Comunicação social precisa de 40 milhões

O 1.º Encontro dos Profissionais de Comunicação Social da Península de Setúbal e do Litoral Alentejano decorreu na passada semana, na Escola de Hotelaria e Turismo, contando com mais de uma centena de participantes, que debateram o estado actual do sector que atravessa uma grave crise económica e financeira há muitos anos.

Este foi o local ideal para apresentar a situação do sector e para isso contou com a presença do presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, João Palmeiro, uma das pessoas mais conhecedoras da realidade a nível nacional do que se passa com os órgãos de comunicação social regionais. Nesse sentido, alertou para as dificuldades que o sector atravessa, defendendo um “Plano Marshall”, por parte do governo, para o sector. Directo e frontal, João Palmeiro questiona: “como é que o Estado não tem 40 milhões de euros para investir nos órgãos de comunicação social, quando dá, por outro lado, dinheiro aos bancos”.

João Palmeiro defendeu ainda que Portugal devia apostar-se mais na cooperação entre órgãos de comunicação, como acontece noutros países europeus, no que deu o exemplo de Espanha, país onde “os grupos de comunicação regional gozam de boa saúde e até já avançam para a compra de grandes órgãos de comunicação nacionais”. Em Portugal, existem perto de seiscentos órgãos de comunicação locais e regionais e apenas sete grupos de comunicação, paradigma que para João Palmeiro tem de mudar. O cenário no sul do país é quase catastrófico, onde impera o individualismo e projectos de gestão que não aceitam a partilha ou união entre órgãos de comunicação social. Uma situação que se reflecte no distrito de Setúbal, onde, nos últimos anos, desapareceram dezenas de títulos e outros definham, com morte anunciada.

Este encontro, que foi promovido pela Câmara Municipal de Setúbal e o “Diário da Região”, não contou com a presença das rádios locais, facto estranho, já que são uma importante componente, e talvez, as que mais têm sentido a crise mas com um papel importante na difusão das notícias, sobretudo nas zonas rurais, como acontece no litoral alentejano.

O debate sobre os desafios colocados à imprensa regional e local contou com intervenções de Carlos Magno, presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), que já terminou o seu mandato, devendo ser substituído a qualquer instante.

“O jornalismo é uma profissão de futuro”, realçou Carlos Magno, apesar do actual “condicionamento vivido em prol do audiovisual”. Sobre a actividade, vincou que o jornalismo “deve ser feito de pessoas para pessoas e não por autómatos”, vincando que “é preciso regressar ao futuro do jornalismo e à sua génese, ou seja, contar histórias”.

Infelizmente, a ERC não tem sido grande defensora dos órgãos de comunicação social regionais, aplicando taxas anuais de funcionamento, de valor elevado, e preocupando-se mais com problemas burocráticos e aplicação de coimas aos mais pequenos em detrimento de grandes grupos empresariais. Exemplo disso foi a coima ridícula aplicada à TVI por divulgar uma notícia sobre o encerramento do Banif, facto que não se confirmou na altura (só mais tarde) e causou milhões de prejuízos ao Estado e aos accionistas. Em Portugal há desde sempre, a política de proteger os mais fortes, impunes a quase tudo, enquanto os mais fracos acabam por pagar a factura.