“Uma paixão de décadas e uma viagem com milhares de anos”: Casal de mecenas de Setúbal doa “tesouro” arqueológico a Braga

“Uma paixão de décadas e uma viagem com milhares de anos” é a expressão que melhor define a rara coleção da antiguidade clássica e cronologicamente entre o período grego e romano patente no Museu de Braga.

Florindo Cardoso

A coleção Bühler-Brockhaus – uma doação de Marion e Hans Peter abriu ao público a 22 de outubro, no Museu de Arqueologia de Braga “D. Diogo de Sousa, composta por obras únicas, provenientes na sua maioria, do Mundo Mediterrânico. Um dia antes decorreu uma cerimónia de inauguração que contou com a presença do casal de mecenas, de naturalidade alemã, residente em Setúbal desde 2006, sendo presidida pela secretária de Estado Adjunta e do Património, Ângela Pereira, e do presidente da Câmara Municipal de Braga, entre outras individualidades da região.

Coleção Bühler-Brockhaus no Museu de Arqueologia de Braga

“Uma paixão de décadas e uma viagem com milhares de anos” é a expressão que melhor define esta rara coleção da antiguidade clássica e cronologicamente entre o período grego e romano. São mais de 200 peças que ilustram aspetos de várias culturas, de que se destaca o busto do imperador Augusto, em mármore e datado do final do séc. I a.c., escolhido expressamente para o museu e para Braga, por ter sido o fundador de Bracara Augusta. Destaque ainda para um cálice etrusco que é uma raridade do séc. VII a.c., um mosaico romano do final do séc. III d.c., e um vaso funerário grego produzido em Tarento, na Magna Grécia (sul de Itália)
“Em 2006, a mudança de Munique para Setúbal trouxe novas tarefas, desde logo a instituição de uma fundação com objetivos culturais e sem fins lucrativos. Após 11 anos de intensa colaboração com artistas plásticos e com a Câmara Municipal de Setúbal, a Fundação Buehler-Brockhaus deixou uma profunda marca na cidade do rio azul através da arte pública instalada nas principais rotundas, sendo o maior exemplo a grande escultura dos golfinhos, admirada pelos setubalenses e visitantes”, refere Marion Bühler-Brockhaus, sublinhando que “a constante devoção à arte greco-romana levou-nos a expandir a coleção já existente até tornar-se num conjunto significativo de mais de 200 objetos em 2017”.

“Cresceu o desejo de partilhar e dar conhecimento a outras pessoas desta cultura ‘clássica’ em formas de expressão. Começou a busca para a casa adequada para Artemisa, Atena, Deméter, Hercules ou Hermes de acordo com a dignidade divina destas figuras”, adianta.

“Deveria ser um belo e grande museu de arqueologia, numa cidade importante, possivelmente com uma oficina de restauro, serviço de fotografia, auditório, restaurante, bookshop, serviços educativos para alunos e, acima de tudo, deveria ter a capacidade de fornecer uma grande sala para receber a coleção”, acrescentando que “estamos muito felizes por ter encontrado um museu com uma equipa competente e ativa” e “contentes por ter ajudado a encher o espólio do museu e a restaurar o exterior do edifício”.

De referir que este conjunto de objetos arqueológicos doados poer Hans Peter Bühler e Marion Bühler-Brockhaus, junta-se à coleção original do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, oriunda da região noroeste de Portugal, suscitando um diálogo entre a especificidade de uma expressão cultural regional e o Mundo Clássico do Mediterrâneo.

O museu criado em 1918, reativado em 1980 e só aberto ao público em 2007, desenvolve atividade de apoio à investigação, salvaguarda, valorização e divulgação da arqueologia na região norte de Portugal. A sua coleção inicial, que cronologicamente se estende do Paleolítico à Idade Média, reúne um conjunto de objetos e informações relacionados com sítios arqueológicos estudados e preservados nesta região, entre os quais Bracara Augusta assume um especial relevo.

De referir que o casal de mecenas pagou a montagem da exposição, financiaram obras de requalificação do museu, no valor superior a 400 mil euros.
A história do casal de mecenas remonta a 1959, ano em que se conheceram em Estugarda, partilhando a formação académica e o gosto pela arqueologia, a arte e o património.

A prática de mecenato cultural constitui um legado e uma tradição familiar que desde o séc. XVIII se traduziu de muitas formas, entre as quais a doação de peças arqueológicas e de obras de arte e apoiando também a valorização e divulgação do património.

Cidade mais bonita
Por amor a Setúbal em arte públic
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O casal de mecenas foi também responsável pela doação de várias esculturas embelezando os principais espaços da cidade de Setúbal com arte pública através da Fundação Buehler-Brockhaus, criada em 2008, com fins culturais. Essas doações estão expressas no livro “Por amor a Setúbal”, recentemente publicado.
A Fundação de caráter cultural apoiou a instalação de arte pública através da doação de três esculturas de grandes dimensões – Golfinhos (da autoria de Carlos Andrade), Sardinhas (Luísa Perienes) e Zéfiro (Sérgio Vicente), nas principais rotundas da cidade de Setúbal, outra de homenagem à cantora lírica Luísa Todi, frente à porta principal do Fórum Municipal Luísa Todi (Sérgio Vicente) e ainda quatro no corredor central do Mercado do Livramento, de Augusto Cid.
Em 2011, a Fundação, na sua primeira grande ação mecenática, ofereceu à cidade quatro esculturas, em barro, da autoria de Augusto Cid – “Mulher das Flores e das Frutas”, “Mulher dos Ovos e Galinhas”, “Carregador de Peixe” e “Homem do Talho”, instaladas no corredor central do Mercado do Livramento, um dos ex-líbris de Setúbal e considerado um dos melhores mercados de peixe do mundo. As esculturas são uma homenagem às profissões ligadas ao comércio tradicional e mercados de rua.
Ainda no Mercado do Livramento, em 2014, a Fundação apoiou financeiramente a restauração do magnífico painel de azulejos, que tinha sido destruído durante as obras de requalificação do imóvel devido a uma derrocada da parede onde estava instalado.
Para breve está prevista instalação da escultura “Os amantes”, de Carlos Andrade, na rotunda das Estrelas, na avenida Europa, junto ao Parque Urbano da Várzea, também uma doação de Hans Peter Bühler e Marion Brockhaus.