios especiais.


Setúbal Mais- Como foi o ano em termos de produção e vendas.
Henrique Soares –
O ano de 2022 ainda não está fechado, e neste mês e meio pode fazer a diferença entre crescimento, manutenção ou ligeiro decréscimo, devido às vendas de Natal. O ano de 2021 foi extremamente positivo, com um crescimento de 6% em volume e 12% em valor. Este ano se ficarmos em linha com 2021 já será muito bom.


Setúbal Mais – Qual foi o impacto da guerra na Ucrânia?
Henrique Soares
– A conjuntura, pós pandemia já vinha dando sinais, que iria haver dificuldade nas cadeias logísticas, no preço de muitas matérias primas e alguma inflação. A guerra desabou sobre isso tudo e exponenciou os efeitos negativos nas dificuldades logísticas e de transporte, no aumento das matérias primas e da energia e a inflação que disparou para 10%. Diria, que no verão, devido ao grande afluxo turístico, e no caso do vinho, ainda passámos incólumes, mas no último trimestre temos a sensação de as coisas estão a arrefecer, com alterações de consumo e no cabaz de compras. Em relação ao próximo ano temos alguma apreensão, mas no caso da nossa região, nos últimos 10 a 12 anos tem corrido de tal forma bem, em que as empresas estão capitalizadas e com robustez, e não acredito que vai haver uma quebra abrupta. O vinho, ainda que não sendo um produto essencial, e temos a experiência da crise do sistema financeiro de 2008/2009, que foi problemática, e passámos relativamente bem, quase pelos intervalos da chuva. Estamos com apreensão, mas confiantes de que a região vai mais uma vez contornar as dificuldades. Atendendo que é um produto que vive numa concorrência quase perfeita, que também se globalizou, há sempre problemas e oportunidades e a região já demonstrou que tem capacidade para desbravar novos mercados quando é necessário e ir à procura de alternativas como aconteceu em 2013 com Angola, em que caiu quase a pique, a região ressentiu-se, mas passados dois a três depois já tínhamos recuperado.
A Rússia era um mercado interessante para nós e até a própria Ucrânia, com crescimento nos últimos dez aos. Foram encomendas que se perderam e foram precisos encontrar novos mercados.

Setúbal Mais – A região de Setúbal está a chegar a novos mercados?
Henrique Soares
– Nos últimos anos, a região de Setúbal tem evoluído muito bem nos mercados do Brasil, Reino Unido e dos Estados Unidos. Os mercados da União Europeia, de maior concorrência e mais sensíveis ao preço, é mais difícil crescer. A China, com a pandemia foi um mercado que fechou-se muito.

Setúbal Mais – Quais os principais desafios?
Henrique Soares
– Já certificamos 85% da nossa produção, vinhos da península de Setúbal, de Palmela e moscatéis de Setúbal. Neste patamar em que estamos, a nossa guerra vai ser a questão do valor, acrescentar cêntimos ao preço médio, tentar vender melhor e procurar mercados que valorizem mais os nossos vinhos. O sucesso da nossa região está na moderna distribuição, onde é difícil subir preços. A restauração com o fluxo de turismo também tem corrido muito bem.


Setúbal Mais – Qual o principal mercado externo para os vinhos de Setúbal?
Henrique Soares
– É o Brasil desde 2019. Ainda tem potencial para crescer. Na pandemia, as vendas dos vinhos cresceram ainda mais no Brasil. Não fosse as desvantagens competitivas de taxas alfandegárias, como tem o resto da União Europeia, os nossos vinhos no Brasil teriam um mercado sem limites.