Liga dos Combatentes pede sede “condigna”

O presidente da Liga dos Combatentes, Tenente-general Joaquim Chito Rodrigues, pediu à Câmara Municipal de Setúbal instalações para uma sede “condigna” do núcleo sadino, fundado em 1924 e a funcionar na rua dos Almocreves, n.º 62, rés-do-chão, em pleno centro histórico. O apelo foi feito ao vereador das Obras Municipais, Carlos Rabaçal, na apresentação do livro “Os Combatentes do Concelho de Setúbal na Grande Guerra 1917/18”, a 25 de Julho no auditório da Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal, precisamente no dia em que se completaram 100 anos sobre a partida de 210 combatentes de Setúbal e Azeitão, no batalhão da Infantaria 11, para a primeira guerra mundial.

“É altura da câmara apoiar o núcleo de Setúbal para lhe conceder aquilo que merece, uma sede condigna”, disse o responsável, sendo fortemente aplaudido por ex-combatentes presentes na sala. “Setúbal é uma excepção no país”, lamentou, frisando que “promovemos a cultura, a cidadania e o espírito de defesa” e “defendi a todo o custo que os núcleos tivessem uma sede digna”.

Joaquim Chito Rodrigues destacou que a liga quase centenária preserva “a memória daqueles que caíram na grande guerra, apoiou e ajudou a erguer 100 monumentos” e “este é mais um acto normal de evocação daqueles que nunca esquecemos”, disse.

“Estamos no princípio do séc. XXI, chamam-lhes agora operações e paz e humanitárias, mas já há 19 mortos, inscritos numa placa em Belém, ao lado dos combatentes do Ultramar”, realçou o tenente-general, adiantando que “o meu grande voto é que não seja necessário num futuro próximo ou longínquo que houvesse em Setúbal outro regimento de infantaria”.

A obra da autoria de Marquês de Sousa, tenente-coronel e de Diogo Ferreira, investigador de história contemporânea, editada pelo Núcleo de Setúbal da Liga dos Combatentes, aborda a participação dos setubalenses e azeitonenses na I Guerra Mundial.

Na apresentação, Carlos Rabaçal, disse que esta obra é mais do que um registo dos dados biográficos dos combatentes, pois “em algumas das suas páginas é uma reportagem viva, contada ao minuto, sobre o que se passou naqueles tempos, sobre o sofrimento de quem combatia na guerra e das famílias”.

Para escreverem este livro, Marquês de Sousa e Diogo Ferreira fizeram um levantamento completo dos registos existentes no Arquivo Histórico Militar, no Arquivo Histórico da Liga dos Combatentes e no Arquivo Geral do Exército.

“Consultámos 210 boletins no Arquivo Histórico Militar que continham diversas informações, nomeadamente se os combatentes tinham sido prisioneiros de guerra, se tinham punições militares, as diligências que efectuaram, se foram feridos em combate, os louvores que receberam, entre outras”, afirmou Diogo Ferreira.

 

Os dados sobre estes setubalenses que rumaram para França em 1917 foram complementados com registos biográficos, como data de nascimento e de morte, recolhidos no Arquivo da Liga dos Combatentes e nas folhas de matrícula existentes no Arquivo Geral do Exército.

“Estas três fontes foram fundamentais para nos ajudarem a homenagear e recuperar a memória destes setubalenses e azeitonenses que se encontrava perdida”, considera o investigador.

Já Marquês de Sousa espera que esta obra seja “um instrumento útil” para a sociedade “conhecer bem o passado e, assim, preparar-se no presente para o futuro”.

Além das informações recolhidas nos arquivos, a obra contém imagens cedidas por familiares de alguns combatentes. É o caso do Alferes Pinto Vidigal, o único setubalense falecido na célebre batalha de La Lys, França, do qual foi possível publicar fotografias e um postal que enviou de França para a família em Setúbal. “Alferes Pinto Vidigal é o herói deste livro, que morre na mítica e trágica batalha, tem uma rua junto aos ‘Belos’ e até hoje estava esquecido no livro da memória de Setúbal e o nosso levamento dos 14 processos militares que permitiram a construção das biografias, recuperámos a sua história como foi morto e os familiares cederam-nos as fotografias dele e apresenta-lo à comunidade”, disse ainda Diogo Ferreira.


As missões dos militares de Setúbal

Mortos e desaparecidos do distrito em combate

Portugal mobilizou 55 mil homens para a primeira grande guerra e a região de Setúbal deu o seu contributo com 210 militares, integrados no Batalhão de Infantaria n.º 11 (Setúbal e Évora – destacamento), Infantaria n.º 1, n.º 2, n.º 5 e n.º 16 (de Lisboa), Artilharia n.º 4 (mobilizados pelo Regimento de Artilharia n.º 3 de Santarém) e nos Grupos de Artilharia n.º 5 e n.º 6 mobilizados pelo Regimento de Artilharia n.º 1 (Lisboa), com destino à frente de batalha em França, sendo uma participação catastrófica com muitos mortos.

