Entrevista com Fábia Rebordão, fadista: “O fado ganhou uma dimensão incrível no mundo”

Fábia Rebordão, uma das novas vozes do fado e descendente da diva Amália Rodrigues, vai actuar no dia 23 de Junho às 22h30 no recinto da PIMEL – Feira do Turismo e das Actividades Económicas de Alcácer do Sal. A fadista, que canta o grande sucesso “Falem agora”, da autoria de Jorge Fernando, terá uma convidada especial, que tudo indica que será Mariza.

Florindo Cardoso

 

Setúbal Mais: Como vai ser o concerto na PIMEL?

Fábia Rebordão – Estou muito contente pelo convite do presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, Vítor Proença, e estou a preparar um concerto muito interessante, juntamente com os meus músicos, com quem trabalho. Também apresento uma surpresa que não posso revelar. Acredito que vai ser um concerto muito bonito.

S.M. – Pode revelar o repertório que apresentará neste espectáculo?

F.R. – Vou fazer uma passagem pelo primeiro e segundo álbum, o fado tradicional e o folclore. Vai ser um espectáculo bastante eclético.

S.M. – Como está a decorrer o seu segundo disco “Eu”?

F.R. – Está a decorrer muito bem, as pessoas têm demonstrando muito carinho por mim. Tenho-me sentido muito acarinhada pelo público nos concertos. Acabei de dar concertos na Colômbia e Argentina, com salas esgotadas e o público a receber-me muito bem. Estou muito feliz. Além disso, fui nomeada para os Globos de Ouro deste ano, o que me deixou muito feliz e satisfeita. Considero que foi muito bem entregue à Carminho, mas só facto de ser nomeada juntamente com António Zambujo, Cristina e Carminho, já foi para mim uma grande distinção.

S.M. – Estava à espera deste sucesso de “Falem agora”, que está a passar bastante nas rádios?

F.R. – Confio com quem trabalho. Os meus produtores que são o New Max dos Expensive Soul, Jorge Fernando, uma figura musical mítica do nosso país, e o Hugo Novo, quando o tema ainda estava em embrião, acharam por bem definir esse tema como primeiro single e em muito boa hora. O “Falem agora” fica no ouvido e tem um conteúdo muito interessante e que diz algo a toda a gente. Nós para ultrapassarmos os nossos problemas temos tendências a falar dos outros, acho que isso é comum a todo o ser humano. Considero muito interessante essa abordagem e facilmente as pessoas identificaram-se com esse tema. A melodia também é fácil de chegar ao público.

S.M. – Como está a decorrer a agenda de espectáculos?

F.R. – Muito bem. Além da PIMEL, vou dar um concerto no dia 1 de Julho no Festival Med (Loulé), a 14 de Julho no Centro Cultural de Belém (Lisboa) e tenho outros concertos marcados em Cabanas de Tavira e Viseu. Felizmente, tenho concertos marcados, no mesmo dia que cheguei da Colômbia deu um espectáculo no Fundão.

S.M. – No estrangeiro, o público gostou dos seus concertos?

F.R. – Muito. O fado ganhou uma dimensão incrível no mundo. As pessoas apreciam muito. É impressionante como querem fundir o fado com todos os géneros musicais. O fado tem apaixonado o mundo e as pessoas gostam muito.

S.M- Quais são os seus fadistas favoritos?

F.B. – Estamos com uma nova geração de fadistas muito talentosa. A Mariza que tem sido uma referência abriu portas a esta nova geração aqui e lá fora, mas também Ana Moura, Camané, Ricardo Ribeiro, Raquel Tavares e Gisela João. Tenho a sorte de ser privar e ser amiga de todos esses nomes. Costumo dizer que somos um país muito pequeno para tanto talento. Felizmente, Portugal tem dado mais valor à nossa canção, hoje em dia ouve-se cada vez mais música portuguesa nas rádios e até fado em rádios comerciais, o que era impensável há alguns anos. Estamos no bom caminho na divulgação da nossa canção.

S.M. – Foi difícil preparar este álbum?

F.R. – A preparação levou sensivelmente dois anos e meio. Foi muito trabalhado. Para um artista é importante ter uma identidade, que quando é ouvido as pessoas identifiquem o artista pelo seu conceito e voz. Foi pensado, agarrando em todas as minhas influências musicais e em aquilo que tudo aprendi ao longo dos anos e das minhas referências. Os meus produtores e compositores que participaram neste disco conseguiram descodificar exactamente aquilo em que tornei enquanto compositora e interprete. Foi um processo que demorou algum tempo mas compensador. Conseguimos um bom trabalho que nos orgulha muito.


Uma fadista da nova geração

“Falem agora” consolida carreira de Fábia Rebordão

Nasceu a 28 de Março de 1985 no seio de uma família já com o fado no ADN. Fábia Rebordão é prima de Celeste Rodrigues, a irmã de Amália Rodrigues. A música faz parte da vida da fadista desde muito cedo, mas só aos 14 anos, após ter conquistado o programa de televisão “Cantigas da Rua”, descobre a paixão pela canção nacional. Mais tarde participou no programa da RTP 1 “Operação Triunfo”, onde brilhou.

Fábia Rebordão começa a cantar regularmente em casas de fados, sendo fadista residente da “Casa de Linhares” desde os 21 anos. O seu álbum de estreia data de 2012, “A oitava cor”, do qual é autora e compositora da maioria dos temas. Nesse ano, é distinguida como Artista Revelação dos Prémios Amália e o Jornal Expresso destaca-a como uma das personalidades revelação, no ano seguinte.

Unanimemente considerada uma das vozes de referência do novo fado, Fábia Rebordão lança em Setembro de 2016 “Eu”, segundo álbum de originais.

“Falem Agora” é o primeiro tema avanço deste novo trabalho discográfico. Este novo álbum de Fábia Rebordão foi produzido por New Max (Expensive Soul) e Jorge Fernando. “Eu”, conta com fados originais, com a assinatura de nomes como Pedro Silva Martins, Dino D’Santiago, Jorge Fernando, Tozé Brito, Rui Veloso e também da própria Fábia Rebordão. Custódio Castelo, nome maior da Guitarra Portuguesa, é convidado especial no tema “Alice”, uma composição de Miguel Rebelo com letra de Rui Rocha. Destaque ainda para “Pergunta a Quem Quiseres” uma composição de Alfredo Marceneiro com poema de Mário Rainho.

Sobre este novo trabalho de Fábia Rebordão, New Max refere “este disco é um glorioso encontro entre a música popular portuguesa e a soul, de uma forma nunca feita antes. À excelência dos grandes compositores da atualidade juntam-se a aveludada voz de Fábia Rebordão para nos presentear com 13 canções de antigamente mas com a atualidade de uma nova geração”.

Embora o fado seja a grande matriz da sua paixão pela música, as suas influências musicais são diversas e vão da soul, à bossa nova, à morna, ao blues ou ao jazz.