Alexandrina Pereira deixa este mês a presidência da Associação Cultural Sebastião da Gama (ACSG), cargo que ocupou durante seis anos, enfrentando inicialmente um complexo processo jurídico devido à contestação de familiares de Joana Luísa Gama ao seu testamento. A ACSG ganhou a causa nos tribunais e foi possível criar a Casa Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama em Vila Nogueira de Azeitão, na antiga casa da viúva, que deixou em testamento para ser a sede da associação e um local de preservação e divulgação da vida e obra do poeta da Arrábida. Alexandrina Pereira que faz um balanço positivo dos seus mandatos vai continuar como vogal da associação.
Florindo Cardoso
Setúbal Mais – Qual o balanço que faz destes seis anos de presidência da Associação Cultural Sebastião da Gama?
Alexandrina Pereira – O balanço é positivo. Foi uma experiência muito enriquecedora, cultural e socialmente. Assumi a presidência num momento muito conturbado devido à contestação apresentada por familiares de dona Joana Luísa da Gama ao testamento que a mesma havia deixado. Foram momentos difíceis, mas que foram ultrapassados com compreensão e bom senso.
Setúbal Mais – Qual o facto mais importante que destaca?
Alexandrina Pereira – Sem dúvida que o momento que mais me marcou foi a inauguração da Casa Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama. Foi a concretização de um sonho que cumpria a vontade expressa pela viúva do poeta, em ter no espaço que foi a sua casa, um lugar onde a associação tivesse a sua sede. Nós fomos mais longe e elevámos o sonho até surgir esta Casa-Memória que conta a quem a visita uma linda história de amor. É muito justo referir que a reconstrução da Casa só foi possível com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal e da Junta de Freguesia de Azeitão.
Setúbal Mais – Qual a situação mais difícil?
Alexandrina Pereira – Quando aceitei o desafio de presidir à Associação Cultural Sebastião senti que a missão que me esperava não iria ser fácil. Os três anos do meu primeiro mandato foram passados em audiências e tribunais e aconteceram situações muito desagradáveis, mas valeu a pena enfrentar todas as adversidades. Claro que gostaria de ter dedicado estes dois mandatos (que totalizaram seis anos), a eventos culturais sobre Sebastião da Gama e a sua vida e obra, mas tal não foi possível. Apesar de tudo conseguimos realizar algumas actividades das quais destaco, entre outras, a Jornada Internacional Sebastião da Gama “Pelo Sonho é que Vamos” em Maio de 2017. O futuro apresenta-se muito promissor nesse sentido.
Setúbal Mais – Vai continuar ligada à ACSG como vogal. Considera importante manter esta ligação?
Alexandrina Pereira – Confesso que não era minha intenção continuar na direcção. Não por falta de interesse ou mesmo de amor à causa, mas porque ainda presido à Associação Casa da Poesia de Setúbal que precisa de voltar a ter (se a pandemia o permitir) eventos que a dinamizem e projectem com a dignidade que merece. Acedi ao convite para ficar como vogal porque me permite estar presente nas decisões da direcção sem ter a responsabilidade que é ser presidente.
Setúbal Mais – Considera que a presença do Presidente da República na inauguração da Casa Memória foi o reconhecimento do trabalho da associação e do poeta?
Alexandrina Pereira – Sem dúvida que a presença do Presidente da República na inauguração da Casa-Memória foi de suprema relevância para a associação. Sentimos que a nossa luta e o nosso trabalho foram reconhecidos. A presença de Marcelo Rebelo de Sousa num dia com tão elevado significado para nós, só nos pode orgulhar.
Setúbal Mais – Quais as memórias que guarda de Joana Luísa já que privou de perto com esta personalidade?
Alexandrina Pereira – Privei com a dona Joana Luísa num ou noutro evento, ainda eu era apenas mais uma associada. Tive ainda oportunidade de lhe dizer pessoalmente o quanto admirava a poesia de Sebastião da Gama, no momento em que foi apresentado o seu livro “Estala de Saudade o Coração”. Guardo na memória uma senhora que não era de sorriso fácil, mas que demonstrava uma ternura imensa por todos os que lhe diziam sentir admiração pelo seu saudoso marido.
Setúbal Mais – Considera que a ACSG conseguiu dar mais visibilidade à obra de Sebastião da Gama?
Alexandrina Pereira – Este projecto Casa Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama é hoje um ponto de encontro de todos os que gostam de poesia, do poeta da Arrábida, de Azeitão e de Setúbal. As visitas ao espaço acontecem diariamente e o interesse está em crescendo. No livro de honra temos testemunhos de pessoas que vêm de longe, que compram os livros de poesia, que querem saber mais sobre Joana Luísa e da vida a dois que foi tão curta, mas tão bonita. Sim, a Associação Cultural Sebastião da Gama conseguiu dar mais visibilidade à vida e obra do nosso querido poeta.
Setúbal Mais – Qual a mensagem que deixa ao novo presidente da ACSG?
Alexandrina Pereira – Ao novo presidente manifestei a confiança de que irá dar continuidade à obra que nasceu da determinação e vontade de todos os que trabalharam para o nascimento da Casa-Memória e que fará chegar mais longe o nome de Sebastião da Gama. Como mensagem deixo a certeza que no fim do mandato se sentirá tão orgulhoso quanto eu, por ter prestado um pequenino, mas honroso contributo à superior causa da vida e obra de Joana Luísa e Sebastião da Gama. Eu saio com a plena convicção de que somos nós, movimento associativo, que construímos o verdadeiro mundo cultural (e não só).