Projeto “O que vem à rede” valoriza diversidade do pescado de Setúbal

A Câmara Municipal de Setúbal está a promover um programa de valorização da diversidade do pescado, denominado “O que vem à rede”, que apela ao consumo de espécies comercialmente menos valorizadas e pretende reforçar a sustentabilidade do oceano.

Na dimensão ambiental, o projeto, apresentado, a 6 de junho, no auditório do Mercado do Livramento, visa garantir uma pesca sustentável, enquanto na área económica tem por objetivo conseguir a valorização comercial do pescado, na social contribuir para a atividade da comunidade piscatória de Setúbal e na alimentar assegurar uma valorização nutricional.

O programa defende a valorização dos circuitos de pescado de proximidade, a pesca responsável e a aquicultura sustentável, a valorização gastronómica de uma maior diversidade de espécies, para reduzir a pressão nas habitualmente mais consumidas, e do consumo das espécies “da época”, bem como a inovação alimentar, pela utilização de espécies piscícolas pouco consideradas comercialmente.

Com a iniciativa, em parceria com a Docapesca, a Associação de Pesca Artesanal de Setúbal e a Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal (EHTS) e Associação Natureza Portugal/World Wildlife Fund (ANP/WWF), entre outras entidades, a autarquia pretende dinamizar os mercados municipais e promover a venda e a utilização gastronómica de pescado que tem um valor comercial mais baixo, mas que existe em maior quantidade.

Desenvolvido no âmbito da marca “Setúbal Terra de Peixe”, o programa, sem data de fim definida, vai incluir ações de sensibilização junto da restauração, com o objetivo de serem criadas novas sugestões de menus de peixe com base em espécies indicadas como “sustentáveis”, e do público em geral, apelando a um consumo e a escolhas responsáveis para defender a sustentabilidade ambiental.

Cabra vermelha, salongo, ameijola, fataça, corvineta real, charroco, boga do mar, areeiro, congro, carapau negrão, moreia, salema, sargo alcorraz, sargueta, polvo cabeçudo, verdinho, choupa, faneca e sarda são as espécies a considerar nas escolhas de restaurantes e consumidores.

O adjunto do presidente da Câmara Municipal de Setúbal Ricardo Oliveira disse que a autarquia pretende “contribuir para a sustentabilidade dos recursos” piscatórios e indicou esperar uma “adesão significativa” dos setores da restauração e do comércio de peixe, para que também haja benefícios para a comunidade piscatória.

O presidente da Docapesca, Sérgio Faias, afirma que “Setúbal sempre viveu muito ligada aos produtos que vêm do mar e do rio. A nossa primeira ambição é contribuir para a sustentabilidade do setor da pesca”, afirmou, apontando que a sustentabilidade das comunidades piscatórias tem de assentar em três pilares – económico, ambiental e social. “Estes produtos continuam a vir à rede e têm de ser valorizados e consumidos.”

A diretora da Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal, Helena Lucas, salientou que “o peixe faz parte da tradição gastronómica e da cultura setubalense” e que aquele estabelecimento de ensino “faz questão de que os alunos sejam embaixadores da gastronomia da região”, razão pela qual trabalham muito os vinhos e o peixe, procurando tornar algumas espécies “menos nobres mais apelativas ao consumo”.

Rita Sá, da organização não-governamental do ambiente ANP/WWF, recorda que Portugal é o segundo maior consumidor de peixe da Europa, com 61 quilos anuais per capita, contra os 21 da média europeia, salientou que o país importa cerca de 60 por cento do pescado que consome, sendo a sardinha, o carapau, o biqueirão, a cavala e o polvo as espécies mais capturadas nas águas nacionais.