Casa das 4 Cabeças abre até final do ano

Imóvel funcionará como extensão da Pousada da Juventude

A “Casa das 4Cabeças – Setúbal student residence”, imóvel localizado na rua Fran Paxeco, no bairro do Troino, que encontra-se em fase final de obras de reabilitação efectuadas pelo município, deverá ser inaugurada dentro de um a dois meses.

A revelação foi feita pela presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, justificando o atraso na conclusão das obras com o facto de ter sido “complicada” e “complexa”, desde o processo inicial de negociação com proprietários até à fase final de conclusão da empreitada.

“Foi uma obra muito complexa no seu interior porque o edifício ficou vazio e foi preciso fazer tudo”, e também registou-se atrasos na atribuição das certificações das instalações energéticas, como luz e gás, e na aquisição de alguns móveis que não estavam nos cadernos de encargos. “Hoje o processo está concluído, estamos na fase de compra do material de funcionamento” como as roupas paras camas e electrodomésticos”, disse Maria das Dores Meira.

“A Pousada da Juventude está praticamente sempre esgotada e esta casa será a continuidade para pessoas que vêm fazer Erasmus em Setúbal”, entre outras.

A reabilitação da Casa das Quatro Cabeças, edifício de tipologia multifamiliar localizado no centro histórico de Setúbal, arrancou em Dezembro de 2014, com os trabalhos na reabilitação, conservação e restauro das fachadas do edifício, com relevantes vestígios históricos de várias épocas arquitectónicas, e na reconstrução do interior.

Antes do início da reabilitação, que envolveu um investimento global de 368.977,98 euros, uma equipa dos serviços camarários de arqueologia efectuou trabalhos de estudo e de investigação no interior e exterior do edifício, classificado desde 1977 como Imóvel de Interesse Municipal.

O imóvel de três pisos, situado no coração piscatório da antiga vila de Setúbal, faz a esquina da rua Fran Paxeco com a travessa do Carmo. Utilizado durante largos anos como habitação em forma de arrendamento, nunca teve qualquer tipo de intervenções de manutenção pelos sucessivos proprietários, situação que conduziu a uma situação de severo estado de degradação do imóvel.

Com a integridade estrutural comprometida e em face da inexistência de condições de habitabilidade, a autarquia sadina decidiu requerer, com carácter de urgência, a declaração de utilidade pública da expropriação do imóvel e a respectiva posse administrativa.

Muito modificado ao longo dos séculos, o edifício mantém as características essenciais das diferentes épocas de construção, nomeadamente a feição geral dos séculos XVII e XVIII. Os vãos harmonicamente abertos nos alçados são outra das particularidades relevantes.

A possibilidade de recuperação da Casa das Quatro Cabeças surgiu após a apresentação de uma candidatura ao “Reabilitar para Arrendar”, programa promovido pelo IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana que impulsiona, com condições especiais, a recuperação de imóveis antigos, sendo aprovada.

Os cinco fogos (T0 e T1) criados nesta operação de reabilitação urbana são destinados, preferencialmente, a receber estudantes, nomeadamente os que se encontram em programa de Erasmus e funcionará como extensão da Pousada da Juventude, equipamento gerido pelo município sadino.

É uma casa quase encantada, lendária, com traçado arquitectónico da época moderna iniciado no século XV, mas, há quem diga que a data da sua construção é posterior ao terramoto de 1755, que destruiu o bairro de Troino. A porta mostra o nº 44, ao lado deste uma cabeça e em baixo a inscrição: “Si Deus pro nobis, quis contra nos”.

Diz a tradição que as cabeças serviriam para assinalar o local do atentado que deveria dar-se contra o Rei D.João II na sua passagem, a pé, na procissão de Corpus Christi, em Setúbal. Três das cabeças representariam o rosto de D. João II ladeado pelos de D. Diogo, duque de Viseu e de D. Lopo de Albuquerque, conde Penamacor. Naquele local os dois teriam combinado deixar cair os bastões e baixando-se para os apanhar deixariam a descoberto a pessoa do rei, a quem, um terceiro conjurado de dentro das casas, atacaria a tiro de arcabuz.