Entrevista com Alexandrina Pereira, poetisa: “Gosto de escrever para crianças e dos desafios como o fado e as marchas populares”

Alexandrina Pereira prepara-se para lançar no dia 21 de Março um novo livro dedicado às crianças. A poetisa com uma intensa actividade cultural é também presidente da Casa da Poesia de Setúbal e da Associação Cultural Sebastião da Gama. Em relação aos projectos futuros, está a preparar um livro dedicado às Grandes Marchas de Setúbal e um autobiografia.

Florindo Cardoso

 

Setúbal Mais – Como surgiu o projecto do novo livro “Vamos poupar água”?

Alexandrina Pereira – Este projecto não foi escrito agora, estava na gaveta desde 2008. Actualmente, perante todas as dificuldades vividas pelo país, em consequência da seca e porque considero que as crianças são o primeiro e o melhor veículo para aprendizagem e transmissão de valores, considero que é a altura certa para lançar o livro. Anuncio, desde já, que será uma sequência, este é “Vamos poupar água”, e os próximos são “Vamos reciclar” e “Vamos proteger as árvores”.  É um conto, com quadras, mas os próximos serão em poesia. Será sempre tudo aquilo que incomoda os adultos que vou tentar sensibilizar as crianças. A periodicidade depende dos apoios que conseguir para as entidades adquirirem os livros de modo a chegar às escolas. Daí este livro, com duas dezenas folhas, todo a cores, com 30 a 40 quadras pequenas, ter um custo tão baixo, um preço simbólico de 2 euros. O meu objectivo é que a todas as crianças tenham acesso ao livro. Já tenho o apoio das quatro freguesias do concelho e da Câmara Municipal de Setúbal. É uma edição de autor.

S.M. – Quando será lançado?

A.P. – Não haverá um lançamento oficial. O livro será apresentado para já em oito escolas no Dia Mundial da Poesia, a 21 de Março, mas estão a surgir convites à medida que vão sabendo do lançamento. Vou às escolas apresentar e ler o livro paras as crianças. Antes as professoras trabalham o livro com as crianças.

S.M. – Que outros projectos tem a nível de literatura?

A.P. – Estou a trabalhar numa autobiografia que conta o meu percurso. As dificuldades em estudar, no início da minha vida, devido ao contexto familiar, até à envolvência cultural que tenho actualmente com os livros. É também uma forma de deixar um legado aos filhos e netos. Tenho muito orgulho no meu percurso, de nascer numa família humilde e só vir a estudar muito mais tarde. Terá os momentos marcantes, com fotografias, desde a parte pessoal à actividade cultural. Começo com o retrato familiar, a escola, a luta na adolescência para entrar no mundo que queria mas que não era possível, as minhas conquistas na aprendizagem escolar e cultural que só foi possível graças ao companheiro que esteve sempre ao meu lado, que me incentivou sempre para tudo. A minha passagem pela Academia de Letras do Brasil, as distinções como a Medalha de Ouro da Cidade de Setúbal e Medalha de Honra do Município de Palmela. São momentos marcantes. Gostaria muito de lançar o livro até ao final do ano.

Tenho também muitos poemas soltos que gostaria de compilar e publicar. Tenho ainda à volta de 200 fados escritos e cerca de 100 gravados por muitas vozes e gostaria também de apresentar em livro. Gosto de escrever para crianças, dos desafios como o fado e as marchas populares.

S.M. – É presidente da Casa da Poesia de Setúbal. Quais os principais projectos previstos para este ano?

A.P. – Vamos realizar no dia 12 de Maio os “Encontros de Poesia de Setúbal”. Terá recepção aos convidados provenientes de várias zonas do país, na Casa da Baía com oferta de café um produto da região. Haverá um momento importante que será troca de livros para que haja conhecimento dos trabalhos dos convidados. Depois seguem a pé para o Mercado do Livramento, onde no auditório, decorrerá uma sessão de poesia, com partilhas de conhecimentos. Segue-se um almoço, terminando o encontro na Biblioteca Municipal de Setúbal. As inscrições vão começar e já estamos a fazer contactos com escritores.

Vamos realizar ainda a Feira do Livro durante um dia de Setembro na praça de Bocage, o mês da cidade. O evento permite aos poetas setubalenses, com edição de autor, vender os seus livros. Pretendemos que seja o mais abrangente possível. Este evento será bianual, intervalando com os Vinhos Solidários. Por isso, os Vinhos Solidários voltarão em 2019.

S.M. – É também presidente da Associação Cultural Sebastião da Gama, cujo mandato está a terminar. Qual o balanço?

A.P. – Muito positivo o balanço dos últimos três anos. Conseguimos fazer cumprir o testamento e o sonho de Joana Luísa, viúva de Sebastião da Gama. Está a ser preparado o processo de instalação da Casa Museu na casa onde viveu Joana Luísa, sendo um local e encontro de quem se interessa pela literatura. Será um projecto muito bonito.

S.M. – Está também ligada às marchas…

A.P. – Estou a escrever um livro sobre as “Grandes Marchas de Setúbal” com o músico José Condinho. Terá recortes do jornal “O Setubalense”, desde 1936, contando as histórias, os poemas e as pautas e seus autores. Por exemplo o poema da Grande Marcha de Maria Helena Reis Horta, de 1968, com música de maestro Azóia. Será um livro volumoso, que poderá lançado no próximo ano.

S.M. – Comos surgiu o gosto pelas marchas?

A.P. – Foi um desafio que me lançaram em 1997 quando fui convidada para ser júri das marchas. Envolvi-me ao analisar a letra dos poemas. No ano seguinte, o músico Artur Jordão convidou-se para escrever a letra da Grande Marcha e ganhámos. Depois concorri de novo e ganho seis edições, das quais três seguidas, com o Artur Jordão e o maestro Azóia. As marchas populares dos bairros convidaram-me e também ganhei durante cinco anos consecutivos. Escrevo também há 18 anos para as marchas populares da Marateca. Depois parei. Continuo a escrever e a desenvolver a minha paixão pelas marchas mas já não concorro ao concurso.