O presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal, Henrique Soares, estima que a quebra da produção de vinho na península de Setúbal será entre os 5 a 10%, mas a qualidade da uva é superior a 2023, beneficiando das condições climatéricas. Henrique Soares manifesta preocupação pela instabilidade os mercados nacional e internacional, mas espera que a região recupere o volume de vendas no segundo semestre. “A região continua a subir o preço médio do vinho e isso foi também um sinal positivo deste primeiro semestre”, confessa o responsável, desconhecendo situações de falta de escoamento das uvas como está a acontecer no Alentejo e no Norte do país.
Florindo Cardoso
Setúbal Mais – Como está a decorrer a época das vindimas na nossa região?
Henrique Soares – Normalmente. Há anos que se adianta um pouco e outros que se atrasam uns dias como foi este ano, mas está a decorrer dentro da normalidade e o tempo está a ajudar. Não há previsões de chuva.
Setúbal Mais – Em relação à quantidade comparativamente a 2023?
Henrique Soares – Antes da vindima começar e quando o Instituto da Vinha e do Vinho reúne as primeiras previsões, no final de julho, indicámos 5% de quebra, em linha com outras regiões. Nesta altura, estamos a corrigir essa previsão e a quebra deverá ser maior, entre os 5 e os 10%, penso que mais para perto dos 10%.
Setúbal Mais – Isso deve-se a que fatores?
Henrique Soares – Deve-se entre a diferença quando se olha para as uvas e quando se começa a vindimar e a recolhê-las, permitindo uma perceção melhor do seu peso e rendimento em mosto. Enfim, todas as circunstâncias próprias das vindimas. É por isso que a frase popular aplicada “até ao lavar dos cestos é vindima”, é sobretudo na vindima que faz todo o sentido. Só terminada a vindima e feitas as contas, é que a gente percebe o que aconteceu em termos de quantidade. Tudo indica que vamos ter uma quebra superior aos 5% como tínhamos previsto.
Setúbal Mais – E a nível da qualidade da uva como está este ano?
Henrique Soares – A qualidade parecer ser francamente boa. O ano acabou por ser climatericamente muito adequado. Tivemos um ano mais chuvoso do que o normal e isso foi bom para recarregar os aquíferos e para diminuir a necessidade de regar e também foi conveniente em termos do risco de doenças, nomeadamente o míldio. Globalmente, a forma como correu este ano, foi positivo e as uvas que chegaram à vindima estão bastante sãs e tudo indica que vamos ter bons vinhos.
Setúbal Mais – Em relação às queixas dos pequenos produtores do Alentejo e do Norte de que conseguem vender as uvas e a entrada de vinho espanhol, o que se passa na nossa região?
Henrique Soares – Pontualmente pode haver um caso ou outro na nossa região, mas não tem os contornos que têm vindo a público nos últimos tempos na imprensa. Felizmente, as duas adegas cooperativas existentes e os grandes comparadores de uva na região, conseguem dar estabilidade e garantias à maior parte dos viticultores que sabem para onde vendem as uvas. Outra questão é o preço da uva. Temos de tentar melhorar a remuneração dos viticultores para continuar a ter uvas com qualidade. É um problema transversal ao país e também acontece na nossa região.
Setúbal Mais – Em maio deste ano manifestou preocupação com a instabilidade dos mercados. Como está a situação dos mercados nacional e internacional?
Henrique Soares – Continua a haver alguma instabilidade, mas apesar de tudo do primeiro para o segundo trimestre deste ano, as coisas melhoraram. Fechamos o primeiro semestre com uma quebra de 5%, menos do que esperávamos, face ao semestre homologo de 2023, que tinha sido bastante bom. Temos boas expectativas quanto ao segundo semestre. O mercado nacional recupera sempre no verão, com o turismo e as feiras de vinhos. Na exportação, temos recuperado alguns mercados relevantes para nós. Temos expetativas de um segundo semestre positivo que nos permita reduzir este défice de faturação na nossa região em relação a 2023.
Setúbal Mais – Em relação ao problema do preço do vinho ser baixo, o problema mantém-se?
Henrique Soares – Apesar das circunstâncias, no mercado nacional, e mal seria se assim não fosse, os produtores de vinho não conseguissem refletir alguma coisa no preço ao consumidor do aumento dos custos de produção e da energia. Nesta crise generalizada e com o aumento dos stocks, muitas vezes, o desespero dos produtores leva a que assim não seja. Felizmente, constatámos, com base num estudo sobre o mercado nacional, a região continua a subir o preço médio do vinho e isso foi também um sinal positivo deste primeiro semestre.