O cantor setubalense, João Mendonza, conquistou os 100 jurados, após cantar “Caruso”, no programa do “All Together Now”, transmitido pela TVI. Depois de ter cantado para o Papa Francisco, no Vaticano, e de ter actuado em Estrasburgo, no Conselho Europeu, nos últimos três anos, o cantor deu o seu melhor, conseguindo o aplauso dos cem jurados liderados pela fadista Gisela João. Em entrevista aborda essa experiência e das oportunidades para a sua carreira artística e o sonho de gravar um CD cantado em português.
Florindo Cardoso
Setúbal Mais – Como surgiu a oportunidade de participar no concurso de talentos ““All Together Now”, da TVI?
João Mendonza – Confesso que nunca quis participar neste tipo de programas de televisão porque era algo que não me fascinava e o nosso trabalho artístico tem outras formas de promoção e de alcançar o sucesso pretendido. Sempre considerei muito ingrato a participação nestes programas porque exploram a imagem do artista e depois não ajudam a gerir a carreira e os projectos futuros. Sempre pensei que não me ajudaria a longo prazo. Só que as ideias mudam e o mercado estava tão parado devido à situação da pandemia do covid-19 que considerei ser esta a única forma de promover o meu trabalho nestes tempos complicados para os artistas. E foi isso que aconteceu porque não há outro veículo de promoção de um trabalho artístico, especialmente como o meu. Decidiu então participar. Fui ao casting e gostaram de mim e senti logo uma aceitação grande por parte da produção, tendo em conta que o meu estilo musical não é comum, não passa muito na televisão, mas que muita gente gosta e aprecia.
S.M. – Como foi participar no programa?
J.M. – A participação no programa correu bem. Fui inspirado e consegui uma boa experiência. Foi muito positivo. Consegui os 100 pontos do júri que acontece pouco neste formato a nível mundial. Senti uma felicidade muito grande por alcançar a unanimidade é sempre algo que nos orgulha. Tínhamos todo o tipo de gente no júri, músicos e outros artistas com vários estilos, e conseguir com este estilo de música, que não é tão abrangente, chegar lá, é muito bom.
S.M. – Considera que esta participação pode abrir porta para a sua carreira artística?
J.M. – A televisão dá-nos notoriedade e atenção, temos um tempo de antena onde podemos mostrar o nosso trabalho. Isso foi o mais importante. As pessoas conhecerem o meu nome, a minha marca como artista foram as maiores vantagens que consegui tirar da minha participação. Depois, a nível prático de concertos e performances, não ajudou porque ninguém está a marcar nada devido à pandemia. Acabou por ser um tiro no escuro. Por um lado, é bom porque mostrei a minha imagem e o meu nome, mas ter concertos nos espaços que tanto gosto, não é possível porque as entidades estão com receio de marcar qualquer evento porque isto estão tão instável e difícil de realizar concertos, tornando-se uma logística muito complicada devido às condições impostas pela Direcção Geral da Saúde.
S.M. – Em termos de carreira, vais apostar cantar a solo?
J.M. – Sempre fui um tenor clássico e dramático, com peças de ópera e oratória, música sacra, e dei os meus recitais e sempre cantei sozinho. São concertos com menos músicos e logística e posso explorar esse meu lado que estava agora um pouco apagado e que adoro. É a minha base de estudo e foi aí que me desenvolvi. Os “Passione” são um estilo lírico abrangente e pop. Vou continuar nesse projecto e temos um concerto marcado para Outubro.
S.M. – Gostaria de gravar um CD?
J.M. – Sim. Faz parte dos meus planos. Gostaria de fazer um álbum com música portuguesa e de avançar com um projecto de música sacra, com arias antigas, ir buscar um bocadinho das coisas que estudei quando entrei com 17 anos no Conservatório e desenvolvi, cantando em igrejas e templos, que é algo que me fascina imenso.
Jovem talento de Setúbal
Uma vida dedicada à música
João Mendonza, de 29 anos, natural de Setúbal é músico de profissão. Formado em Comunicação Social, pela Universidade Católica, e em Canto, pelo Conservatório Nacional, João Mendonza dedica-se às cantigas desde os 16 anos e a sua estreia em palco aconteceu no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.
Com apenas 11 anos, fez a sua estreia profissional, na primeira ópera infantil realizada em Portugal, Cinderella. Com 16 anos, apresentou-se nos palcos do CCB, com a ópera barroca, Dido e Eneias, de Henry Purcell, como Príncipe Eneias.
Desde 2015 tem um projecto pop-lírico chamado “Passione” (em conjunto com Carlos Xavier), onde canta os grandes temas do século XX e alguns originais. É o primeiro projecto pop-lírico em Portugal.
Após o seu álbum “Passione” ter sido oferecido ao Papa, em Fátima, em 2017, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o grupo português foi convidado a deslocar-se ao Vaticano, em 2018. Foram recebidos na praça de São Pedro, pelo próprio Papa Francisco. Tiveram a honra de actuar em Roma, sendo os primeiros artistas portugueses em mais de 20 anos, depois de Madredeus, a actuarem na cidade-estado.
No Verão de 2019, viajou até à Índia, com Carlos Xavier. Tocaram na antiga cidade portuguesa de Margão, Goa. Aí entregaram o seu álbum ao líder espiritual budista Dalai Lama e conviveram com a comunidade religiosa tibetana.
Neste momento, devido à pandemia, dá aulas de canto. Neste último ano, abriu um quiosque de rua, estilo bar/café no largo da Ribeira Velha, no centro histórico de Setúbal.