Dina Maria Nunes lança livro “Lavradores e Ceifeiros”



O livro “Lavradores e Ceifeiros entre a Lagoa de Santo André e o Vale do Sado”, de Dina Maria Nunes Calado, foi lançado a 21 de maio, na Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca, em Santiago do Cacém. A obra aborda os movimentos migratórios do arroz e dos trabalhos rurais nos campos do sul que parte da Lagoa de Santo André e acompanha a vida desta gente que não ganha o suficiente na pesca e na agricultura e partem para as mondas e ceifas a procura de trabalho. Fala dos quartéis, do sezonismo, das péssimas condições de vida, dos manajeiros, do que comiam, do que vestiam, de como se divertiam apesar das máscondições que tinham. Segundo a autora, o objetivo é divulgar “a história das nossas gentes”.

Setúbal Mais – Como surgiu a ideia de lançar este livro?
Dina Maria Nunes
– A ideia da edição deste livro não foi minha, nunca sequer procurei fazê-lo. O ano passado fui contactada por Luísa Gomes, do Arquivo Municipal de Santiago do Cacém, que me informou ter sido José Matias, um estudioso dos saberes locais, que também trabalha na Câmara Municipal de Santiago do Cacém, a aconselhar esta edição.

Setúbal Mais – Quais os principais objetivos deste livro e a mensagem que pretende transmitir?
Dina Maria Nunes
– Este trabalho resulta de uma tese de mestrado em Turismo, Ambiente e Identidades Locais, e partiu de duas comunidades que praticamente já não conheci. Por um lado, os lavradores e os ceifeiros de arroz, por outro, os pescadores que desceram dos areais do litoral centro e se instalaram na praia de Santo André. Quando o trabalho aí escasseava, quer na pesca, quer nos trabalhos do arroz, mulheres, jovens e crianças, mas também homens, deixavam as suas terras, as suas casas e acorriam ao Vale do Sado à procura de um suplemento que lhes amenizasse as dificuldades da vida.
Que gente era esta que alugava a força dos seus braços e a saúde das suas vidas? Onde se concentravam? Como viviam e o que comiam? Como festejavam e o que festejavam? Do que adoeciam?
Este trabalho resulta, assim, de uma tentativa de abordagem de uma realidade desaparecida, a dos ranchos migratórios, procurando observar essas “micro-sociedades” em larga medida encerradas sobre si próprias, portadoras de saberes, de códigos de conduta, de formas de organização, que faziam delas como um corpo estranho, agindo e interferindo sobre um território que delas necessitava e delas se aproveitava tão cruelmente.

Setúbal Mais – Pensa que as dificuldades destas gentes da região é praticamente as que vivem nos nossos dias com os trabalhadores estrangeiros nas estufas do litoral alentejano?
Dina Maria Nunes –
Os contextos são naturalmente diferentes, mas sem dúvida que se compararmos as condições de vida e trabalho destas gentes que lutam desesperadamente por uma vida melhor, sofrendo com um sistema que os exclui, os debilita e os força a viver na pobreza, concerteza que sim. As semelhanças são enormes.


Setúbal Mais – Esta é a sua primeira experiência literária? Conte um pouco do seu percurso…
Dina Maria Mendes –
Estudei em Setúbal, na Universidade Moderna, no Curso de Investigação Social Aplicada. Mas foi com a frequência do Mestrado que iniciei investigação nesta área da Antropologia Social, apresentando comunicações nos Encontros de História do Alentejo Litoral, na Revista “História”, na Universidade Nova, onde ingressei no Doutoramento em Antropologia, na especialidade de Movimentos Sociais e Resistência, com tese por entregar.