Luís Buchinho fez ilustrações do livro “Sal”: “Foi um desafio tremendo”

A Fundação Cecília Zino editou “Sal”, uma novela gráfica, da autoria de João Andrade e convidou o estilista setubalense, Luís Buchinho, para fazer as ilustrações. Trata-se de uma história de sobrevivência sobre adolescentes e crianças em risco. Parte das receitas do livro reverterá a favor da construção de uma nova casa de acolhimento da Fundação Cecília Zino, sita no Funchal, Ilha da Madeira. A fundação foi instituída em 1961 para cumprir a vontade de Cecília Rose Zino de criar um hospital pediátrico dedicado às crianças pobres da região que mais tarde foi transformado em casa de acolhimento e outros equipamentos de apoio. Luís Buchinho aceitou o desafio da fundação, voltou a estudar para desempenhar esta tarefa e no final mostra-se satisfeito com o resultado. O estilista salienta que além de ser um livro solidário é também uma ferramenta pedagógica.


Florindo Cardoso

Setúbal Mais – Como surgiu o projeto de realizar as ilustrações gráficas do livro “Sal”?
Luís Buchinho
– O projeto surgiu em março de 2020, no início do primeiro confinamento devido à pandemia do covid-19. Dado ao tempo livre que tive nessa altura, e no “recolher obrigatório “que a moda enfrentou também, comecei a passar uma boa parte dos meus dias a desenhar. Fiz o que chamei um diário ilustrado da nova realidade que todos enfrentamos, e comecei a publicar esses desenhos nas redes sociais. O João Sá Mota, diretor executivo da Fundação Cecília Zino estava na altura a estruturar um plano de atividades ligadas ao meio artístico dinamizadas pela fundação em várias vertentes. Ao ver as minhas publicações, achou que o meu traço seria perfeito para um desses projetos: narrar visualmente as estórias escritas por João Andrade, que tinha um conjunto de textos inspirados na sua atividade enquanto assistente social nas casas de acolhimento temporário onde tinha trabalhado.

Setúbal Mais –Foi difícil este processo já que é uma área nova para si?
Luís Buchinho
– Sim, foi um desafio tremendo. Embora tenha facilidade em desenhar, a minha atividade nesta área estava muito circunscrita à ilustração de moda, mais concretamente, num desenho que representa uma peça de vestuário num corpo feminino. Num romance gráfico, há toda uma narrativa visual muito elaborada e complexa: interação entre personagens, expressões faciais ou corporais, paisagens, objetos, muita utilização de perspetiva… todo um conjunto de situações para mim inéditas. Percebi rapidamente que não possuía ferramentas para as fazer, e tive de voltar a estudar para o conseguir, através de aulas online, presenciais ou tutoriais relacionados com desenho e arte digital.

Setúbal Mais – O livro é de cariz solidário, revertendo as verbas para construção de uma casa de acolhimento. Como é a sua relação com a Fundação Cecília Zino?
Luís Buchinho
– É ótima, estamos juntos neste projeto que queremos que seja um instrumento de informação para desbravar caminhos novos na área. Para além de uma parte da receita da venda do livro reverter diretamente para a construção de uma casa de acolhimento para jovens desfavorecidos, queremos que o livro possa ser uma ferramenta pedagógica tanto para quem o lê e está fora deste meio, ou para quem trabalha diretamente nele. E também, ao ser lido por jovens que possam ou não estar nesta situação de perceberem que as suas estórias são partilhadas por outros, dando-lhes deste modo uma sensação de inclusividade e identificação, o que poderá de certa maneira diminuir a sensação de isolamento e sofrimento.

Setúbal Mais – A mensagem do livro é muito forte e atual. Foi difícil dar vida ao texto de João Andrade?
Luís Buchinho
– Foi. O guião chegou sempre em diálogos entre as personagens, com uma ideia do local onde se estava a passar essa ação. Cada vez que recebia texto, recebia um pontapé no estômago! A sensação era sempre de algo como “e agora como é que eu faço isto?”. Tinha sempre, devido à total inexperiência no tema, receio que não conseguisse ilustrar os sentimentos da prosa.
Setúbal Mais – Quer deixar uma mensagem aos portugueses para comprar este livro?
Luís Buchinho – Quero sugerir aos portugueses que adquiram este livro como presente neste Natal, para que a história de mais jovens como a “Sal” sejam conhecidas, e para divulgar o trabalho de instituições tão importantes como a Fundação Cecília Zino. Ofereçam assim um presente com coração e intenção.