Três semanas após o ato de vandalização do mural “Uma janela para um país livre”, pintado na avenida Manuel Maria Portela, no centro da cidade de Setúbal, a 28 de janeiro e que não chegou a durar 30 horas na parede, foi recuperado por um grupo de pessoas.
Informada do trabalho em curso, a artista palestiniana Azhar Al Majed, autora do desenho que torna agora a assumir a forma de um mural, partilhou com o projeto “Histórias que as Paredes Contam”, no âmbito do qual o mural foi criado, a sua emoção.
“Sinto-me honrada e feliz por este trabalho ter tocado os corações das pessoas e ter motivado esta grande expressão do direito dos palestinianos à sua terra, resumindo uma história de 75 anos de luta”, declarou Azhar Al Majed, residente em Gaza mas atualmente refugiada no Egipto.
A pintura, que decorreu ao longo do dia 18 de fevereiro, contou novamente com a artista e ativista Lala Berekai como principal responsável e foi acompanhada por mais de meia centena de pessoas oriundas de países como a Índia, a Irlanda, os EUA ou o Bangladesh, algumas das quais colaboraram na recriação.
Presentes estiveram também os eurodeputados João Pimenta Lopes, do Grupo da Esquerda no Parlamento Europeu – GUE/NGL, e Francisco Guerreiro, do Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia.
“Tratou-se de recuperar o trabalho que ficara submerso por tinta branca, de revitalizar os seus traços prévios e voltar a preencher-lhes o interior”, disse Helena de Sousa Freitas, coordenadora do projeto, esperando que “a obra seja entendida como aquilo que pretende ser, uma expressão de solidariedade com um povo que sofre e um voto de paz para a região onde este se encontra”.
Este mural resulta de um desafio lançado pelo sociólogo irlandês Bill Rolston, último convidado do ciclo de conversas organizado pelo “Histórias que as Paredes Contam”. Ativamente envolvido na campanha Painting for Palestine, que arrancou em Belfast, Irlanda do Norte, a 14 de janeiro, Bill Rolston estava em Setúbal quando o mural foi vandalizado, anulando um trabalho que tivera o contributo de 25 pessoas e demorara 10 horas a ficar concluído.
“O mural falava do anseio desesperado por paz, justiça e liberdade no meio de um horror indescritível, com cerca de 30 mil pessoas mortas em Gaza, 40% das quais crianças. Não compreendo como é que alguém se pôde sentir ofendido pela sua mensagem”, reagiu então o sociólogo.
Já Helena Freitas lamenta que, “quando o país celebra meio século de democracia, continue a haver quem se mostre tão incapaz de conviver com as diferenças de opinião”.
Por decisão do “Histórias que as Paredes Contam”, a frase “Aqui jaz um mural pela paz” – inscrita ao lado da pintura após o atentado que a visou – ficou parcialmente mantida no local.
“Uma janela para um país livre” foi o segundo mural concretizado no âmbito do projeto, que tem já na rua o “Mulher-Pomba”, criado coletivamente sob a orientação estética do artista plástico e muralista chileno Alejandro “Mono” González, com quem o projeto inaugurou o seu ciclo de conversas públicas.
O “Histórias que as Paredes Contam – 50 anos de Muralismo em Setúbal””, que desde 5 de setembro de 2023 desenvolve, em Setúbal, um conjunto de iniciativas no âmbito do Programa das Comemorações Nacionais dos 50 anos do 25 de Abril, prossegue com a preparação de um álbum de fotos e histórias sobre a prática muralística na cidade, a lançar em abril, tendo ainda prevista a execução de mais três murais e a realização de um documentário sobre o processo criativo inerente às diferentes atividades.
Com chancela do Monte de Letras, o projeto tem por parceiros a Câmara Municipal de Setúbal, através da iniciativa “Venham Mais Vinte e Cincos”, o Instituto Politécnico de Setúbal, a Associação dos Municípios da Região de Setúbal, juntas de freguesia do concelho, a União Setubalense e a Associação Cultural Festroia.