Álvaro Beijinha, presidente da Câmara de Santiago do Cacém: “Em dez anos quadruplicamos o número de dormidas turísticas de 42 mil para 163 mil”

Álvaro Beijinha, presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, espera que a Santiagro – Feira Agropecuária e do Cavalo que vai realizar-se de 30 de maio a 2 de junho ultrapasse os 50 mil visitantes, o recorde alcançado o ano passado, apostando num forte cartaz musical com nomes como Nininho Vaz Maia e Pedro Mafama. O autarca exige ao governo políticas de apoio à agricultura, e revelou que o concelho quadruplicou o número de dormidas turísticas passando de 42 mil para 163 mil em 10 anos, com tendência para crescer. Com o seu terceiro mandato a terminar em 2025, Álvaro Beijinha não fecha portas a uma candidatura à presidência de outro município da região. O seu nome é apontado como candidato da CDU à Câmara de Sines.

Florindo Cardoso

Setúbal Mais – Quais as previsões para esta 36.ª edição da Santiagro?

Álvaro Beijinha – Estamos a trabalhar para atingir pelo menos um número muito próximo de 2023, o melhor ano de sempre, com cerca de 50 mil visitantes. Se o tempo ajudar, acredito que conseguiremos ultrapassar esse número e por isso todo o trabalho a desenvolver é para ter uma grande Santiagro, atraindo muita gente, não só do concelho, mas também de fora. Esse é o objetivo e estamos com uma expectativa muito elevada.

Setúbal Mais – Há também uma grande aposta no cartaz musical?

Álvaro Beijinha – O cartaz musical é o fator número um de atração das pessoas à feira. Mantemos a nossa estratégia de convidar artistas destinados fundamentalmente para os mais jovens que trazem os pais e acreditamos que vamos ter noites cheias de público, com milhares de pessoas no recinto. Isto com grande reflexo nos expositores que estão na feira com a perspetiva de negócio e ter a sua rentabilidade. Se tivermos milhares de pessoas todas as noites, ganhamos todos e ficaremos certamente satisfeitos.

Setúbal – Este ano, haverá uma bancada junto ao picadeiro para assistir às provas?

Álvaro Beijinha – Vai ser uma bancada de raiz que reúne todas as condições de segurança. É uma forma de oferecer melhores condições para as pessoas assistirem às atividades que decorrerão no picadeiro. Pensamos construir uma segunda bancada no próximo ano. Faz parte dos investimentos que estamos a fazer para oferecer melhores condições para quem nos visita, como o comboio vaivém para a feira e a colocação de alcatifa nos pavilhões cobertos.

Setúbal Mais – Quais os impactos da Santiagro na economia local?

Álvaro Beijinha – Seguramente que é muito superior ao investimento do município de 267 mil euros. Não tenho dúvidas que durante os quatro dias o impacto económico é muito superior. Depois há retorno seguinte, das pessoas que vêm à feira e regressarão ao concelho em férias em família ou com amigos. Investir em eventos de grande dimensão que atraem pessoas ao território é algo fundamental para o turismo. Por isso, temos investido muito nas feiras e eventos desportivos como o Mundial de Enduro, trail, corridas, orientação e BTT para atrair pessoas ao território nas épocas baixas. No verão, os turistas já vêm porque a região oferece boas praias, gastronomia e beleza natural. Investimentos muito em eventos durante o ano, fora da época alta, e isso reflete-se nos bons números turísticos.

Setúbal Mais – Existem vários problemas no setor da agricultura, que deverão ser abordados nesta feira. Espera uma nova política do novo ministro da Agricultura?

