No Fundão, onde as cerejeiras em flor são um prazer para os sentidos nasceu em meados do século XX uma criança que ali cresceu até ao dia em que viu que aquela terra não lhe dava futuro e decidiu, tal como muitos dos seus conterrâneos, aventurar-se por montes e vales e fugir, “a salto”, para terras de França.
Ali, em terras gaulesas, fez vida e foi por lá também que um dia decidiu, como hobby, fazer um curso de artesanato utilizando como matéria-prima o arame.
A determinada altura da sua vida decidiu voltar a terras lusas e, com algum dinheiro que tinha amealhado, montou um restaurante em Caneças, na região saloia.
O negócio não correu de feição e o nosso homem tomou a decisão de vir tentar a sua sorte numa promissora e acolhedora terra: Setúbal.
Aqui, foi o desaparecido Café Brasileira, na Praça de Bocage, que lhe deu emprego, mas o ambiente não era o que mais gostava e, vai daí, passados 13 meses a servir às mesas, despediu-se.
Recorreu então à arte que tinha aprendido, quase como brincadeira, e começou a fazer pequenas bicicletas em arame, que depois de pintadas ficavam verdadeiras obras de arte e ímpares no artesanato nacional.
O Sr. Jacinto começou por utilizar os degraus do pórtico lateral da Igreja de S. Julião e aquele espaço serviu-lhe de montra e de oficina ao longo de 37 anos onde comercializou as suas bicicletas que se as juntássemos ultrapassariam em quantidade as outras que concorrem na Volta a Portugal ou na Volta a França.
Agora com 70 anos de idade a doença não lhe permite já ter a mão firme, pormenor essencial para a artística pintura dos seus trabalhos. Vendeu as últimas peças até dia 18 de agosto deste ano de 2017, o dia em que Setúbal viu desaparecer um dos mais emblemáticos artesãos que escolheu terras sadinas para aqui governar a sua vida.
Rui Canas Gaspar