Os filhos da região de Setúbal não foram condecorados em virtude do comandante não ter elaborado os relatórios e as diligências adequadas, após a batalha de 9 de Abril de 1918.

No distrito registam-se 42 mortos e 13 desaparecidos em França espalhados pelos concelhos de Alcácer do Sal (5 mortos e 3 desaparecidos), Almada (2 mortos e 3 desaparecidos), Seixal (1 morto), Setúbal (9 mortos), Palmela (6 mortos), Sesimbra (3 mortos), Montijo (2 mortos e 2 desaparecidos), Grândola (2 mortos) e Santiago do Cacém (11 mortos e 5 desaparecidos), Sines (1 morto). Este foi o concelho mais afectado pela guerra.

Vamos por nomes e por concelhos.

Alcácer do Sal: soldado António Felizardo, de Monte Vil, faleceu a 6/9/1917; cabo Custódio Augusto Moreira, do Torrão, morreu a 3/1/1918; soldado António Albino, do Torrão, faleceu a 25/5/1918; soldado Abel Nunes, Santa Maria, faleceu a 9/6/1918; soldado José Delfino, S. Romão, faleceu a 10/4/1918. Desaparecidos em Neuve Chapelle a 9/4/1918: soldado António Claudino, do Torrão; soldado Augusto Boavista, de Alcácer; Manuel Assis, S. Romão.

Almada: soldado Anacleto Diogo Martins, Charneca da Caparica, morreu a 14/12/1917; soldado Augusto Pessoa, Murfacém Caparica, faleceu a 9/9/1918. Desaparecidos: alferes Júlio Alberto de Sousa Flores, Almada, a 9/4/1918 em Lavantie; cabo José Augusto Pereira, de S. Tiago Almada, a 9/4/1918 em Neuve Chapelle; soldado Manuel Joaquim, Santiago/Almada, a 9/4/1918 em Neuve Chapelle.

Grândola: soldado António Joaquim, Melides, faleceu a 7/1/1918 e o soldado Francisco Luís, de Melides, morreu a 9/9/1918.

Montijo: soldado Manuel de Almeida Tábua, Sarilhos Grandes, morreu a 22/4/1918, soldado João Pedro Issa, Montijo, faleceu a 4/9/1918. Desaparecidos a 9/4/1918, em Neuve Chapelle o soldado João Emídio, de Canha, e o cabo João Carvalho Teixeira, de Sarilhos Grandes.

Palmela: soldado Luís Mendonça Furtado, Palmela, faleceu a 29/9/1917; soldado João Gomes Mato, Palmela, faleceu a 5/9/1917; soldado Elisiário Gomes Carriço, Palmela, morreu a 28/11/1917; soldado Pedro da Costa Frescata, Quinta do Anjo, faleceu a 14/3/1918; soldado Joaquim Jorge Ramalheira, Palmela, faleceu a 2/4/1918; soldado Francisco Pessoa, Palmela, faleceu a 9/4/1918.Seixal: sargento Raúl Gomes, Paio Pires, faleceu a 15/3/1918.

Santiago do Cacém: soldado Brissos da Silva, Cercal, faleceu a 7/1/1918; soldado Olívio Pereira, Cercal, morreu a 16/1/1918; soldado Jacinto Brissos, Santo André, morreu a 7/1/1918; cabo Acácio Chainho, Santiago do Cacém, faleceu a 28/2/1018; soldado António Eduardo, S. Francisco da Serra, morreu a 10/3/1918; soldado Francisco António Malveiro, Santiago do Cacém, faleceu a 9/1/1918; soldado António Mário, Santiago do Cacém, morreu a 25/3/1918, soldado Manuel Alexandre, São Francisco da Serra, faleceu a 20/11/1918; soldado Manuel Alexandre, S. Domingos, faleceu a 13/2/1919; soldado Joaquim Mendes, Cercal, faleceu a 9/4/1918. Desaparecidos os soldados a 9/4/1918 em Neuve Chapelle: Francisco Gonçalves, S. Domingos; Jacinto Jordão Ferro, S. Francisco da Serra; António Jorge, Santiago do Cacém; Manuel Jorge, Cercal; José Daniel, Cercal.

Sesimbra: soldado Ilídio da Costa, Alfarim, morreu a 13/7/1917; soldado Frederico Marques, Zambujal, faleceu a 5/11/1918; soldado Manuel Joaquim, Quintola Santa Ana, morreu a 17/12/1018.

Setúbal; alferes Francisco Pinto Vidigal, Setúbal, morreu a 9/4/1918; soldado Joaquim da Encarnação, Setúbal, faleceu a 9/2/1918; 2.º sargento Manuel Avelino Correia, Setúbal, faleceu a 14/3/1918;

Sines: soldado Adelino Francisco Fortunato, morreu a 16/12/1917.