Álvaro Beijinha – Sabemos que o setor primário, nomeadamente a agricultura, a pecuária e a floresta, têm vivido momento muito difíceis nos últimos anos, em particular pela falta de água devido à seca. No passado, alertámos os responsáveis políticos para este problema, mas infelizmente não fomos ouvidos e esperamos que este novo governo tenha uma visão diferente. Recentemente, avançámos com um compromisso, assumido precisamente na Santiagro de 2023, que era juntamente com a Associação de Regantes Campilhas e Alto Sado elaborar projetos de ligação ao Alqueva através do canal de Morgavel, à barragem de Campilhas, e a modernização da rede de rega na zona de Alvalade, em que o município financia a parte não comparticipada pelos fundos comunitários do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR), que representa 5% do valor total de 836.700 euros (95%). Temos absoluta consciência que o concelho de Santiago do Cacém tem na sua área económica um setor primário muito relevante, principalmente no interior do concelho, e por isso, é preciso políticas públicas de incentivo. São muitas famílias que vivem da agricultura, da pecuária e da floresta. Neste sentido, esta feira tem um papel muito importante porque é a grande montra do setor. Espero que o novo ministro da Agricultura tenha uma perspetiva muito diferente da anterior, que não teve a mínima sensibilidade para este problema, sendo convidada para visitar o nosso território e nunca veio. Naturalmente, que este ano choveu e as barragens não têm as cotas tão baixas como em 2023, mas mesmo assim a barragem de Campilhas está com pouco mais de 40% e basta haver um ou mais anos de seca para regressar este problema. Temos um setor agrícola que depende muito do regadio. Por um lado, as culturas permanentes como o olival, com uma grande expressão e depois as culturas sazonais como o arroz e o tomate, com uma importância relevante no concelho. Nesse sentido, tem que haver, além das políticas públicas de incentivo, uma forma de estar na vida política com responsabilidades de ouvir o setor e é isso que não assistimos por parte da administração central. Estas pessoas têm muito para dizer, não numa perspetiva de queixinhas, mas de construir soluções conjuntas. Ajudar os agricultores é contribuir para o desenvolvimento da economia local e regional e espero que a Santiagro ajude para isso.

Setúbal Mais – O turismo tem crescido bastante no concelho?

Álvaro Beijinha – O turismo no concelho é muito diversificado porque temos sol e praia, com 11 km de costa, dos quais dois terços estão inseridos numa zona fortemente condicionada pela Reserva Natural da Lagoa de Santo André. O nosso turismo é mais afastado da costa, com incidência no alojamento rural que tem registado um grande crescimento. Em dez anos, quadruplicamos o número de dormidas turísticas passando de 42 mil para 163 mil, com tendência para crescer. Acredito que vai continuar no futuro com crescimento da oferta. Os empresários acreditam e investem no concelho com bons resultados.

Setúbal Mais – Quantos alojamentos turísticos existem no concelho?

Álvaro Beijinha – Neste momento, temos mais de 2 mil camas turísticas. De referir que para efeitos de dormidas os alojamentos locais contam, mas não como camas turísticas.

Setúbal Mais – Numa perspetiva mais pessoal, termina o seu terceiro mandato dentro de um ano e não pode recandidatar-se ao município de Santiago do Cacém. Está disponível para qualquer convite que seja feito pelo seu partido (PCP) para concorrer a outra câmara municipal da região?

Álvaro Beijinha – Falta um ano e quatro meses para terminar este mandato. Estou totalmente focado no município de Santiago do Cacém. É isso que determina a minha ação, em trabalhar em prol da população do concelho. Se falam do meu nome para outros municípios é porque reconhecem o trabalho da nossa equipa, do qual sou o rosto mais visível. Não é isso que me move. Felizmente tenho profissão própria. Gosto muito daquilo que faço, ajudar a desenvolver a região onde nasci, proporcionando mais bem-estar para os munícipes. Se o convite acontecer a seu tempo será discutido.

Setúbal Mais – Já visitou o Festival Músicas do Mundo de Sines?

Álvaro Beijinha – Já visito há muito tempo. O meu colega de Sines tem a simpatia de convidar-me todos os anos e posso dizer que já visitei várias vezes.