Adeus Manel Bola

O actor setubalense, Carlos Rodrigues, mais conhecido por Manel Bola, morreu no dia 11 de Dezembro, vítima de problemas respiratórios, no Hospital de S. Bernardo, em Setúbal, sendo sepultado dois dias depois no cemitério de Nossa Senhora da Piedade.

Com o seu desaparecimento, Setúbal fica culturalmente mais pobre. Perdeu-se uma grande referência, um homem com uma enorme grandeza como ser humano e agente cultural. Manel Bola era um homem do povo que falava com toda a gente, sempre com sentido de humor, por vezes mordaz e satírico, mas respeitado pelos seus pares e pelos setubalenses.

Manel Bola, de 72 anos, nasceu 3 de Setembro de 1944 na freguesia de S. Julião, no número 10, da Travessa de S. Cristóvão, sendo filho de mãe costureira e de pai trabalhador rural.

Participou nos primeiros trabalhos da “Ribalta” do Grupo de Teatro do Ateneu Setubalense, e foi fundador e actor da “TEIA” – Teatro Amador de Setúbal. Trabalhou desde 1 de Junho de 1978 no Teatro Animação de Setúbal (TAS), como profissional, pertencendo ao elenco permanente desta companhia, até se reformar.

Fez, como actor, mais de sessenta peças de teatro, diversas personagens no cinema e na televisão, tendo também participado na criação de vários espectáculos e acções culturais, por iniciativa própria ou a convite de outras instituições. Participou em trabalhos televisivos, “Gente fina é outra coisa”, “A banqueira do povo”, “Nico d’obra”, “Nós os ricos”, “A loja do Camilo”, “Jardins proibidos” e “Inspector Max”, ganhando bastante popularidade com a série humorística, transmitida pela SIC, “Malucos do Riso”.

Encenou em 1991, no TAS, a revista “Era Uma Vez Em Setúbal”, em parceria com Fernando Guerreiro e João Aldeia.

Realizou e produziu várias acções pedagógicas para a divulgação do teatro, poesia e da literatura portuguesa, junto de escolas do ensino secundário, no distrito de Setúbal, nomeadamente com “Versos Falados” onde dava a conhecer aos alunos a poesia portuguesa durante uma aula da disciplina de português, iniciativa que foi considerada de interesse cultural pelos Ministérios da Cultura e da Educação.

Como autor, além de peças para teatro, escreveu também letras para canções infantis, para música ligeira e marchas populares. Publicou o livro de poemas “Sem Amor”, em 2005, na editora Estuário.

Em 1977 foi galardoado com o prémio de “Melhor Actor Ibérico” no III Festival de Cinema Ibérico, em Espanha. Em 1996 é distinguido pela Câmara Municipal de Setúbal, com a Medalha de Honra da Cidade de Mérito Cultural. Em 27 de Março de 2013, Dia Mundial do Teatro, recebeu uma homenagem pública por parte da Câmara Municipal de Setúbal e do TAS.

O actor Fernando Guerreiro, também já desaparecido, escreveu em Setembro de 2008 um belo poema dedicado a Manel Bola: “Com a boina posta ao lado/A gritar o seu bom dia/Pelas ruas do mercado/A despejar alegria;/Com a bengala na mão/E o seu falar agitado/A termos a sensação/De haver um Golpe de Estado;/Ao vermos o desempenho/Deste seu ar de estarola,/Julgamos pelo desenho/Que é assim o Manel Bola (…)”.

Adeus Manel Bola, ondes estiveres, com certeza que reina o riso e a boa disposição. Vamos ter saudades tuas!